A dificuldade do mindfulness é a falta de motivação?
comentada em 22/07/2024 21:38

Podemos partir para outras hipóteses.

Tipo isso. Lembre-se que a mente humana foi forjada em um ambiente absolutamente brutal, popularmente conhecida como "a natureza", e quem dava mole e não usava 100% do seu foco no que era importante não vivia pra contar a história. 

Então nossa mente é construida para focar no que importa, pq na natureza não tem isso de gastar energia com coisas que não consideramos importantes - quem perde tempo com isso vira estatística e não deixa descendentes.

Obviamente isso não é deterministico, nós ainda somos seres humanos e somos capazes de vencermos o que o macaco dentro de nós quer. Dá pra ser melhor que o macaco, nem todos conseguem, mas dá :)

É muito complicado te responder pq mindfulness é um guarda chuva gigante de conceitos que cada um usa como quiser. Que vai de algo equivalente a meditação até piras de culto.

Nem na psicologia ele é usado 100% das vezes com o mesmo sentido.

O conceito que eu uso, que é o que eu aprendi e o que está vinculado aos estudos de qualidade de vida é:

o eu observador.

É um habilidade que pode ser treinada de forma geral e não é obrigatoriamente vinculada a atratividade da ação.

Se você treinar, ela vira uma coisa meio que automática como respirar, é só algo que você faz enquanto faz as coisas.

É você gerar em você um estado de despersonalização, um estado em que você se torna observador de si sem julgamentos.

E, a partir desse estado, você pode decidir fazer coisas que não faria se estivesse tomado pela situação.

É como colocar uma cadeira de cinema no fundo da sua cabeça em que você senta e observa aquilo que você faz, sente, pensa etc sem interferir, sem julgamentos, sem precisar se engajar fisicamente naquilo que acontece.

A questão de controle de foco que você trouxe é uma habilidade secundária que deriva do eu observador.

No sentido que você escreveu, parece que você aprendeu mindfulness para produtividade, ou para ter mais foco, ou para um fim maior.

Que pode acontecer, mas aí é uma das aplicações da ferramenta, não é o fim específico dela.

Você pode muito bem, depois de fazer mindfulness, decidir que não está em um estado bom para aquela atividade e fazer outra coisa.

Ou pode fazer mindfulness para estar ausente psicologicamente de uma situação que está acontecendo, por exemplo, uma situação desagradável ou tediosa, se conectando (observando) com o propósito maior daquela ação.

O desenvolvimento do controle de foco geralmente vem do próprio treino de respiração. Pq, bem, é a própria atividade, ficar voltando o foco para a respiração quando você sai do mindfulness.

E, de fato, com a prática continua do mindfulness existe uma melhora da capacidade de foco, mas como eu disse, é um subproduto não é o fim.



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A explicação formal das teorias que eu aprendi que explicam e trabalham mindfulness são extremamente conceituais e muito difíceis de explicar para quem não faz parte dos jogos científicos.

Eu já tentei pensar em como explicar isso para leigos várias vezes, mas o máximo que eu consigo é fazer alguma aproximação como a que eu tentei no texto acima.

Tem alguns buracos no texto, mas se você tiver alguma dúvida, é só perguntar que eu tento responder.

Eu não gosto desse nome, eu sempre tento ter momentos de mindemptyness e TB acho dificil

@Dogoncio isso do estado de foco absoluto, ou 100% de foco é mais parecido com o complicadíssimo conceito de flow, e muito mais coisa de hcaoc.

Em especial, os não predadores precisam justamente da ausência de foco. Por exemplo, o mico. É dos bichos mais estressados que eu conheço. Passa o tempo inteiro focando em tudo.

Parece ter uma percepção e um julgamento de agressividade sobre todo o tipo barulhos ou aproximação. Raramente consegue ficar em uma atividade sem estar olhando para tudo em volta.

E eles vivem bem e estão por aí a toa.

Além disso, é bem comum ver vários tipos de animais brincado com coisas a toda, desperdiçando energia em atividades bestas e triviais.

Não existe essa perfeição, nem super eficiência toda que as pessoas gostam de achar na natureza.

@maxete como eu disse antes, o mindfulness não é sobre se encher dessas coisas.

É sobre aprender a não se engajar nelas.

Geralmente, a meditação tem essa regra de estar no vazio.

O mindfulness não tem essa necessidade.

As primeiras práticas de mindfulness são justamente você aprender a conviver com o barulho da cabeça focado na respiração e deixando o barulho lá.

