Olá, pessoal.
Meu nome é Daniel, sou formado em psicologia e invisto na bolsa de valores desde 2003. Assim como muitos aqui, errei e aprendi bastante para chegar ao patamar de patrimônio que tenho hoje. Fui fortemente influenciado a entrar na bolsa pelo meu avô, que investia em ações desde a década de 70 até os dias atuais.
Gostaria de falar sobre um assunto que provavelmente você já leu muito por aí. Algo extremamente importante e que geralmente é tratado de forma sensacionalista ou sem compromisso pela mídia e especialistas do mercado: como o pequeno investidor (buy & hold) deve lidar com o mercado em baixa?
Porém, um alerta: não vou dar fórmulas mágicas, tampouco usar termos ou conceitos complicados. O que vou falar é simples, direto e tenho esperança que você irá compreender e mudar de uma vez por todas sua perspectiva de como encarar o mercado de ações.
Antes de iniciar, quero ter certeza que atingirei meu público alvo: se você encara o mercado de ações como um investimento gradual (colocando um pouquinho mensalmente), diversificado (investimento em empresas boas de segmentos distintos) e de longo prazo (esse aqui você define, mas vamos pensar num patamar de, no mínimo, 20 anos), pode continuar lendo esse artigo. Caso contrário, não perca seu tempo, nada do que eu falar vai te interessar.
Todos nós sabemos que o mercado de ações é marcado por altos e baixos e, geralmente nas épocas de euforia, tudo é lindo e não há grandes problemas no ato de investir. O investidor se sente motivado, autoconfiante e com aquele sentimento de que a vida é bela e que tudo vai dar certo.
Porém, o mesmo não acontece nos períodos de baixa. Lembro como se fosse ontem, 2008, crise do subprime, em questão de 5-6 meses meu patrimônio de 5 anos, conquistado com meu trabalho, sendo reduzido em 60%. Pessoal, sem dúvida não foi um período legal. Lembro-me de constantemente checar meu home broker e, dia após dia, só ver variações negativas. O mal estar era tanto que sentia meu estômago doer (literalmente). Foi quando realmente entendi o significado da expressão “haja estômago”.
Você pode estar se perguntando se eu cheguei a vender alguma ação nesse período. Não, não vendi nenhuma. Fiquei ali, como um espectador impotente, olhando o sorvete derreter sem poder comer. No fundo eu tinha a confiança de que meu plano de buy & hold era forte e que eu deveria saber lidar com essas oscilações. Afinal de contas, eu ainda poderia pegar períodos de baixa maiores do que esse. Foi aí que tive meu primeiro insight:
Eu quero poder olhar o meu home broker e acompanhar o mercado em qualquer dia e, independente de alta ou baixa prolongadas, permanecer isento de emoções.
Esse virou o meu mantra. Como eu gosto muito de ler sobre finanças diariamente e acompanhar o mercado (eu realmente tenho prazer nisso), eu sabia que teria que achar uma forma de me distanciar emocionalmente do turbilhão de curto prazo que mata milhares e milhares de CPFs na bolsa ao longo do ano. Cheguei à conclusão que o mercado não vai mudar, a mídia não vai mudar, as empresas não vão mudar. EU sou o responsável pelo meu plano, pelas minhas emoções, e por como eu vou controlá-las para atingir meus objetivos financeiros. Foi quando tive meu segundo insight.
Meu plano é e sempre foi investir em empresas boas que crescem e geram lucros consistentes, e empresa boa é empresa boa na alta ou na baixa. Eu não deveria me preocupar tanto...
Essa frase ficou me martelando por um tempo, mas eu ainda não estava confortável com minhas emoções e sabia que ainda faltava o “pulo do gato” para mudar de vez o jogo e fazer com que o método prevalecesse, de fato, sobre o sentimento.
Foi quando, em 2009, tive o insight final que mudou a forma como enxergo minha filosofia de investimento. Eu havia acabado de fazer minha compra mensal de ações de uma empresa que gosto muito. Foi um pensamento rápido, de fração de segundo, que dizia assim:
Como eu gosto dessa empresa! Quero continuar aumentando minha participação nela sempre que possível.
Pronto! Como eu não tinha pensado nisso antes? Participação! A resposta estava na minha cara o tempo todo e eu não conseguia enxergá-la. Eu fiquei parado, olhando pra tela do computador por uns 2-3 minutos, meio atordoado enquanto aquela idéia tomava cada vez mais força dentro de mim:
Quando eu compro ações, estou aumentando a minha participação naquela empresa. Estou sendo dono de uma fatia maior da pizza. O montante que eu tenho aportado lá não importa, pois esse dado varia muito no curto prazo. Agora, a participação não: ela aumenta sempre, a cada vez que faço novos aportes.
Simplesmente por causa disso, sinto o mesmo prazer de investir em ações em períodos de baixa no que de alta. Não importa o preço, não importa se é ursinho ou se é tourinho, o que importa é que meu capital está em empresas boas e, a cada mês, minha participação nessas empresas aumenta. Pensar assim não somente fez com que meus medos e dores de estômago sumissem, mas também se mostrou extremamente gratificante.
Para finalizar, eu não espero que todos tenham o mesmo insight somente por ler esse texto, pois acredito que esse é um processo extremamente individual, e a ficha pode cair agora, como talvez somente em 5 anos, como talvez nunca. Porém, meu amigo, quando cair, você vai sentir.
E isso vai mudar você para sempre.
Abraços,