UnB Notícias - O princípio da honestidade intelectualHonestidade intelectual começa por admitir que nenhum dado, gráfico ou estatística fala sozinho. Como lembrava o historiador Mark Bloch, toda fonte carrega intenções, lacunas e o espírito do tempo em que foi produzida. Aceitar isso nos torna mais críticos: em vez de repetir “os números provam”, perguntamos quem colheu a informação, com que método, por que motivo e o que ficou de fora.
Essa postura se aplica a tudo, sejam artigos, depoimentos ou experiências pessoais, e exige que deixemos claro onde termina o fato bruto e começa a nossa interpretação. Quando apresentamos uma opinião, vale dizer “eu leio desta forma” em vez de tratar a leitura como evidência irrefutável. Assim evitamos o atalho de empilhar fontes apenas para reforçar uma convicção pré-existente.
A honestidade intelectual também implica rever a própria posição quando surgem razões sólidas para tanto. Não se trata de fraqueza ou vira-casaca; é o reconhecimento de que a realidade é complexa e nenhuma visão inicial é definitiva. Quem gosta de aprendizado contínuo, como acontece nas melhores comunidades on-line, costuma acolher a divergência como ocasião para afiar argumentos, descobrir novas perspectivas e abandonar ideias que não se sustentam.
Por fim, há um componente de cortesia: ouvir com atenção, responder ao ponto levantado e não rotular o interlocutor. A conversa ganha quando todos buscam compreender antes de refutar. Num ambiente em que esse espírito prevalece, até temas polêmicos produzem mais luz do que calor, porque cada participante sabe que a meta não é vencer o debate, mas chegar o mais perto possível da verdade ou, ao menos, de uma dúvida melhor formulada.