Há uma semana, estava atrasado para uma reunião devido a outros compromissos e precisava me deslocar de carro para o outro lado da cidade.
Peguei todos as sinaleiras (é assim que os sulistas chamam) fechadas.
Primeiro pensei: logo hoje, logo agora?
E então, aproveitando os 60 intermináveis segundos, comecei a refletir sobre estes pensamentos que temos quando o mundo parece estar contra nós.
Quantas vezes eu passei nas mesmas avenidas, mesmas esquinas e peguei o sinal aberto? Quantas vezes, na rodovia, cheguei em um trecho em manutenção em que a placa de "Pare- homens trabalhando" estava virando para "Siga"? Quantas vezes isso ocorreu e o cérebro não teve a sensação de sorte ou satisfação?
Somos criados pensando que o universo está conspirando a favor ou contra, e ele nunca está. Ele simplesmente está acontecendo, dia após dia como deveria estar.
Recordo de um filme que, após uma grande tragédia em sua vida, o personagem principal fica um mês trancado em casa e deprimido. Até que ele resolve resgatar sua rotina pré tragédia. Acorda cedo, passa o café, dá comida ao cachorro e vai lá fora olhar o tempo.
O entregador de jornal passava nesse momento, a vizinha estava saindo para trabalhar, o pessoal da casa a frente colocava as crianças no carro para levar a escola. A vida não acabou, o mundo continua. O simples fato de enxergar os acontecimentos corriqueiros da rua animam e tranquilizam o personagem - o tempo não para por ter acontecido fato A ou B. Nós somos e nos formados à maneira que reagimos ao que acontece - e isso cabe a si. Como na química, as moléculas tendem à "organização", e cada um pode fazer isso, adaptar-se, aprimorar a reação e estar preparado para o amanhã.
O medo de perder é mais forte que o prazer de ganhar. Várias pequenas conquistas são ofuscadas pelo nosso cérebro, que acaba dando relevância aos problemas e o que acontece de errado.Temos medo de perder e de errar, proporcionalmente maior do que a comoção com a vitória; às vezes deixamos de jogar e de escolher. Mas deixar de escolher é uma escolha.
Chegar aonde cada está foi desencadeado por uma série de escolhas, preparação e realizações. O sucesso não está a quilômetros de distância, vivenciamos-o em diversos momentos e não percebemos. Passamos por coincidências positivas e não tivemos a sensação de prazer, mas ao parar e pensar isso ficará evidente. É possível desenvolver controle para trabalhar com o que sai da linha, não é injustiça, é a nossa visão.
Cheguei 12 minutos atrasado para reunião. Foi tudo bem, o mundo não acabou.
Na volta passei pelo mesmo caminho, e as sinaleiras continuam sendo sinaleiras. Enquanto uns carros estão freando, outros estão acelerando.