Existe uma dúvida recorrente referente a tributação dos lucros nos EUA e no Brasil.
Vamos começar pelo mais fácil (por incrível que pareça): Brasil.
No Brasil, a empresa paga o Imposto sobre a Renda e repassa o montante designado de dividendos aos seus respectivos acionistas. Ao receberem os dividendos, os acionistas não pagam qualquer Imposto sobre estes proventos.
Em outras palavras: a empresa paga o fisco e você recebe esse dinheiro isento de qualquer imposto. A bitributação é vedada.
Nos Estados Unidos é diferente.
Lá as empresas são consideradas entes jurídicos separados da figura dos acionistas. É como se tivessem "vontade própria". Desta forma, as empresas pagam os impostos sobre os lucros anuais e, ao repassarem o montante referente aos dividendos aos acionistas, estes também pagarão o imposto de renda sobre os dividendos
Em outras palavras: a empresa paga o Imposto de Renda e o montante referente aos dividendos repassados aos acionistas também sofrerá incidência do Imposto de Renda. É a chamada bitributação.
A dupla tributação provoca debates calorosos por lá. As duas principais teses do debate são:
a) Tributar os dividendos recebidos pelos acionistas é uma dupla tributação injusta de renda. Segundo os estudiosos contra esta imposição, o lucro já foi tributado no nível corporativo, e não há motivos para ser bitributado na pessoa física do acionista.
b) Tributar os dividendos recebidos é justo. Segundo os defensores da bitributação, os indivíduos ricos se beneficiariam injustamente, pois são detentores de grandes quantidades de ações. Desta forma, pagariam "essencialmente" zero impostos sobre sua renda pessoal.
No entanto, os americanos criaram uma saída: Master Limited Partnership (MLP).
Estas são empresas de capital aberto, negociadas em bolsa. Sua natureza permite a "passagem" de renda direta aos acionistas.
Isto essencialmente evita a dupla tributação dos lucros. No entanto, a maioria esmagadora das empresas negociadas na NYSE e Nasdaq NÃO são MLPs.
Portanto, fica claro aqui o motivo de, por exemplo, Berkshire Hathaway e companhias de softwares não distribuírem dividendos: a longo prazo, a conta sai muito cara. A empresa e o acionista saem perdendo. O único lado "win-win" dessa história é o governo. Mais uma vez.