A saúde trabalha com perspectiva de fatores de risco e proteção. São condições, situações, eventos que ocorrem durante toda a sua vida. Não há um momento específico em que o risco ou a proteção sejam completas. Eles existem e variam durante toda a sua existência. 

Fatores de RISCO são os que afetam a vida das pessoas de forma que:
Diminua a expectativa de vida em relação ao lugar, diminua a possibilidade de manutenção e desenvolvimento do que é esperado a cada estágio da vida, aumente a possibilidade de eventos traumáticos, ou seja, mudanças, eventos ou abruptas na vida as pessoas. Entre outras dezenas de indicadores.

Fatores de PROTEÇÃO são os que afetam a vida das pessoas de forma que: Aumente a expectativa de vida, aumente a possibilidade de manutenção e desenvolvimento do que é esperado, diminua os efeitos do de eventos traumáticos. Entre outras dezenas de indicadores.

Então, beber, ser agressivo, ter apanhado na infância, ser reativo, trabalhar mais que 55h por semana, não dormir, usar drogas, dirigir em alta velocidade, não ter amigos, não ter relações de intimidade, desemprego, não ter primeiro grau, não ter segunda grau, não ter faculdade, sedentarismo, má alimentação entre outros milhares de comportamentos são tidos como fatores de risco.

 Algum deles é aaaaaaaaaagarantia de que você vá morrer amanhã? depois de amanhã? daqui à 10 anos?

Não. Esses dados de saúdes são produzidos estatisticamente e nunca podemos fazer a redução da população para o indivíduo a partir de dados estatísticos.

O que dá para saber é que se você precisa tirar o número 1 em um dado de 6 faces, e rolar ele uma vez, a chance é 1 em 6 de conseguir o número. Se você rolar ele 1 milhão de vezes, a chance é 99.99...% de você conseguir tirar pelo menos uma vez o número 1.

Isso quer dizer, que quanto mais fatores de risco você faz (joga um número maior de dados numa jogada só) e por mais tempo (joga os dados mais vezes), mais você está aumentando as chances dos RISCOS medidos pelo fator de risco em questão.

Então quanto mais você se expõe a risco, mais provável se torna a chance do mal acontecer.

Se uma pessoa passa 20 anos bebendo, fumando, usando drogas e brigando na rua e dirigindo bêbado para casa. Eu posso não saber exatamente como ela vai morrer, mas se alguém tivesse que apostar nisso, não seria a aposta de morrer aos 90 anos na própria cama ao lado da família na mansão em Mônaco.

É provável que a pessoa morra de: Cirrose, câncer de pulmão, enfisema, batendo o carro, violência urbana, overdose etc desamparada e sozinha em condições bem ruins de saúde na rua ou no sus.

Ela pode morrer com o amor da família em Mônaco na mansão em Mônaco? Pode, mas ninguém razoável teria expectativa disso.
Em termos de saúde, como trabalhamos na perspectiva profilática, como se o risco fosse real - ninguém espera a pessoa ficar diabética para sugerir mudanças, nós trabalhamos para evitar que ela fique assumindo que ela vai ficar - eu posso afirmar que ela vai morrer nessas condições. Por mais que seja um erro estatístico.

O mesmo serve para fatores de proteção, quanto mais a gente exerce, mais próximo dos indicadores "positivos" de saúde a gente se aproxima, ou aumenta a chance de acontecer.

 
Foda-se, e o dinheiro trazer ou não felicidade, Paulo?

1. Dinheiro não faz nada. Dinheiro é um pedaço de papel. As propriedades do dinheiro vem da possibilidade de trocas e acessos às outras necessidades que ele facilita.

2. Dinheiro não tem virtude, ele aceita acesso a fatores de risco ou proteção. O dinheiro que paga a academia é o mesmo que paga o Ifood, pelo álcool, pela droga.

Então, ele pode facilitar igualmente fatores de proteção ou de risco.

Pobreza e miséria são um fatores de risco absurdo. A todo e qualquer momento, em qualquer estágio da vida, miséria é das coisas mais terríveis que podem ser vividas.

Se "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente", a miséria já é um caminho de acabar e corromper as estruturas de pessoas sem ser absoluta. Na minha visão, como a miséria corrompe estruturas importantes, ela tende a ser sempre absoluta.

E sim, como dinheiro possibilita trocas das necessidades básicas que fazem falta a quem está em miséria, dinheiro é fator protetivo.

