Perder o medo após sofrer violência
comentada em 25/07/2022 09:37

Pesquisa sobre terapia cognitivo comportamental

Terapia Cognitivo Comportamental pode te ajudar.
Procure um psicologo na área.
o @Paulo poderia falar um pouco sobre isso.

Vou contar algo que já me aconteceu e talvez ajude a pensar a respeito. 

Uma vez, numa época em que estava bastante abalado por uma perda na família, estava em uma estação de metrô que começou a encher demais e senti um mal-estar muito forte, não sei se era pânico.
Aí então passei a ter medo de aglomeração. 
Pra tentar superar, resolvi ir a lugares que eu conhecia bem e cujas aglomerações eu tinha um pouco mais de confiança de que não me fariam mal. Fui a vários shows e espetáculos grandes. 
No início, o medo permanecia mas não me impedia. Com o tempo, foi sendo diluído.

Talvez valha a pena procurar caminhos para o trabalho em que se sinta mais seguro (mesmo que sejam mais longos), tentar convidar alguém pra ir junto, buscar horários e vias mais movimentados...

No mais, terapia sempre ajuda com essas e outras barras pesadas que inevitavelmente passamos.

Força aí. 

Bom dia, querido.

Sinto muito que isso tenha acontecido contigo. Violência urbana é uma parada muito foda de se viver e tem efeitos. Não é se molhar de chuva.
O que eu consigo te ajudar por aqui é te dando algumas perspectivas que talvez te ajudem a pensar/viver o que aconteceu contigo.
1. Um dia de cada vez.

Não existe nenhuma necessidade de você tomar uma decisão definitiva. Você não precisa tomar nenhuma decisão de longo prazo sobre isso.

Pode não ir de bike hoje, e pensar sobre isso só amanhã. Ou decidir não ir de bike essa semana e só pensar na semana que vem.

Pode decidir ir hoje, não ir amanhã, ir hoje e deixar a bike no trampo e voltar de uber.
Assim você consegue cuidar da sua vida, que é o mais importante, mesmo que esteja com medo. 

O foco nessa hora não é resolver o medo, é voltar para as coisas normais da vida que não envolvem o medo sem se preocupar com ele.
Também não há nenhuma necessidade de decidir que hoje é o dia que não vou mais sentir medo.
 
pq...
2. O medo é seu amigo.
Ele é um amigo meio chato, mas é seu amigo.

O medo é uma resposta absolutamente racional a um evento desse tipo.

Como eu disse anteriormente, não é igual se molhar na chuva.

O seu "amigo medo" está te dizendo que uma coisa ruim aconteceu, e aconteceu, e está tentando te proteger de acontecer de novo.
As pessoas não gostam de sentir medo/ansiedade - que são primos - mas sem eles você morre atropelado pq não olhou para os dois lados da rua.
O medo só está preocupado contigo, talvez de uma forma exagerada, e tentando te manter atento sobre o que está acontecendo em volta de você.
Não tem pq brigar com ele, ele tá meio que fazendo um papel de mãe de super proteger.

Não brigue com sua mãe, não brigue com o medo.
Brigar com o medo geralmente causa mais estresse numa situação que já está estressada.
3. Sem ideias piradas.

Nada de andar com faca/arma por aí.

A reação razoável em furtos/assaltos é sair da situação o mais rápido possível, entrega tudo e some.

Tentar controlar violência com aumentando o grau de violência é um barril de pólvora.
Não resolve o medo, só esconde ele atrás da raiva numa ilusão de controle e abre a porta para situações trágicas.
Infelizmente não temos controle de tudo na vida. Infelizmente coisas ruins acontecem. Infelizmente coisas ruins acontecem apesar de todos os nossos esforços para viver bem.
4.Nossa segurança está no que nos faz seguro.

Se está difícil para cuidar de você, fica perto de quem te ama e quem ajuda você a cuidar de você.

Familiares, amigos, profissionais de saúde, religião, grupos de hobbies etc.
É a reserva de emergência da vida, essa estrutura é o que segura a gente quando coisas fora do nosso controle acontecem.

5. Tente manter sua  rotina geral.

O maior risco dessas situações não é parar de andar de bike, é entrar numa espiral pirada e começar a viver em função do medo.

Tanto pelo caminho da raiva, ficando pirado andando com faca para cima e para baixo, ou abrindo mão de tudo.
As duas coisas são iguais uma ilusão de controle dos eventos incontroláveis.
Tente manter sua vida mais ou menos organizada como era antes.

Se você vivia com tranquilidade antes é pq sua vida era tranquila, e provavelmente ainda é.
Parar de andar de bike, se fosse só isso, não é o fim do mundo, se for só isso. Não existe um imperativo de mundo que obriga as pessoas a andar de bicicleta.

