Seu nome era Chilli...não fui eu que te dei esse nome. Vc simplesmente já chegou Chilli em minha vida, porque vc, a princípio, foi um presente que deram às minhas netas quando nasceu e elas, jovenzinhas que eram, não tinham muita paciência para cuidar de vc, te levar para cheirar todos os postes do quarteirão e gastar toda energia que tinha. Aí vc, muito esperto que era, percebeu um casal de meia idade (hoje, terceira) que era parente dessas duas que não tinham tempo para vc e foi se achegando de mansinho e quando ia na nossa casa não queria mais ir embora. Acredito que pensava, “opa quero ficar aqui, pois acho que esses dois tem mais tempo e paciência de cuidar de mim”. E foi assim que vc foi “adotado” por nós.
Eu não queria um cão, pois já antecipava que não queria sofrer o que estou sofrendo hoje com sua partida. Puro egoísmo de minha parte, pois sei que a dor que sinto hoje, será depois compensada pelas boas lembranças de nossos 15 anos de convivência.
Estou escrevendo nesse site, para aliviar a dor e por saber que por aqui o pessoal adora a sua espécie, então não vou contar todas suas peripécias, senão teria que escrever um livro, mas somente algumas passagens para que os leitores saibam um pouco mais de vc.
Sua raça era lhasa. Dizem que sua origem era lá do Tibet. Acredito sim, pois vc era extremamente calmo como um monge budista e dormia muito, mas muito mesmo. Só acordava quando percebia alguém entrando em casa, quando era sua hora de dar a volta no quarteirão ou se sentia o cheiro de comida. Aí já se preparava para ficar pulando em nossa perna na hora da refeição, pedindo um teco daquela comida. A patroa ficava muito brava comigo, pois eu não resistia às suas investidas pidonas e sempre lhe dava uns tecos da comida. Ela dizia “o veterinário falou para não dar isso a ele, pois pode abreviar a vida dele”. Eu respondia, “ok, pode abreviar, porém vai morrer feliz!”
Outra coisa que nunca vou esquecer era do seu ritual para fazer o número dois na rua. Nenhum cão que conheci tinha um ritual tão elaborado quanto o seu. Vc ficava escolhendo o local e dava umas dez idas e vindas entre o meio fio e a sarjeta, andando capenga para lá e para cá. Depois de escolhido o ponto dava umas 5/6 piruetas para agachar na posição do “agora vai”. Dizem até que tem um estudo científico que afirma que os cães procuram um determinado ponto magnético da terra e viram o traseiro para ele na hora de descarregar. Não sei se é verdade, mas por todo esse ritual que vc praticava, comecei a acreditar nessa história.....
Para finalizar, só vou contar a história do dia que o pateta aqui inventou de te levar numa pescaria. Tinha um monte de quiosques e os pescadores estavam usando salsicha como isca para pegar os pintados. Foi só uma distração minha, e vc foi visitando todos os quiosques e comeu as iscas. Fomos expulsos da pesca e imagino que vc ficou sem entender nada, pois afinal salsicha é um excelente petisco para cão e não isca para peixe.