32 Sobre medicamentos novos comentada em 12/02/2024 14:44 Saúde e Esportes Stoic em 16/01/24 18:01 comentada em 12/02/2024 14:44 Medicamento novo lançado no mercado geralmente recebe uma quantidade enorme de mídia. Especialmente se ele tiver algum composto polêmico como cannabis ou se tratar alguma doença de apelo midiático. É muito comum que logo após os pacientes venham ao consultório pedir pra usar esses medicamentos.Nesse texto eu vou explicar porque médicos geralmente tem receio (ou pelo menos deveriam ter) de prescrever medicamentos recém lançados.O primeiro ponto é entender o processo de liberação de um medicamento. Geralmente passa por estudos básicos para testar validade biológica, depois entram estudos clínicos com objetivo de testar segurança e eficácia.Esses estudos custam muito caro e cada paciente incluído tem um custo maior para a patrocinadora.Então imagine um medicamento inventado o Cleitonumabe, criado com objetivo de reduzir os níveis de sardinhice dos pacientes. O estudo avalia 300 pacientes, 150 tomam o remédio e 150 tomam placebo.No grupo que tomou o remédio 100 pessoas pararam de sardinhice e no grupo placebo somente 25 pararam. Bem provável que o cleitonumabe realmente tenha efeito na sardinhice.Agora vamos aos eventos adversos. Suponha que 40 pessoas no grupo Cleitonumabe resolveram começar a pedalar e somente 10 fizeram isso no grupo placebo. É bem seguro dizer que esse foi um efeito do cleitonumabe.Isso muda quando o número de eventos é pequeno. Se 5 pessoas no grupo Cleitonumabe resolverem comprar um pastor suíço por exemplo e só 2 no grupo placebo eu não tenho como ter certeza estatisticamente se isso foi um efeito do medicamento. É como tentar advinhar se um dado (aqueles de tabuleiro) está viciado jogando ele 7 vezes apenas, qualquer coisa que acontecer pode ser simplesmente acaso.Geralmente nós só sabemos realmente os eventos adversos de um medicamento após estudos de registro em que milhares de pacientes são avaliados.O segundo ponto é que esses estudos geralmente acompanham os pacientes por 1-2 anos até serem liberados. Então é impossível saber o que um medicamento novo vai provocar em 10, 15 ou 20 anos após seu uso.Tudo isso é teoria mas e na prática isso acontece?A resposta é sim!O exemplo mais emblemático é a talidomida. Que foi amplamente usada por grávidas como anti-hemético na década de 50. Somente depois descobriram que o medicamento era teratogênico. Literalmente fazia bebê nascer sem braço. Somente 4 anos após lançamento ela foi retirada.https://History of ThalidomideOutro caso são as próteses de silicone texturizadas da allergan que precisou fazer recall (isso mesmo que você entendeu) ordenado pelo FDA por aumentar risco de linfoma e doenças autoimunes.https://Allergan Breast Implant Recalls | List of Affected ModelsEntre os pacientes que fizeram bariátrica nos anos 2000 é muito comum que eles tenham doenças como depressão e até gatilhos de doenças reumáticas que surgiram anos após a cirurgia.https://Prevalence and Outcomes of Depression After Bariatric Surgery: A Systematic Review and Meta-Analysis - PMCPor essas e outras médicos tem receio de tratamentos novos. Geralmente existe um risco desconhecido que só se apresenta anos depois. Por isso medicamentos novos são reservados para casos moderados a grave e que falharam às outras opções no mercado.