Eu sou o pior pai que meu filho pode ter.
Pq ele não pode ter outro pai.
Não tem o que possa ser feito, a natureza da parentalidade é a síndrome de Estolcomo - quando uma pessoa sequestrada se apaixona pelo sequestrador.
Sendo o pior pai que meu filho tem, ele vai me amar.
Não pq eu sou terrível. Mas pq eu sou o pai dele.
Mesmo sendo terrível, também sou eu quem fez todo o resto. De comida a amor. Sou eu quem faz isso na vida dele.
Eu ensinei ele a amar.
Fui eu quem enquanto agia amando, ensinei ele a amar.
E poderia ensinar para ele que quando fui terrível, foi por amor.
Não foi.
Foi quando me vi incapaz de amar. Não que eu não amasse ele, mas não fui capaz de amar o que era importante pra mim.
E ele me amou
Mesmo quando isso não era responsabilidade dele.
"In reality, the child cannot cause the parent’s rage. She may have inadvertently triggered it, but she is responsible neither for the capacity for rage in the parent nor for the existence of the trigger. The parent acquired them before the child was born. The uncooperative behavior may belong to the child, but the rage belongs to the parent." (Gabor Maté – Scattered Minds: The Origins and Healing of Attention Deficit Disorder)
Eu só fui terrível, pq também sei ser terrível.
Por ser o único pai que ele tem, ele também tem que viver com o Paulo. Que sabe ser terrível. Não mais nem menos que os outros, em geral.
O Paulo sabia ser terrível, como qualquer outra pessoa.
Antes de ser pai, eu era o Paulo. Que não sabia ser pai. Que não sabia ser outra coisa senão o Paulo.
Eu era melhor em qualquer coisa do que ser pai. Provavelmente ainda sou.
Tudo que eu sou existe em diversas dimensões da minha vida, em diversos aspectos dela. São fáceis de errar e tentar de novo.
Eu só sou pai dele. Só sou pai com ele.
E só ele pode me ensinar a ser pai dele.
Ele é paciente. Ele só quer minha atenção. Tão difícil quanto simples.