A vida é uma coletânea de jogos.
Não é uma metáfora nova, eu nem lembro quando foi a primeira vez que ouvi ela.
É possível encarar a vida como um conjunto de jogos. De fato, muitas pessoas fazem isso mesmo sem saber.
Todos da Bastter.com estão querendo saber qual o jogo do mercado. Quais as regras que devemos jogar. Aqui as regras são, basicamente, Lucro, tempo de mercado e não vender.
Todas as vezes que lemos um livro de auto ajuda, de um estatístico famoso, um filósofo inovador, na busca de hábitos, um vídeo no Youtube sobre algum assunto estamos procurando as regras desconhecidas desse jogo da vida.
Como produzir mais, como ganhar mais, como ter uma segunda renda, como melhorar o relacionamento, como fazer apresentações, como se portar em reuniões de trabalho, como fazer vendas, como melhorar a corrida.
Queremos jogar. Queremos melhorar o desempenho. Queremos ganhar o jogo.
Queremos saber quais regras devemos seguir para ganhar o jogo.
Passamos a vida entrando e saindo desses jogos. Muitas vezes sem saber. Por isso olhamos para nossos dias no segundo grau e na faculdade e não entendemos o que fazíamos.
Como deixamos as oportunidades passarem, se tivesse feito isso ou aquilo, tudo seria melhor.
Poderia ter falado mais, saído menos, saído mais, estudado mais, estudado menos de outra matéria.
Fora do jogo, e, principalmente, depois que já terminamos, percebemos como estávamos perdidos em regras que não faziam sentido.
Eu não sei contar quantas guerras de relacionamentos que perduraram por semanas, meses, algumas vezes anos e perderam sentido quando um dos dois foi vitorioso.
(Em relacionamentos, geralmente, quando um ganha os dois perdem).
Quanta briga por louça e no final só sobrou a louça para lavar.
Quanta briga com filhos, e depois de anos são apenas pessoas que convivem, mas não são uma família.
Tudo por conta de regras estranhas de jogos estranhos. Se eu cozinho, o outro lava a louça. Se eu fui na casa dos pais do outro, agora me deve um favor.
Se as crianças não acordam, eu tenho que brigar com elas.
Se não fazem o dever de casa, merecem castigo.
Como dito anteriormente, não é apenas em relacionamentos.
Se a ação cair e eu tiver prejuízo, eu errei.
Se eu não beber até cair, não sou homem.
Se a casa não estiver arrumada, está tudo errado.
Se me fecharem no trânsito, preciso buzinar.
E assim seguimos, seguindo regras de jogos que nem sabemos mais que estamos jogando. Pois, essas são as regras do jogo.
Vivendo eternamente na quinta hora de uma reunião de sexta-feira. Ninguém sabe mais o que o que está fazendo, o que está sendo discutido, nem qual a relevância daquilo para o trabalho. No final das contas, todo mundo quer achar uma forma de ir embora.
(o ganho de um é o fim de todos, lembra?)
Mas todos devem ficar ali fazendo anotações, balançando a cabeça, fazendo um ou outro comentário.
Em situações como essa, muitas vezes percebemos as regras erradas e não podemos agir. Pelo menos não no momento.
Isso não significa que não podemos agir em momento nenhum.
Os jogos existem - pelo menos nessa metáfora - e somos obrigados a jogá-los.
Não tem como não estar jogando algum jogo, e alguns deles somos obrigados a jogar.
Algumas pessoas odeiam essa metáfora porque não gostam da ideia de controle e manipulação. Preferem acreditar que são absolutamente livres e que tomam todas as decisões em plena consciência e razão de suas ações.
Bom, toda a literatura psicológica diz o contrário…
Mas mesmo assim, proponho uma trégua, que talvez permita que você considere essa alegoria.
Você pode escolher o jogo. A qualquer momento, você pode escolher quais jogos quer jogar. Na maioria das vezes você pode escolher um novo jogo e uma nova regra.
A imposição de regras de jogo não exige uma postura literal sobre o mundo, nem uma percepção absoluta de si, nem um ataque ao ego que tentamos proteger a qualquer custo.