É uma boa prática para descobrir que boa parte do tempo você não precisa fazer nada com seus pensamentos ou sensações/emoções, e que elas não alteram em nada o mundo.

É só deixar elas lá que elas mesmas acham o caminho de saída.

Eu sempre faço, mas evito na lua minguante.

Eu tava fazendo todo dia bonitinho e me sentia muito bem, na melhor fase da minha vida.

Até que foi desandando, fui perdendo a habilidade e hoje não consigo mais.

Fico pensando no que aconteceu pra dar errado. Mas tô chegando à conclusão que justamente passar tempo demais no passado tentando entender o que deu errado é que faz continuar dando errado.

@Paulo meu objetivo com o mindfulness foi encontrar mais significado nas coisas que faço, além do fato de que eu devaneio demais nas minhas atividades.
O ponto que vc colocou é bem interessante sobre o Eu observador dos pensamentos. Porém, discordo da parte do "não julgamento". Se uma pessoa tem muitos pensamentos ruins sobre ela e sobre os outros, por exemplo, é alguém que está sempre julgando mentalmente, tem algum problema com ela. Não tem como olhar para esses pensamentos e se enganar, dizendo, "são só pensamentos, eu sou a consciência que observa, não esses pensamentos". Acredito que esse é o principal BUCHETTI da prática de mindfulness.
Vou assistir à sua live pra entender mais o que você está dizendo. Obrigado!

@Paulo em complemento, o principal argumento para se praticar o mindfulness, no sentido de mais foco e concentração e menor devaneio, é bem racional e lógico: você está fazendo uma atividade, então é lógico que você esteja prestando atenção no que está fazendo. Outro bom argumento é o seguinte: o passado e o futuro são apenas percepções, eles não existem na realidade; o que existe é o presente, o Aqui e Agora. Isso tudo é muito lógico. Porém, por algum motivo que desconheço, temos dificuldade de colocar isso em prática, estamos sempre recordando o passado e pensando no futuro.
Nas observâncias dos meus pensamentos, percebi uma coisa: como a maioria  dos nossos pensamentos são inúteis, não tem finalidade alguma na realidade prática rs. Tento me convencer sempre disso, de maneira racional, pra melhor praticar o mindfulness, porém ainda sinto dificuldade. rs.

@Lio ter como tem, pode não ser fácil para todo mundo.

Mas todo mundo já pensou coisas terríveis, e a grande maioria das pessoas não faz coisas terríveis.

Quase todo mundo não só pensou, como sentiu motivação para agredir outra pessoa, inclusive pessoas queridas.

Nós não somos nossos pensamentos.

Quem é muito ansioso, quem faz muitos julgamentos, quem é muito reativo diz o que você disse: é impossível, é besteira.

Na minha experiência clínica, isso só diz sobre distância entre a pessoa e essa habilidade, mas não diz nada da habilidade em si.

postado por @SilkRoadOasis em 22/07/2024 09:48

Eu sempre faço, mas evito na lua minguante.

Heim? kkkk
Resisti muito tempo por não ter paciência para fazer, e desperdiçava muuuuuuito tempo com banalidades.

Só comecei a fazer. Penso que seja uma questão de hábito. E como todo hábito que não seja uma necessidade, necessita a vontade para continuar fazendo. Como tomar chá a noite com a companheira. Se não, outras preocupações ocuparão o espaço.
@Paulo, que benefícios são relatos com a prática continuada do mindfullness?
 

@Lio mindfulness é uma prática, é um exercício . Ela não precisa de convencimento, nem você se convencer.

É como andar de bicicleta ou nadar.

Você não aprende a fazer essas coisas se convencendo delas, só fazendo mesmo. Quanto mais faz, melhor fica nas coisas.

Você pensar se você consegue ou não consegue andar de bicicleta não interfere em nada do que você precisa fazer na prática das coisas.

Inclusive, mindfulness não é sobre racionalidade, como eu disse, é só a prática do eu observador 

@Lio mindfulness por si não dá sentido a nada, a prática de mindfulness pode te ajudar a se engajar nos sentidos que você da sua vida em momentos difíceis ou aproveitar melhor alguns momentos.

Dar sentido a mindfulness é como dar sentido inerente a nadar, correr ou escalar. Não faz sentido.

@Bonmec geralmente, no mínimo, está vinculado a menos ansiedade, capacidade de lidar melhor com estresse, resiliência e melhor controle emocional.

