"Muitos anos atrás, uma patrulha militar foi pega por uma nevasca feroz nos Alpes Suíços.
Os soldados ficaram perdidos e amedrontados, mas um deles encontrou um mapa enfiado em seu bolso. Depois de consultá-lo, os homens construíram um abrigo, planejaram a rota e então aguardaram a tempestade passar.
Quando o tempo melhorou, três dias depois, eles fizeram o caminho de volta para o acampamento da base.
O comandante, aliviado por seus homens terem sobrevivido àquela difícil prova, perguntou
como eles tinham feito para voltar. Um jovem soldado apresentou o mapa salvador de suas vidas, e o comandante o examinou cuidadosamente.
Ele ficou chocado ao ver que aquele era um mapa das montanhas dos Pireneus, que fazem fronteira com a Espanha e a França, não com os Alpes. Essa história, atribuída ao bioquímico húngaro que foi laureado com o prêmio Nobel, Albert Szent-Györgyi, remonta à década de 1930. Ela é muito citada em pesquisas sérias e cursos organizacionais e amplamente considerada verdadeira.
Não sei se a história é legítima ou não, mas como o mapa errado poderia ter salvado os
homens perdidos nos Alpes?
Há três explicações, e elas são tão relevantes para os
negociadores quanto para qualquer um que seja surpreendido na natureza selvagem.
Em primeiro lugar, o
mapa reacendeu a confiança dos soldados. Ele os libertou da
paralisação provocada pela indecisão e os impeliu a tomar uma atitude. Os homens não
discutiram ou vaguearam sem rumo. Em vez disso, eles se protegeram da tempestade e
esperaram o melhor momento para agir.
Em segundo,
o mapa proporcionou-lhes ímpeto. Rumar exatamente para a direção certa mostrou-se menos importante do que apenas se deslocar. Se estamos perdidos e permanecemos onde estamos, outros podem vir para nos resgatar.
E o mais importante,
o mapa avivou a consciência dos soldados. Ele deu a eles um modelo com o qual eles podiam trabalhar. Uma vez que estavam em curso, partes do mapa podem ter se adaptado a áreas específicas em que se encontravam os soldados. Afinal de contas, regiões montanhosas têm características comuns: penhascos íngremes, riachos e declives mais suaves. Quando o desenho não se ajustou mais à cena, os homens tiveram de reconsiderar a posição em que estavam e encontrar alguma outra parte do mapa que parecesse mais plausível.
Essa vigilância constante permitiu que eles ajustassem o modelo mental que tinham ao
mundo real que estavam atravessando. Essa reorientação contínua exigiu atenção sagaz às redondezas. A sobrevivência dependeu da boa vontade ao abandonar suposições e aceitar novas realidades."
Retirado do Livro: A Arte da Negociação - Michael Wheeler.