O MISTÉRIO DO MANOELZINHO
Manoelzinho, o boa gente, sumiu!
A cidade da Lua Grande, cinco mil habitantes, incrédula, procurou por semanas o querido Manoelzinho. Que maldade lhe aconteceu?
Ele não era político, vivia bem com a mulher e os dois filhos, professor de matemática do ensino médio, benquisto pelos alunos. Até ministrava aulas particulares àqueles com poucos dotes lógicos para ter a certeza que conseguiriam a nota mínima para ir em frente.
Manoelzinho não era rico, fome nunca passou. Muitos amigos, no trabalho era um ótimo colega.A esposa Dona Jurema ajudava nas finanças, boa nos bolos e confeitos. Festa de aniversário garantida era com o bolo da Dona Jurema.
Magali Pedrosa era uma repórter investigativa da TV Luar, emissora que cobria a região. Só nas suas férias é que visitava a cidadezinha de Lua Grande, 80 km de Luar, a maior cidade da comarca. Gado leiteiro, fruticultura, indústrias de móveis rústicos e o turismo eram a base da economia local.
Quando a repórter recebeu a mensagem eletrônica vislumbrou a grande história que tomaria muitos dos seus dias.
Naquela noite, às nove e meia mais ou menos, assim que terminasse a novela das oito da emissora líder, o Programa Magali Pedrosa entraria no ar. Cada noite apresentava apenas o relato de um caso. Às vezes, assassinato, outras vezes escândalo, perto do natal um caso de bondade.
O faro da Magali contava muito, desaparecimento era audiência certa.
O show estava para começar. O diretor de TV fez a contagem.
- 9, 8, 7.....3, 2, 1....NO AR!!!!
Em casa, tristeza total, Dona Jurema recolhia os pratos da mesa após o jantar, um minuto antes mudara de canal, não perdia o Programa Magali Pedrosa.
Magali era loira, olhos verdes, lábios grossos, sorria até entre os dentes, ferina nas críticas, gostava de oferecer generosos decotes, quase ausentes em programas jornalísticos. Apresentava-se sentada numa poltrona, de pernas cruzadas que as desnudavam ao limite da beleza. Os homens gostavam quando ela se levantava para andar com elegância pelo estúdio. Ao descruzá-las tinham a esperança de ver mais que a realidade mostrava, infelizmente, uma mulher com etiqueta sabe se proteger de gafes.
Nesta noite Magali Pedrosa já apareceu em pé, a câmera fez tomada de corpo inteiro, vestido florido, justo, cabelos soltos, brincos de pérolas, também combinava o colar, unhas vermelhas nas pontas dos compridos dedos que vez ou outra colocava na boca de modo sensual.
Suspense narrado com provocantes gestos prendem a atenção, aprendera a Magali com o antigo amante, famoso diretor de cinema.
Soltaram o prefixo musical, ela manteria a cabeça baixa até o silêncio.
Antes de encarar a câmera passou a mão nos cabelos, jogou-os para trás. Olhou sério à câmera que se aproximou, levantava a cabeça em sincronia até fechar o close em seu rosto.
Magali perguntou com voz pausada, triste, olhar de surpresa:
- Alguém pode me dizer se mataram o Manoelzinho?
A pergunta pegou Dona Jurema de surpresa, deixou os três pratos sujos caírem de suas mãos para se espatifarem no chão.
Magali Pedrosa continuou:
- Vocês assistirão neste programa um triste e intrigante caso acontecido em Lua Grande. Após os comerciais vamos, juntos, descobrir o que se passou com o Manoelzinho que sumiu há quase dois meses de Lua Grande. Sua família, Dona Jurema e os filhos Alex e Mara, clamam por notícias do pai. Não sabem se esta vivo ou (pausa...) ...ou morto (dito quase com um sussurro). Em dois minutos conheceremos este caso. Aguardem-me.
Em Lua Grande os telefonemas entupiram as linhas. Uns avisavam os outros, a casa de Dona Jurema encheu de repente. Aos gritos a filha Mara que namorava no portão entrou em casa ao ouvir o barulho dos pratos se quebrando.
Alex que estava no bar com os amigos montou em sua moto e veio pra perto da mãe, preocupava-se com sua pressão alta.
Dona Jurema era baixa, gordinha, olhos pretos, puxados, muitos a confundiam como descendente de japoneses. Mãos calejadas de tanto trabalho. Sempre bem arrumada, prendia os longos cabelos brancos e os cobria com lenço.
Mara quando entrou na sala viu a mãe prostrada no sofá frente a TV, prestes a chorar, um vermelhidão tomava conta do corpo da esposa em sofrimento profundo. No chão a filha olhou a sujeira dos pratos quebrados, abraçou a mãe e ambas choraram de saudades.
Na TV Luar o diretor Eugênio mudava o posicionamento das câmeras. Após os comerciais Magali reapareceria tendo ao fundo uma imensa foto do Manoelzinho.
Não foi difícil à produção encontrar uma boa imagem do desaparecido. O produtor Dodinho, um negro bom no trabalho de pesquisa era incansável. Horas antes fora a Lua Grande e conseguira na sede do clube de futebol a foto do ex-presidente. Estava à vista de todos na galeria de quadros no hall do salão social com o retrato dele e de outros ex-presidentes. Roubo-a, tinha pressa, devolveria no dia seguinte.
Manoelzinho era careca na parte de cima da cabeça , cabelos brancos nas laterais, bigodes brancos, olhos castanhos, dentição postiça, boca grande, rosto arredondado e corado.
- Vinte segundos! - gritou o diretor Eugênio.
Magali se posicionou, colocou as duas mãos sob as mamas e as empurrou para cima, aumentou o decote ao desabotoar um botão, sentou meia nádega no banco alto, o vestido mediu um palmo acima do joelho. Manteve a perna em primeiro plano. Era sua marca, assim que começava o segundo bloco do programa.
- NO AR!!! - gritou o diretor.
- Senhoras e senhores, nos próximos vinte minutos narrarei o Mistério do Manoelzinho. Este é um fato muito triste, porém, o desaparecimento poderá fazer de você um milionário! Isto mesmo. Recebi uma mensagem e fiquei estarrecida com seu conteúdo. informava-me sobre o que se passou em Lua Grande há dois meses. Um absurdo esta demora nas investigações. Ao final da mensagem fui surpreendida. Alguém muito interessado quer que se desvende o caso. Demonstra isto pelo depósito feito na conta bancária do meu programa: R$200 mil. Pede para que recompensemos quem descobrir o Mistério do Manoelzinho.
Lua Grande acordou com a oferta! R$200 mil!!! Pra saber o que aconteceu com o Manoelzinho?
Nos vinte minutos do Programa Magali Pedrosa, divididos em outros dois blocos, a audiência aumentou e superou a emissora líder. TV Luar estava em primeiro lugar, fato raríssimo.
Naquela noite Magali fez amor como doida, há muito quis ficar com o jovem produtor que não tirava os olhos de suas coxas. Valeu a noite, Estênio era bom amante -"menino sapeca" - pensou.
FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO.