Meio que aconteceu agora a pouco.
Tive uma semana bastante bacanuda. Minha família veio me visitar! Moro meio longe, então quando me visitam (anualmente) é só alegria. Fico buscando a melhor programação para curtirem. A cidade é pequena, então as opções são restritas, ainda que valorosas: peixinho frito ou moqueca pescada na beira do rio ou umas cadeiras na garagem, um fogo no braseiro, música para embalar e chilepe na carnuda! A única programação que realmente importa é ter meu pessoal comigo. o
Mas nessa vez tinha algo diferente...
Fui votado na cidade como o melhor profissional da minha área. Haveria uma cerimônia e ter minha família junto era a cereja que eu queria! A premiação não muda nada, mas alegria compartilhada com quem importa é alegria multiplicada e fomos curtir.
Chegando lá com algumas pompas, que não são do meu repertório social, recebi a comenda das mãos do prefeito com os aplausos devidos. Mas eram os gritos dos meus que mais me importavam e estavam lá pra minha alegria!
Havia uma confraternização posterior, com chopp duplo pros agraciados. Tratei de juntar amigos mais próximos e famíliares numa extensa mesma mesa e pedi 2 torres para cobrir a mesa. Mal deu um copo para cada (então os efeitos etílicos não entraram na conta) e pedimos nova rodada. Enquanto se resolviam eu estava rindo com amigos, celebrando com familiares e fazendo piadas de tiozão com os sobrinhos. Passa meia hora olho para o lado e meu pai estava com a face contraída e apontava o dedo para o garçom enquanto o mesmo fazia uma cara de "não é comigo".
Perguntei para meu pai o que teria acontecido e me falou que das 2 torres na mesa o garçom teria levado uma para encher, mas por falta de torres entregou a nossa para outra mesa. Enquanto me explicava olhou pro garçom que passava e esbravejou "aqui não" (que no basterês traduz para "comigo não")! Pedi calma, convidando pra conversarmos com a equipe de forma a encontrar um equilíbrio ou ainda mudar o estabelecimento. Quando na raiva me diz "Eu não tenho que afrouxar pra manter a pose como você, fica quieto!". Aquilo incomodou mais do que devia... Mas vamos a um pouco de contexto!
Meu pai é um senhor forte, mas ainda um senhor, não sei se o venceria uma queda de braço, mas uma corrida acredito que sim. Cresceu trabalhando em obra de empreitada, pião (daqueles que "rodam" obras), ambiente rústico, mas mesmo estando uns 20 anos fora da poeira ainda mantinha alguns traços.
Cogitei que mudássemos de estabelecimento, opções não faltariam, mas no caminho até o caixa, irredutível, quis falar com o garçom, com o gerente, com o porteiro, com o coveiro, com quem passasse perto. Cada uniformizado era alvo de um agouro mas quem sentia eram os familiares que estavam juntos. Sobrinhos não entendiam por que não podiam terminar a porção de fritas em paz, em casa explicaríamos a versão sub 13. Não obstante entendi que era hora de passar a régua e encerrar a noite.
Não puderam curtir "comigo não".
Amo absurdos minha família e em especial meu pai, essa bagunça é chata, mas é um pequeno preço para pagar por tê-lo comigo. Em casa tomamos um guaraná, nos abraçamos e fomos dormir. Assegurei para minha mãe e pai que nada daquilo tinha acabado com minha noite, pois o importante era saber que estavam comigo. O pai ainda irredutível saltava as veias cada vez que lembrava do "absurdo" ocorrido.
Não havia espaço para acertos de conta, apenas para aproveitar.