Há pessoas com interesse em diversificar com imóveis em Portugal.
Mas será que é negócio?
Não sei se é bom ou ruim, as contingências me fizeram dono de imóvel lá e agora administro a situação a distância. Assim, queria compartilhar com o pessoal aqui do site essa experiência.
COMEÇOS
Em 2018, minha esposa teve a oportunidade de fazer uma pós-graduação no Porto. Repentinamente, nossa vida mudou de pernas para o ar. Tudo aconteceu muito rápido e fomos com nossas crianças para Portugal.
Ficamos em Airbnb os primeiros 60 dias, período em que, além de resolver trâmites burocráticos tivemos de procurar uma casa para morar.
Na época, a crise imobiliária já estava grande, e só piorou depois. Não havia muitos imóveis para alugar, os poucos disponíveis eram caríssimos. Para piorar, queriam cobrar de estrangeiros como nós taxa de reserva e cauções simplesmente exorbitantes.
Contávamos, inicialmente, apenas com o salário de minha esposa, pois eu obtive uma licença sem vencimentos. O custo de vida lá não era muito alto, porém, apenas um aluguel consumiria mais da metade do salário e isso já deixava as coisas bem complicadas.
Felizmente tínhamos nossos investimentos, uma reserva de emergência (obrigado Bastter pelas dicas) e o dinheiro da venda de carro, moto e outras coisas que seriam só despesa no Brasil.
Nossa previsão era de ficar 3 anos lá e não víamos como alugar algo. Para piorar, nossas crianças eram bem pequenas, a mais nova ainda em fraldas, por isso tínhamos urgência.
Assim, fizemos as contas, vimos que era possível, e decidimos comprar. Visitamos uma meia dúzia de apartamentos e logo decidimos por um. Era pequeno, precisaria de consertos, mas era habitável e ficava numa localidade a uns quinzes minutos do Porto utilizando comboio (trem, no Brasil).
Logo que informamos à imobiliária que tínhamos mudado de ideia e agora queríamos comprar, as coisas mudaram completamente. Na verdade, posso dizer que as portas se abriram.
Um de nossos problemas, por exemplo, era conseguir alguém que aceitasse assinar os documentos para que tivéssemos o NIF, uma espécie de CPF de lá, sem o qual não se pode fazer absolutamente nada em termos financeiros.
Pois bem, com o encaminhamento da compra, a própria corretora, que acabávamos de conhecer, fez a gentileza de fornecer seu endereço para tirarmos o NIF!
Assim, pudemos abrir conta bancária e assinar a proposta de compra. Em pouco tempo fiz as remessas e fechamos negócio.
PROBLEMAS
Logo que mudamos tivemos de fazer reformas (remodelação, em Portugal). O pessoal de obra por lá tem péssima fama e soubemos, depois, de muitos casos em que as pessoas foram trapaceadas por tais “profissionais”.
Tivemos muita sorte. Por acaso, arrumamos um senhor que fez a reforma de modo impecável e com toda a honestidade.
Enfim, moramos lá pelo tempo necessário. Foi a melhor opção, pois os aluguéis não paravam de subir e víamos muitos brasileiros passando necessidades para pagar suas moradias.
NOSSO RETORNO
Durante aqueles 3 anos criamos uma rede de apoio, amigos brasileiros e portugueses. Especialmente por causa disso, decidimos manter o apartamento lá quando voltássemos ao Brasil.
Conhecíamos gente de obra, tínhamos uma procuradora, uma solicitadora de confiança (espécie de advogada) e aquela corretora lá do início. Tudo tinha ficado mais fácil.
Naqueles últimos meses, acabei vendendo um imóvel no Brasil e decidi, num ímpeto, comprar outro apartamento lá. Decisão temerária e mal pensada, mas naquele momento parecia ser a coisa certa...
Assim, ao deixarmos Portugal, tínhamos lá dois apartamentos, um já alugado (ou arrendado, como se diz lá) e outro por arrendar.
O arrendamento do primeiro foi fácil, pois estávamos lá e fizemos tudo bem certinho. O mesmo não ocorreu com o segundo. Apesar dos esforços da procuradora e da corretora, alguns detalhes passaram e o arrendamento acabou saindo sem fiador. Esse segundo aluguel viria a trazer grandes dores de cabeça.
Mais recentemente, o inquilino do primeiro apartamento, aquele em que vivemos, também deu problema. Simplesmente sumiu, sem pagar os últimos três meses de arrendamento.
As imobiliárias lá não trabalham como as daqui, que funcionam como verdadeiras administradoras de imóveis. Lá as imobiliárias fazem muito pouco. No nosso caso, ela não foi eficiente o suficiente para resolver tudo.
Assim tivemos de resolver os problemas à distância, apelando para a solicitadora que já tinha participado da compra de nosso primeiro imóvel lá.
Obviamente, isso tudo custou caro e trouxe preocupações.
CONCLUSÃO
Ter imóvel em Portugal morando no Brasil é possível. Porém, é necessário ter uma rede de apoio, conhecer as pessoas, bons profissionais, melhor é morar algum tempo lá antes de adquirir alguma coisa.
Nós tivemos sorte. Soubemos de gente que sofreu enormes golpes por lá.
Administrar imóveis assim à distância é um tanto estressante. Dá mais trabalho e despesas do que se imagina.
Há ainda a questão de recolha de impostos, que é bem salgada, a taxa para proprietários que moram no exterior é de 35% sobre a renda de aluguel.
O nosso caso foi bem específico, uma mudança temporária que ocasionou essas compras. Também foi um momento em que era possível para nós, hoje não sei se daria certo.