Caminho de Santiago de Compostela - C. Português
Habilidade
Quem me conhece de perto certamente ficou surpreso ao saber que eu e minha esposa nos aventuraríamos na peregrinação do Caminho de Santiago de Compostela.
Ora, o Bruno caminharia mais de 120km? Estaria ele pagando alguma promessa? A verdade é que, ao decidirmos nossas próximas férias, buscávamos algo que nos desconectasse completamente da rotina.
O Caminho de Santiago de Compostela parecia ser a resposta. Começamos a pesquisar e nos deparamos com uma cultura milenar ligada a essa jornada, remontando aos tempos dos templários. A ideia de peregrinação começou a fazer cada vez mais sentido para nós. Tenho tanto a agradecer... completei 40 anos, tenho uma esposa maravilhosa, uma família amorosa e cheia de saúde, amigos de infância e amigos de trabalho, com os quais exerço a medicina, a profissão dos meus sonhos. Fazer essa peregrinação até Santiago de Compostela foi a materialização de um sentimento de gratidão que Carol e eu carregávamos dentro de nós. Há quem diga que não somos nós que escolhemos o caminho, mas sim o caminho que nos escolhe. E hoje, vejo alguma verdade nisso.
Partimos para essa aventura. Pesquisamos muito, conversamos com pessoas, treinamos, e lá estávamos nós, peregrinos em Portugal, prontos para iniciar nossa jornada em Valença, com sua fortaleza majestosa, rumo aos 120 km até Santiago de Compostela, na Galiza, Espanha.
Caminhamos por vilarejos encantadores, onde o tempo parecia ter estacionado, por paisagens deslumbrantes da Galícia, com pisos irregulares, subidas íngremes, descidas acentuadas, ora em lajes, ora em terra batida, desafiando nossa resistência a cada passo. Terra batida, calçadas romanas, pedregulhos e pequenas pedras soltas, lama... muita lama devido à semana chuvosa que enfrentamos. Um descuido breve, um pé mal colocado, poderiam significar o fim da jornada. E a chuva, quanta chuva! Era tudo que não queríamos antes da viagem... esperávamos por uma semana ensolarada.
No entanto, ao terceiro dia, compreendemos. Que tipo de peregrino escolheria o clima para sua jornada? Não podemos parar. Devemos seguir em frente. E não é assim também em nossas vidas? Eis a lição do caminho. A chuva já não nos incomodava mais.
Percorremos por bosques encantados, onde árvores gigantes e plantas típicas de climas úmidos nos cercavam. Por vezes, só se ouvia o silêncio, os pássaros e o som das águas cristalinas dos riachos. Quanto mais avançávamos, mais nos sentíamos parte dessa natureza, que com sua energia nos fazia lembrar da essência da nossa humanidade que, por vezes, julgamos perdida.
Ao longo do caminho, encontramos objetos deixados por outros peregrinos nos albergues, como garrafas d'água, botas pesadas, frascos de shampoo ainda cheios e até casacos. O peso da mochila está diretamente ligado ao cansaço durante a caminhada. Quanto mais leve a mochila, mais prazerosa e menos sofrida será a jornada. E isso não se aplica também às nossas vidas?
Quanto mais peso carregamos em nossas "mochilas" - seja mágoa, culpa, rancor, medo, raiva, inveja, mais difícil será a caminhada. Deixemos nossa mochila leve... Essa é uma lição que aprendemos rapidamente no Caminho de Santiago de Compostela.
Os dias passaram, as dores nas pernas, insuportáveis no início, agora não incomodavam tanto, e de repente estávamos diante do último trecho, quase 29km até Santiago de Compostela. Sentíamos uma mistura de superação, realização, desejo de chegar e ao mesmo tempo de prolongar essa jornada para sempre. Então percebi que o verdadeiro sentido não está (e nunca esteve) na chegada, mas sim no caminho que percorremos até aqui. E acredito que assim também seja em nossas vidas. E é por esses caminhos que quero continuar seguindo.
Obs: Agradeço a todos aqui do fórum que me deram valiosas dicas.
Buen Camino!
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