Uma das minhas frases favoritas da psicologia é "mental breaks avoid mental breaks".
Parar evita que você pare.
Todos nós temos rotinas apertadas por diversas razões pessoais, mas a principal é que estamos em um mundo cada vez mais acelerado. O termo é acelerado mesmo, se no passado era rápido, hoje em dia ele aumenta velocidade a todo o instante.
Mais informações, mais notícias, mais novidades, mais certificações, mais especializações mais, mais mais e mais.
Isso no mundo humano, no mundo das coisas o dia continua com 24h, um ano continua sendo um ano. Nosso tempo é limitado. Tanto pelos dias quanto pelo tempo que temos nessa existência.
Tentar acompanhar um mundo que não para, que cada anda cada vez mais rápido e em mais rotações vai fazer seu motor fundir. Você vai parar, de um jeito ou de outro. É importante saber parar no que te faz bem.
E não é parar para o ócio produtivo ou criativo. É parar pelo simples ato de parar. Parar para ser produtivo gera o efeito paradoxal do "não pense em um elefante rosa". É impossível. Se você parar para ser produtivo, vai ficar o diabinho da produtividade aumentando seu cortisol, monitorando seu nível de atenção, o que tem para fazer, o que poderia ter sido feito, a culpa do descanso, dos que não podem descansar.
É o caldo que alimenta a ansiedade.
No início da pandemia, devido ao home-office, vários pacientes relataram culpa pq tiraram pausas de trabalho no sofá jogando video-game. É o tipo de coisa que não se apropriar do seu bem estar causa.
Atividades produtivas geralmente são demandas que exigem foco, atenção, monitoramento constante, gasto de horas, não permitem que você saia delas, entre outras coisas. Esse é o desenho do estresse.
Tudo isso causa um desgaste enorme no corpo, na mente e provavelmente na sua vida se for feito sem pausas.
O efeito do estresse é tão grande a produtividade cai quanto mais tempo você fica nela. Então se você está tentando resolver um problema a mais de 1hora, é muito provável que você precise parar. A chance de você resolve-lo após esse período já caiu muito, e quanto mais você fica na atividade, mais próxima de zero fica. É uma visão de túnel psicológica. Você coloca, psicologicamente, aqueles oculos de cavalo. Por isso tentamos repetidamente tantas vezes algo que sabemos que está errado quando estamos estressados (tipo procurar a chave 200x no lugar que sabemos que não está)
Atividades de ócio, por sua vez, podem demandar foco de forma dispersa, você não precisa de atenção e monitoramento constante. Você pode fazer pausas, entrar e sair da atividade sem prejuízo.
Essas atividades são extremamente necessárias para o corpo. É quando o corpo assimila as informações que viveu, forma novas conexões com coisas antigas, passa a olhar o todo ao invés de ficar preso no específico, permitem novas ideias (mesmo que ruins, mas melhor do que as ruins que sabemos que não funcionam), diminuem o cortisol, estabilizam hormônios, aumentam neurotransmissores "bons" e mais um monte de coisas interessantes.
É importante saber parar. É importante saber fazer pausas longas. Especialmente em atividades que demandam pouco de você.
O que é pouco? Varia. Para um ciclista treinado pode ser um treino pesado, para ele é simples e pouco. Se você estiver começando pode ser uma pedalada descompromissada.
30 a 40 minutos é o mínimo. E mais que 1h30min já é uma outra atividade (que pode pode ou não ser benéfica)
As mais comuns são: atividades esportivas, caminhadas, meditação, leitura leve, ouvir música, desenhar, pintar, hobbies que você já tenha, caça-palavras/sudoku/afins, cochilar (cochilo são uma coisa divina).
Qualquer coisa que seja simples, que você possa abandonar sem prejuízo, e que não seja mais um estresse.
Tiktok, instagram, facebook, tinder e youtube (o conceito, não a coisa em si) não são pausas. Eles são desenhados para funcionarem nas armadilhas do foco e atenção. Eles te inundam de informações curtas e digeriveis justamente para manterem o ciclo do estresse rodando. Por isso somos capazes de nos perder por horas neles e nem reparar. São os óculos do cavalo.
Inclusive, eles predam na dificuldade em parar. Como não paramos, mesmo precisando, ficamos vulneráveis a esse tipo de sistema. Sim eles são horríveis por serem desenhados para isso, mas também temos nosso pé de responsabilidade por não cuidarmos de nós mesmos.