Vivemos em uma sociedade que parece temer o tédio como se fosse um inimigo a ser combatido a todo custo. Qualquer instante de desconforto é rapidamente preenchido com uma notificação no celular, um vídeo curto ou uma música nos fones de ouvido. Estamos constantemente cercados por distrações, ocupando nossa mente com o conteúdo criado por outros e deixando pouquíssimo espaço para os nossos próprios pensamentos. Vamos pensando o que os outros pensam, parasitando a massa encefálica alheia.
Mas o que acontece quando nos permitimos sentir tédio? Quando abrimos mão dessas distrações e nos conectamos com o vazio?
Recentemente, deparei-me com uma frase que abriu um triplex na minha cabeça: "O tédio é o pai da criatividade."
E me peguei refletindo, e refletindo, sobre a importância do tédio no nosso desenvolvimento pessoal. Afinal, é no tédio que a mente encontra a liberdade de vaguear. Quando deixamos nossa atenção flutuar sem amarras, permitimos que ela explore lugares desconhecidos – e quem sabe o que podemos descobrir nesses recantos inexplorados da nossa imaginação? Que ideias estão escondidas por lá?
O tédio é muito mais do que um estado de desconforto. Ele é um convite. É nesse espaço de silêncio e introspecção que conseguimos nos conectar com nós mesmos, identificar o que estamos sentindo e, com isso, criar algo genuíno. É o momento em que as grandes ideias podem surgir, quando somos capazes de pensar com a própria cabeça, sem as interferências incessantes do mundo externo.
Além disso, o tédio nos permite buscar novas formas de diversão, de conexão e até de comunidade. Tenho a impressão de que no passado, as pessoas ficavam mais entediadas – não havia as mesmas distrações que temos hoje, hein – e talvez por isso mesmo fossem mais criativas, mais inclinadas a produzir algo do zero, seja uma ideia, uma obra de arte ou um laço humano significativo.
Me lembro de quando eu era criança, antes da época dos celulares, eu tinha de ser criativa a todo momento para encontrar formas de me divertir e de passar o tempo.
Se estamos constantemente ocupados, como podemos abrir espaço para o novo? Como podemos sonhar, criar e inovar se nossa mente está permanentemente engajada no consumo passivo? A distração constante não apenas sufoca a criatividade, mas também nos priva de uma satisfação pessoal mais profunda. Vamos nos preenchendo de conteúdo, mas seguimos nos sentindo vazios por dentro, porque não criamos nada que nos encha de orgulho ou dê sentido à nossa existência.
Hoje, a armadura do celular e dos fones de ouvido nos blinda do mundo externo, mas também nos desconecta e afasta de nós mesmos. É preciso deixar o tédio nos alcançar de vez em quando, de abraçar o desconforto gerado por ele e de apreciá-lo como parte da experiência humana. Temo de encará-lo como uma oportunidade e não como uma ameaça. Só assim poderemos abrir as portas para a criatividade e para o autoconhecimento.