Aqui a gente aprende a investir o dinheiro no que dá lucro, para investir o tempo no que é importante.
Eu vejo um constante conflito entre duas linhas de pensamento na hora de pensar como ensinar os filhos a serem independentes:
1 - Vence na vida quem aprende a dar duro e fazer o que precisa ser feito, mesmo que não seja o que está a fim de fazer.
2 - Vence na vida quem é excepcionalmente bom no que faz, e para ser excepcionalmente bom no que faz, você precisa encontrar algo que ama fazer e investir nisso.
Chamo a linha UM de "Gostar do que faz", a linha dois de "Fazer o que gosta". Eu vejo clara vantagem em aprender a gostar do que faz, mas sei por minha própria experiência nem todos tem inclinação para se adequar ao mundo. Quem desde pequeno ama fuxicar o computador está no melhor dos mundos, mas isso foi a sorte de uma minoria. Por outro lado, uma pessoa que aprendeu a programar na marra, ainda que seu seu grande prazer seja a literatura russa, hoje vive melhor que as pessoas que estão virando a noite para ganhar pouco no mercado editorial. Ou que a média de quem trabalha no audiovisual, nos esportes, qualquer coisa valiosa que desperte paixão em muitos, mas que não paga muito bem justamente porque muita gente está disposta a fazer quase de graça. Fazem o que amam, mas precisam trabalhar tanto pra pagar as contas que não tiveram tempo para criar uma família.
Influenciado por essa vivência, desenvolvi conflitos na família tentando incutir a disciplina dos estudos e o orgulho de estudar para aprender de verdade, buscar o que é difícil, não apenas o pouco que a escola exige para passar. Depois de 3 anos no papel de "bad cop", preferi preservar um bom ambiente familiar e mudar minha criança para uma escola construtivista antes da infância acabar, a mantê-la em uma escola que não explorava os talentos individuais da criança apesar de ter uma tradição de exigir o esforço máximo dos alunos.
Eu sei que essa discussão é interminável, mas para ser objetivo: tem alguém aqui que tenha se arrependido disso? Depois desse salto de fé, ter visto a criança se tornar um desses jovens que não arranjam um bom emprego porque só sabem fazer o que curtem, e jogam a culpa de tudo no mundo cruel que não valoriza a sua paixão?