Quando vamos para a cadeira do banco imobiliário não somos obrigados a agir como prisioneiros, a trocar nossas roupas e ficar no canto da sala.
Enquanto estamos naquela regra de jogo, escolhemos jogos de amizade, de piadas, de bem estar. Pedimos para outra pessoa jogar o dado enquanto fazemos comida ou pegamos água.
Ou, podemos ficar extremamente chateados por que perdemos oportunidades e ficamos para trás. Acabamos agindo como prisioneiros.
A regra de 3 rodadas na cadeia não determina o que você faz enquanto está naquele canto do tabuleiro.
Quando alguém escolhe agir como prisioneiro das regras começam as famosas brigas por perder um jogo que só um pode ganhar. É a regra do jogo.
Por tentar ganhar a qualquer custo, limitado às regras determinadas e impressas em um pedaço de papel por pessoas que você nunca viu, todos perdem.
Diferente de um pai que sofre um gol de um filho propositalmente, escolhendo jogar paternidade ao invés de jogar futebol.
O filho está brincando de futebol, o pai está sendo pai. Existem dois ou mais jogos acontecendo juntos. Eles cooperam, cada um no seu jogo, e os dois ganham. O pai não perdeu o jogo de futebol, você não pode perder em um jogo que não está jogando.
Na vida de jogos, é importante saber quais jogos você está jogando, quais regras você quer compactuar e que tipo de jogo está jogando.
Jogos absolutos de tudo ou nada - tipo War e banco imobiliário - acabam em briga pela natureza das regras. Em um jogo de 5 pessoas, você vai perder a maioria das vezes. Talvez escolher ganhar, e depositar a sua energia nesse sentido seja um caminho ruim. A grande maioria das vezes você vai perder. Não tem como ter sucesso nessa empreitada.
E assim funcionam vários jogos na vida:
Quem limita seu trabalho a tarefa do trabalho, acaba frustrado, sozinho e sem perspectiva no trabalho, e confuso sobre seu próprio valor.
Quem limita sua vida à regra de sucesso profissional, quase sempre termina se questionando sobre o valor da vida.
Quem limita o casamento à rigidez de regras, escolhe obediência em detrimento da relação e do desenvolvimento das pessoas da relação.
Quem limita os funcionários a seguir ordens, gera equipes disfuncionais, adoecidas e pouco criativas.
Tudo ou nada, geralmente acaba em nada. Para você ganhar nesses jogos, todos os outros devem perder.
E mesmo que você ganhe… Parabéns! Você é o campeão mundial do bairro em War… E para ganhar no War, de fato entrou em guerra com o mundo.
Você pode escolher outros jogos mesmo jogando War:
A companhia das pessoas;
As piadas;
As risadas;
O companheirismo;
O bem-estar;
Todos esses jogos, e muitos outros estão disponíveis a quase qualquer tempo. Existem diversas pessoas no mundo jogando esses jogos agora. Em quase qualquer lugar, se eu começar a jogar “gentileza”, aparecem outros jogadores.
Os jogos cooperativos. Um jogo que ou todos ganham ou todos perdem.
Ou jogos de jornada/sandbox. Que o fim não interessa muito, de preferência não tem fim. Jogos que são sobre permanecer no jogo.
Frescobol é meu jogo metafórico favorito. Não tem pontos, não tem fim. A única regra é manter a bola de um lado para o outro o máximo de tempo possível.
Estressar o jogo do frescobol é uma escolha dos participantes, quando querem, porque querem, como querem.
Não que a natureza do jogo determine o resultado. Muitas pessoas jogam o jogo da raiva cooperativamente.
Basta citar o nome de algum político e aparecem algumas dezenas de pessoas para jogar.
Talvez jogos cooperativos não sejam os melhores para resultados imediatos.
Jogos de tudo ou nada são bons para situações de crise. Na crise a possibilidade do nada torna-se material, então pode-se justificar.
É importante entender os jogos, suas regras e seus fins.
Você pode escolher o jogo e as regras.
De fato, é importante que você escolha qual jogo quer jogar, pois eles estão sendo jogados de um jeito ou de outro. Sem escolher, pode acabar em jogos que possuem regras e fins que te levam para caminhos diferentes do que você busca.