Então, dinheiro traz felicidade, Paulo?

 Não, dinheiro PODE (lembra dos dados, não é certeza) mitigar fatores de risco.

Dinheiro só é definitivo como fator de proteção em situações de POBREZA E MISÉRIA. 

Até pq em situações de miséria qualquer melhora é significativa, não é só dinheiro. Ter roupas, casacos etc também são fatores protetivos gigantes em situação de miséria. Muito mais do que o dinheiro, inclusive.

É por isso que nesses casos as políticas públicas são de entregar. Em todos os outros casos, existem dezenas de outros fatores de proteção além de dinheiro e mais efetivos que dinheiro.

Exemplo de situações de risco e proteção em contextos sONciais amplos para jovens:



Esquerda: Fator de risco; Meio: Contexto; Direita; Fator de proteção. fonte: Risk and Protective Factors for Youth | Youth.gov (as cores apresentam o risco de desenvolvimento de tipos de adoecimento mental, se quiserem ver mais tá no link).

 Ainda que POBREZA seja um fator de risco, nenhum dos fatores de proteção envolvem entregar dinheiro para o adolescente.
Não que isso não possa ser feito, como é feito no bolsa família em relação a permanência na escola e pré-natal e vacinação de grávidas. (respostas que discutirem o bolsa família serão excluídas, isso é só um exemplo).

Nesse caso o dinheiro é usado para diminuir riscos da criança sair do engajamento escolar.

Outros fatores sONciais de proteção.

Engajamento escolar: é fator protetivo de longo prazo;
Estabilidade de renda para a família: é fator protetivo de longo prazo;
Trabalhos estáveis são fatores protetivos de longo prazo;
Estabilidade de comida: é fator protetivo de longo prazo;
Estabilidade de moradia: é fator protetivo de longo prazo;
Segurança de moradia: é fator protetivo de longo prazo

 E dinheiro facilita todas essas coisas, mas não é aaaaaaaaaagarantia de nenhuma delas. Nem é o dinheiro que gera os benefícios reais dessas coisas.

Em algumas situações a distribuição de dinheiro é fator de risco, pois não existe possibilidade real de engajamento nos fatores de proteção. (Eu não vou me estender sobre isso pq é uma discussão que traz o pior das pessoas, se aparecer maluquice nas respostas eu vou apagar.)

Não é uma propriedade do dinheiro fornecer nenhuma dessas qualidades. Isso são coisas humanas. O maior fator de proteção possível é ser um humano decente em qualquer situação.

Como está no quadro, é o tipo de relação que você constrói.

Se você trabalha mal, não come direito, não constrói uma casa boa para si não tem dinheiro que resolva. Dinheiro pode facilitar, mas as coisas realmente importantes no longo prazo são sobre como você se posiciona sobre sua vida e a sua saúde.




Mesmo gráfico mas sobre os aspectos individuais.

Olhem como para dezenas de fatores de risco, existem 6 fatores de proteção.  Nenhum deles é dinheiro. Todos dinheiro ajuda, mas nenhum deles é relativo a dinheiro. Alguns dos fatores de risco podem ser agravados por dinheiro, nesses casos, dinheiro é fator de risco.
 



Sobre criação de filhos: Basicamente, seja uma pessoa consistente, boa e presente, tenha boas relações e estáveis com os outros cuidadores atendendo as necessidades da criança. E, acabou, isso é fator de proteção para toda essa lista.

Inclusive, em situações de pobreza e miséria o importante é desenvolver todas essas coisas juntamente com o dinheiro. Por isso o bolsa família é uma renda condicional ao acesso à saúde e educação. Para promover o que de fato importa. Dinheiro ajuda, mas não é dinheiro.

Sim, pobreza e miséria são fatores de risco, e se proteger de risco é importante, inclusive é boa parte do que tentamos fazer aqui em todos os aspectos do site.

Dinheiro não é fator protetivo absoluto, seu uso do dinheiro dá acesso à fatores de risco e proteção, dinheiro não tem relação direta com sucesso, felicidade ou qualquer outra coisa no longo prazo.

Dinheiro é ferramenta. Um bisturi pode salvar uma vida ou pode matar uma pessoa. O que você faz com ele é o que traz ou deixa de trazer felicidade na sua vida.

Cuide da sua vida, evitando os riscos e desenvolvendo fatores de proteção, inclusive na parte financeira. Mas não é a parte financeira que vai trazer proteção, nem felicidade, nem nada para ninguém.