O problema é se o trauma da violência urbana começar a dominar os outros aspectos da sua vida.
Então, fica perto da parte boa da vida. Se a vida era boa antes, ela ainda é boa hoje, apesar de ser difícil de perceber isso.
Por isso que eu insisto tanto aqui na bastter.com no caminho do bem, em aprender a focar nas coisas boas, em aprender a agradecer e tomar poder da parte boa da vida.

Quando coisas como as que você viveu acontecem é super importante saber fazer isso.
Saber buscar ativamente o bem é a maior fonte de proteção para esses momentos, saber valorizar a vida e se dedicar a parte boa é um hábito que protege demais quando as coisas ficam difíceis.
Fica na parte boa da sua vida, na parte que não foi afetada por esse evento. Permita-se viver as coisas que não tem relação com isso com alguma tranquilidade.
Se você entrar na espiral de definir tudo na sua vida por esse evento: 1) vai ter chance de aprofundar o sofrimento, 2) de precisar de ajuda psicológica.
 

6. A maioria das coisas passa com o tempo.
Especialmente nas primeiras semanas é esperado que isso tome um tempo psicológico grande. Que você pense muito sobre isso, que se lembre, que sinta-se mal. Que tenha dificuldade para dormir, alguma ansiedade, dificuldade de foco, irritabilidade, etc.
O evento é traumático.
É esperado que com o tempo isso vá diminuindo, que em 15 dias já seja uma coisa bem menos intensa, e que em 1mês seja só uma memória desagradável, e 2 meses uma memória eventual como qualquer outra.
É completamente razoável você estar se sentindo mal, e a expectativa geral é que isso permaneça por um tempinho.

Não precisa brigar com o medo ou com o mal estar.
é importante reconhecer que está nessa situação para conseguir pedir ajuda, sinalizar para as pessoas o que está acontecendo com você e buscar saídas adequadas.
Lembre-se: Para, respira, pensa e decide. O evento traumático já passou. Agora é só o cheiro do tigre, não tem mais tigre na sala.
Não precisa agir como se o tigre estivesse na sala. É só o seu amigo medo tentando te proteger. De uma forma meio chata, concordo, mas é seu amigo.
O foco é em saber se a coisas está melhorando, ou ficando "menos pior". Ambos são bons.
O tempo é o senhor de todas as coisas, e essa é uma situação que precisa do tempo. Não dá para ter urgência em uma situação assim. Precisa buscar paz para deixar o tempo agir.
Se estiver muito difícil de achar paz, mesmo com as pessoas que te ajudam e nas coisas que te ajudam, procure ajuda profissional.
Espero que tu encontre um caminho de paz.

Espero que as coisas se ajeitem para ti.

Fica perto de quem ajuda você a cuidar de si.
Qualquer coisa grita aqui no fórum que sempre tem um cachorro maluco para te apoiar.
Abraços.

@gustavo @bastter

Por favor, põe esse tópico em porto seguro pq isso não é assunto para conversa maluca.

q resposta do @Paulo
li todinha
quando eu falo q eu to fazendo terapia com ele nao to brincando

Como o @Portnoy falou, você não precisa abrir mão da bike como um todo.

Você pode continuar usando ela na sua zona de conforto até o medo voltar a falar com você de uma forma razoável.
Pode continuar andando nos lugares que sente-se seguro e ir procurando uma caminho seu até as coisas melhorarem.
Particularmente, eu não faria isso no sentido de intervenção/mudança nos primeiros 15 dias.
Eu passaria o inicio do processo reestabelecendo vínculos de segurança e conforto.

São desse vínculos que aparece a energia para enfrentar as coisas difíceis.
Se as coisas estiverem difíceis foca em ficar bem onde está fácil ficar bem. Não tem essa de ser o pica das galáxias que vai para o meio da guerra de peito aberto.
Ninguém sente medo do leão no zoológico pq ele ta preso na jaula. Você não vem ninguém pulando dentro da jaula do leão, nem acharia razoável se alguém te pedisse isso.
Depende muito de como você está vivendo a situação e isso eu não tenho como saber, nem o fórum é um lugar adequado para isso.
 

Isso não é indicação de tratamento, só estou tentando explicar o racional por trás do que o portnoy falou.

Jumentinho, primeiramente sinto muito sobre o que aconteceu.

Acredito que muito desse medo que você está sentindo seja justificado porque fazem apenas 3 semanas do assalto. Caso este sintoma persista, ou se torne incapacitante (a ponto de perder a noite de sono, ou impedir que saia de casa), é preciso procurar um especialista, pois pode ser que você esteja desenvolvendo uma doença chamada Transtorno do Stress Pós Traumático (muito comum entre veteranos de guerra que passaram por situações igualmente estressantes).

