Há uns dez meses, me mudei para o prédio onde moro atualmente, logo após me separar da minha ex-esposa. Estava em uma fase difícil, me sentindo derrotado e infeliz.
Contei com as boas-vindas de um senhor que beirava os setenta anos e morava no apartamento logo à frente do meu. Me cumprimentou e se colocou à disposição para qualquer necessidade. Eu fiz o mesmo.
Desde então eu o encontrei pelos corredores e no elevador umas tantas vezes. Quando eu estava com meu filho, de cinco anos, o senhor sempre fazia uma brincadeira com ele. Me peguei pensando nesse senhor algumas vezes, me parecia solitário e resignado.
Estou viajando há alguns dias e, ontem, o síndico anunciou que, após os vizinhos sentirem um odor desagradável, a polícia foi acionada e o senhor foi encontrado em casa, sem vida.
Não houve ninguém que notasse a sua falta. Procuraram por parentes e acionaram o local onde ele trabalhava, mas não encontraram ninguém que pudesse tomar a frente dos procedimentos no IML, velório e tal.
Fiquei pensando na importância de cultivar família e amigos. Também fiquei pensando que eu, tendo percebido a sua aparente situação, poderia ter sido mais aberto, receptivo e solidário com esse senhor, quando tive a oportunidade.
Desculpem a história triste, mas parece que é a vida como ela é.