Foquem em ser úteis para alguém.
comentada em 04/07/2023 10:02

@Fibonacci_32
Rapaz, isso é daquelas coisas simples, complicadas.

Acho que o cerne da ideia, se eu entendi ela certo, é mais facilmente explicada pelo oposto.

Em uma vida imensa e caótica, a ideia de ficar sozinha te coloca em um lugar bastante vulnerável.

Mesmo em uma perspectiva ultra utilitarista, ainda que tenhamos todas as chances ao nosso favor, as coisas podem dar errado, ou simplesmente podem mudar.

Mesmo que você faça tudo certo, as coisas, ainda assim, podem dar errado.

Além disso, ainda tem o fator da ignorância de mundo.
Parece que é do George Bernard Shaw:
A coisa mais preciosa do mundo é a juventude. É uma pena que ela seja desperdiçada em jovens.

Se as coisas do mundo dependessem do que o Paulo de 20 anos atrás achasse útil, eu estaria morto. Foi por pura sorte que eu não acabei nesse caminho.

A gente simplesmente não sabe, e não tem como saber o quão útil algo é em perspectivas longas.

Como eu já disse aqui algumas vezes: O presente é determinístico, o futuro é probabilístico

E eu poderia fazer compras pensando na casa que eu tenho hoje.

Eu consigo com 100% de certeza saber onde estarei nos próximos 10 minutos, talvez com alguma precisão até no próximo mês. Quanto mais isso se expande no tempo, menos preciso isso fica. Mais difícil fica de saber algo que seja realmente verdade.

Nossos planos de futuro, e os próprios votos de casamento - o exemplo que eu sempre uso para falar sobre isso - são cartas de intenções, em sua melhor forma, ou mera ilusão, senão alucinação em sua pior forma - quando estão completamente descoladas da realidade.

A vida é uma coisa grandiosa demais para uma pessoa só. São coisas demais, tempo demais, decisões demais, reviravoltas demais.

Sendo assim, é absolutamente inútil lutar contra ela sozinho. Você já perdeu de saída se for assim.

Não dá para fazer sozinho. Precisamos de outras pessoas.

Até aqui foi a parte simples. O resto é difícil.

Se não faz sentido estar sozinho - e mesmo que você discorde do meu argumento, finja que ele é real por um instante - estar com os outros passa a ser algo bastante importante.

O que é realmente difícil é parar e pensar sobre isso, e tomar uma decisão consciente sobre:

Qual o tipo de relações eu quero para a minha vida?
Como eu quero construir relações?
Como eu posso construir relações melhores?
Que relações satisfazem a minha vida?

O utilitarismo que você carrega no seu texto de fato resolve o problema da solidão existencial, e te previne de se ver sozinho no mundo em N condições.

Mas não te tira o medo. Ainda é uma ideia carregada pelo medo de falhar, de não poder falhar, de não ser suficiente.

Respondendo as perguntas anteriores, eu achei algo que me parece ser maior do que esse medo. Que ainda existe, mas não nesse lugar.

Se a solução do caos da vida é estar com os outros, eu tento ativamente construir a solução fora do problema, com relações que tenham seus pilares fora do medo do mundo.

A parte difícil é pq eu sei que isso é apenas a ilusão que eu comentei anteriormente, não tem absolutamente nada que me garanta que isso é uma verdade no futuro.

Só que para mim é tão claro que essa aagarantia não existe, e que não há esforço que eu possa fazer para ser maior que o mundo, que eu pelo menos fico tranquilo em construir algo que seja um porto seguro enquanto ele existir.

E se ele não existir depois, tudo bem, foi bom enquanto durou.