Para esse tipo de transtorno, o tratamento geralmente inicia-se com psicoterapia e posteriormente, se refratário, com medicações.

Espero ter ajudado.

Que vc fique bem, amigo. Situação mto difícil mesmo e totalmente entendível.

Tempo é necessário agora.

Hoje entrei pra manada de paga paus do Paulo aqui da Bastter. Não vou mais lutar contra isso, o cara é demais.

@Jumentinho desculpe por soltar a franga no seu post porto seguro. Força aí!

Fui assaltado uma vez saindo de casa para correr. Voltei para casa chateado, muito puto da vida, com aquele ódio. Cheguei na porta de casa, a poeira baixo, parei para pensar e me questionei: po, estou vivo, levaram apenas bens materiais, por que eu tô me sentindo assim? Dei a meia volta e fui correr. Mas mesmo assim nos outros dias ainda fiquei sentido, comecei a sair para correr de carro, até ir melhorando.

@manguito

Bem vindo ao clube

@Jumentinho

eh rapaz, nao eh facil
eh um processo que necessita tempo para adaptar ao "pos acontecimento"

acho que o @Paulo ja disse tudo e muito mais.
le ali a resposta dele um dia, depois na semana seguinte, pouco a pouco vc vai encontrando seu caminho.

@Paulo

Chocada com a sua resposta maravilhosa!! Agradeço todos os dias por ter você na comunidade….

Jumentinho, sinto muito pelo q vc passou, eu já fui furtada no ônibus, indo para o trabalho, não sofri violência física, mas a sensação de ser violada num lugar q sempre me senti segura é muito foda e é bem normal esse medo depois do ocorrido, mesmo sendo “mais tranquilo” o q eu vivi, também fiquei com bastante medo e levei um tempo para voltar a rotina…

Fica em paz, vai passar…

Que resposta do @Paulo... Espetacular

esta respostas do paulo eh das melhores coisas q ja foram escritas aqui
lembrando ao pessoal q pode salvar respostas nos favoritos
so clicar na estrelinha

@Jumentinho há alguns anos eu fui assaltada de noite (22:45) quando voltava da pós-graduação...

estava de carro, parada no farol, e um homem estourou o vidro meu carro, colocou metade do corpo para dentro, pegou meu celular e saiu correndo... foi muito rápido e ao mesmo tempo pareceu uma eternidade

foi uma sensação horrível...além do susto do vidro quebrado, eu fiquei com muito medo dele entrar no carro e tentar me estuprar - o celular era peanuts...

fiquei pensando que deveria ter batido nele, empurrado ele para cair fora, essas coisas... e o mais louco é que senti culpa por um período, por mais que racionalmente eu soubesse que não dá para evitar 100% das desgraças da vida

a semana do assalto foi péssima, não conseguia dormir, fiquei com uma sensação horrível de perigo iminente quando passava pelo mesmo local (eu não tinha melhores caminhos para voltar para casa), e fiquei com a impressão de estar sendo observada e perseguida durante mais ou menos um mês...

o que funcionou comigo é o que o @Paulo já disse ali em cima, procurar ativamente o lado bom da vida, estar com pessoas que amo, e entender que o que aconteceu comigo foi um evento ruim aleatório.. e eu decidi ativamente que aquilo não dominaria minha vida..

então, mesmo com medo, eu me propus a continuar seguindo o caminho habitual (mais atenta e evitando faróis, ou tentando sempre ficar no meio da pista, e não nas laterais onde é mais fácil de roubarem), procurar coisas que me faziam bem, e deixar o tempo agir...

levou mais ou menos três meses até eu me sentir BEM, sem medo

então vai no seu tempo... não tem solução mágica

a meu ver o que dá para fazer é continuar vivendo, da melhor forma possível para nós

Isso para mim não é medo. É uma reação natural. Se o local é perigoso o melhor é não ir de bike. Análise o risco é veja se vale a pena.

Pessoal, muito, muito obrigado pelas respostas! Vocês realmente me ajudaram a refletir

@Paulo que resposta maravilhosa! Não sei se você tem ideia de como você ajuda a vida as pessoas mas sua participação nesse fórum engrandece-o enormemente. Leio seus posts desde a época que era o Anxty e cada vez mais sou um grande admirador seu, como profissional e como ser humano!

@Bastter isso é chover no molhado, mas parabéns pelo seu trabalho e o do time de moderadores daqui. Cheguei na Bastter procurando investimentos e hoje é uma das partes do site que menos olho, de tanto material incrível nas outras áreas da vida.

Atualizando a postagem. Pensei bastante, no fds levei a bike pra consertar e hoje arrisquei vir ao trabalho. Com medo, mas vou assim mesmo. Vou testar um novo caminho no retorno e redobrar a atenção.

Grande abraço!