Há relatos que o Zen, a prática da qual o mindfulness foi isolado, foi incentivado na guerra pelo Japão para os soldados se desprenderem de suas ações e agirem da forma que agiram.

Sendo verdade ou mentira, como eu disse anteriormente, mindfulness não dá sentido a nada, é só ferramenta.

Obrigado pelas considerações, Paulo!

Curiosidade minha: qual é a necessidade de manter o foco total em atividades automáticas e rotineiras, tais como, escovar os dentes, tomar banho, lavar louça e trocar de roupa?

Intuitivamente me parece que o melhor é realizar essas atividades com pouco foco mesmo.

@Marcelov não tem nenhum motivo especial para isso.

Elas só são as melhores para aprender essa habilidade pq são isoladas e tem baixo custo emocional.

Em resumo, se você não consegue fazer isso no que é simples, como ter a expectativa de fazer no que é complexo.

Elas dão o degrau que te ajudam a aprender e refinar essa habilidade/processo para que você possa progredir e fazer em situações mais difíceis.

Inclusive, é uma das grandes reclamações dos pacientes que tentam fazer mindfulness e dizem que não funciona.

Elas querem aprender meditação/mindfulness no meio de um crise, sem praticar.

Faz tanto sentido quanto aprender a andar de bicicleta em uma pista de mountain bike.

@Marcelov uma outra forma de enquadrar a questão é:

Quantas vezes você, ou pessoas próximas de você já se viram tomados por outras coisas enquanto faziam essas atividades triviais?

Quando tem algo estressando, o estresse vai tomando vários espaços da vida que não são dele?

O mindfulness serve bastante com "antídoto" para você deixar o estresse lá de lado, enquanto você consegue se conectar com a coisa que está fazendo.

Quando está tudo bem é fácil de estar vazio nessas atividades, quando não está, é bem mais difícil e o mindfulness ajuda.

Ajudou muito nesse sábado, por exemplo, na minha luta contra os pontos imaginários.

A vida e seus pontos imaginários... - Saúde & Esportes - Bastter.com

@Paulo excelente seu chat, parabéns! Entendi qual o ponto, agora, da prática do mindfulness. Infelizmente, há muita expectativa em relação a isso, bem como promessas. Estou lendo um livro que se chama "O milagre da atenção plena", do Thich Nhat Hanh. Conforme ele relata, após 6 meses de prática de meditação e mindfulness na vida, maior concentração e foco (ok), menor ansiedade (ok) e mais paz interior(?).
Porém, como vc disse, é importante colocar as coisas em seus devidos lugares e na expectativa correta.

@Marcelov além dos argumentos trazidos pelo Paulo, entendo também que, levando-se em conta que 90% do nosso dia é preenchido por atividades rotineiras, ficar em devaneio em todas elas, parece que você não está realmente vivendo. Isso reduziria em muito naquilo em que realmente estamos engajados e achamos significativo e de valor.

postado por @Lio em 22/07/2024 16:03

Marcelov além dos argumentos trazidos pelo Paulo, entendo também que, levando-se em conta que 90% do nosso dia é preenchido por atividades rotineiras, ficar em devaneio em todas elas, parece que você não está realmente vivendo. Isso reduziria em muito naquilo em que realmente estamos engajados e achamos significativo e de valor.

Isso é exatamente o que o @Paulo falou nos ultimos chats dele.
Comecei a praticar mindfulnes há uns 3 anos por indicação da minha esposa (eu era muito reativo com qualquer idiotice do dia-a-dia).
No começo, achava tosco o "vou ficar aqui me percebendo no agora quando to fazendo qq coisa".
Mas na hora do jogo, de reagir a algo que "parece cheiro de tigre mas não é tigre" (que nos deixa nervoso, mas que é irrelevante), é que fui percebendo como minhas ações têm melhorado. Ainda penso merda? Sim. Mas faço merda cada vez menos, pq o pensar vem ativamente antes do agir.

Outra coisa importante é gratidão (agradecer ativamente todo final de noite ou começo de manhã). O Paulo fez um chat no final do ano passdo sobre isso.

Engraçado que "não ser reativo" e "tem gente que gostaria de estar vivendo seus piores dias" já eram coisas citadas vez ou outra aqui na Bastter.com há anos. Mas o Paulo conseguiu enfatizar e organizar isso de forma absurda.

@srcabecadebatata obrigado, querido.

Eu fico feliz em saber que a mensagem chegou aonde precisava.