Todos nós conhecemos a importância da Demonstração dos Fluxos de Caixa de uma empresa. Ela nos informa a movimentação da conta caixa e equivalentes de caixa, segregando os fluxos em 3 tipos de atividades: operacionais, investimentos e financiamentos.
A literatura financeira foi além e criou o fluxo de caixa livre da empresa e o fluxo de caixa livre do acionista. De acordo com a literatura:
Fluxo de caixa livre para a empresa (FCFF):
Ebit x (1-t) + Depreciação - Capex - Variação do capital de giro
Fluxo de Caixa livre para o acionista (FCFE):
Lucro líquido + Depreciação - Capex - Variação do capital de giro + novas captações - amortização de dívida
Temos que Lucro Líquido = Ebit x (1-t) + Resultado Financeiro x (1-t)
Assim, FCFE = Ebit x (1-t) + Resultado Financeiro x (1-t)+ Depreciação - Capex - Variação do capital de giro + novas captações - amortização de dívida
Portanto, FCFE = FCFF + Resultado Financeiro x (1-t) + novas captações - amortização de dívida
Só fiz as contas acima para mostrar que, a grosso modo, o que separa o Fluxo de caixa livre da empresa do fluxo de caixa livre do acionista é o fluxo de caixa da dívida.
Daí surgiram algumas reflexões...
Existem empresas boas em que o FCFF é menor do que o FCFE devido ao fluxo de caixa da dívida ser positivo, ou seja, captou mais dívida do que amortizou e pagou juros (captação líquida positiva).
Todavia, ao utilizar o fluxo de caixa da dívida total e não utilizar somente o valor da amortização e dos juros, há uma premissa implícita na fórmula que é a de que os credores continuarão a renovar os empréstimos e financiamentos como se existisse uma dívida "eterna" (eu sei que a empresa sempre irá trabalhar com um nível de dívida considerado eterno, por questões tributárias, de custo de capital, de estratégia, etc.).
Eu sei que dívida se gerencia (a discussão aqui é conceitual, e é claro, para quem gosta do tema) e enquanto os credores estiverem dispostos a financiar, excelente!
Entretanto, pode acontecer de em momentos de crise os credores não mais estarem dispostos a financiar a empresa. Esse risco é mais relevante em empresas que se utilizam de empréstimos de curto prazo para financiar ativos de longo prazo.
Comecei a pensar nisso ao olhar BRPR, tendo que amortizar em 2017 458, em 2018 361 e em 2019 375, tendo em caixa 966 nas minhas contas um FCFF de 150, ela se apresenta como uma empresa que aparentemente se enquadra no risco que falei acima.
Ela depende muito do refinanciamento das suas dívidas pelos credores, que se porventura mudarem de ânimo pode comprometer a liquidez da empresa. Acho que a TAESA também faz algo parecido, mas ela tem geração própria para cumprir o cronograma de amortização.