Resumo no final.
Nos idos de 2010 eu criei uma empresa com um amigo de longa data. A empresa ia muito bem, mas acabei descobrindo que meu sONcio estava, aos poucos, fazendo uso do cartão corporativo para fins pessoais e as somas já avultavam algo considerável. Conversei com ele na ocasião, ele disse que era um empréstimo, mas que tinha esquecido de me avisar. Deixei passar, mas fiquei mais atento. Certa feita, fizemos umas contratações grandes. Porém, quando fui analisar as planilhas/notas, percebi que ele estava "superfaturando" as contratações. Como ele era um cara inteligente, mas emocionalmente instável, eu temi que ele fizesse uma besteira (tipo, contrair uma dívida no nome da empresa, visto que ele era o sONcio-administrador). Então, criei uma história (sim, eu menti) para convencê-lo de colocar o irmão dele (que ajudava a ocultar os roubos, por sinal) no meu lugar na sociedade e que ele podia me passar a grana que me cabia depois (claro que ele não ia passar). Quando o processo na junta comercial foi concluído (finalmente meu nome não constava mais no sociedade da empresa) coloquei ele contra o parede e expliquei o real motivo d'eu sair. Ele negou (como sempre), mas quando mostrei as cópias de documentos/emails, apenas se calou.
Dividimos as atividades restantes ao meio, bem como os impostos/taxas a pagar. Acabou que ele não fez nem as atividades, nem pagou as taxas. Eu fui em cada cliente, conclui todos os serviços sem receber um centavo e paguei todos os impostos até a data da minha saída definitiva da empresa. Questão de honra. Amarguei um prejuízo de mais de 100k na época. Não devia, mas praticamente zerei. Eu só tinha uma moto 125cc usada e 5 reais no bolso, que usei no posto de combustível para voltar pra casa dos meus pais depois do último serviço. Detalhe: antes de começar a empresa, eu também estava praticamente zerado, pois tinha comprado imóvel na planta e o resultado é aquele mesmo (nem dinheiro, nem apê - isso mesmo, zerei duas vezes na minha vida, mas nunca devi nada a ninguém).
Confesso que nunca senti raiva realmente pelo ocorrido. Sentia-me profundamente triste, na verdade. Pois tinha perdido um amigo (que nunca foi) de longa data e, sobretudo, pelo roubo ter sido, para além da desonestidade, uma burrice, pois a empresa ia muito bem!
Em 2021, não lembro o dia, nem o mês, recebi três notificações da justiça em nome daquela empresa que eu fazia parte, executando inúmeros ISS não pagos, valor relevante. Fui na Secretaria de tributação e mostrei toda a papelada mostrando que aqueles ISS eram posteriores a minha saída e o único ISS que eu ainda podia responder, eu tinha o comprovante de pagamento. Tive a sorte de pegar um fiscal MUITO compreensivo (claro, tinha toda a papelada guardada) e a própria secretaria pediu para retirar meu nome do processo.
RESUMO: aceite o prejuízo, por amargo que seja, pois, ainda que não pareça, sai mais barato. Não falo apenas de dinheiro, mas, sobretudo, de bem-estar mental. Tenho uma ótima relação com o travesseiro e sempre que lembro desse episódio respiro aliviado.
E porquê lembrei dessa história só agora para compartilhar com vocês? Porque soube hoje, por um colega, que no começo desse ano deram uns tiros nesse meu ex-sONcio/amigo. Ele devia a muita gente, enganou muita gente. O curioso é que eu senti nada ao saber do ocorrido: nem alegria, nem tristeza, nada. Um completo estranho para mim, uma nota de rodapé no jornal local. Mas me sinto estranho por sentir nada. A única coisa que tive vontade foi de escrever esse relato e compartilhar com os avatares dessa comunidade.
Apesar do título do tópico, agora que percebo que o grande ensinamento aqui (escrever realmente ajuda a entender, obrigado @Paulo ) não é fugir de imóvel da planta, não é fugir de dívida, não é fugir de sociedade, tampouco é aceitar o prejuízo, mas, como o @Bastter sempre fala: não toque em dinheiro maldito, no que não é seu. Tem um custo. Tem um prazo.
Sejam felizes, durmam em paz, busquem saúde, cultivem boas relações e feliz ano novo!