Falta de Propósito
comentada em 27/08/2019 11:02

Essa questão vai de cada um e realmente não é fácil. Todo ser humano passa por isso na vida, pelo menos em algum momento. Desde a Grécia Antiga os filósofos estudavam essa questão, essa necessidade e explicação existencial. Além disso, isso é bem subjetivo. Muitos se apegam à religião pra encontrar um propósito na vida. Outros nem pensam nisso. Na minha opinião, vc tem de focar nos pequenos objetivos de vida, de cada dia, aí a vida vai tendo um propósito no sentido do processo e não do resultado. Todo ser humano tem de ter um objetivo mínimo que seja pra alcançar, assim essa noção de propósito se esvai e o ser humano passa a ser feliz com foco nessas mínimas coisas. Eu vivo assim.

@OdranoelGeyer Pois é, não sei também se é algo momentâneo dessa fase da minha vida, tenho mais amigos que também pensam assim, pode ser algo da minha geração também, sei lá, é um sentimento esquisito que chega a ser difícil de explicar em palavras. Eu tenho pequenos objetivos e sempre vou atrás deles, esse "vazio" não é algo que paralise minha vida, mas parece que ele continua ali independente de qualquer coisa. Já existe esse foco no processo, mas parece que falta mesmo é o propósito, uma razão pra isso tudo. Lendo o que eu escrevo chega a parecer até dramático demais, como se fosse algo que me fizesse infeliz mas não é, é só meio que um fantasma que parece que me acompanha. Esse Jordan Peterson fala que é um sentimento bem comum em homens nessa nova geração, já que as mulheres já nascem com o propósito da maternidade e a sociedade hoje em dia ta sempre protestando por direitos e acaba deixando de lado a outra metade, que seria a responsabilidade.

@gabiris, Pode ser bem mais geracional do que você pensa. Na verdade, seria temporal. Qualquer geração da nossa época pode passar por isso. Leia Bauman (ou veja vídeos de professores no youtube sobre ele) falando da dita pós-modernidade e seus problemas. Nos racionalizamos tudo demais, daí queremos ver um "sentido" na vida. Uma razão de ser. O homem antigo vivia uma ideia de ciclo (Bem a grosso modo era assim: eu vou nascer, crescer, ter filhos, trabalhar, envelhecer e morrer. Claro que isso é uma generalização). A vida era assim e pronto. Você vivia um ciclo em si mesmo. Agora, queremos pensar que existe um motivo para estarmos aqui. Porque parece que fazemos parte de um ciclo bem maior que veio bem antes da gente e vai existir numa boa sem a gente (a sociedade, o capitalismo, etc.) Pode valer a pena falar com um psicólogo se perceber que sua produtividade e bem estar estão prejudicados. Por exemplo, depressão causa uma sensação extrema de falta de sentido. Mas é extrema mesma, de não conseguir ver motivo pra se levantar, mesmo parecendo tudo bem na vida. O que não parece ser o seu caso pelo seu relato. Mas mesmo assim, falar com um profissional pode prevenir algo.

Não tem nada a ver com geração não,eu já tive isso aí e não sou da nova geração Minha opinião é que isso é falta de problemas reais,as classes mais baixas e que vivem em constante insegurança material(não sabem nem se vão ter o que comer) não sofrem disso,por que o cérebro vive ocupado pensando em questões básicas de sobrevivencia Eu tive isso por volta dos 28-29 anos,é ter conseguido as coisas e não ter mais o que fazer Dizem que Alexandre o Grande em depressão depois de ter conquistado todo o mundo que era então conhecido a sua época Sugestões: Fazer voluntariado; Praticar esportes,de preferencia competições; Religião; Psicoterapia,para auxiliar no autoconhecimento; Constituir família(casando e tendo filhos vc vai ter preocupações pro resto da vida,e formar e educar um ser dá sentido à vida ); São as sugestões que me vem à mente agora

Max Weber no fim do Séc. XIX e começo do XX já falava sobre esse tipo de problema. Principalmente sobre como o homem do Séc. XIX já lutava para ver sentido na vida e, por isso, desenvolve um grande medo da morte. Sendo que antes a morte era vista como um das partes do ciclo da vida. Quando Bauman fala dos problemas da [pós] modernidade, ele começa a falar de coisas que começaram lá na revolução francesa e na industrial. Agora tem se acentuado cada vez mais essas questões. E também estamos começando a entender algumas delas. Mas certamente não são problemas de hoje ou desta geração.

vc tem 21 anos calma as coisas vao acontecer procure incluir na sua vida esporte de competiçao coisa seria mesmo isso cria um proposito e trabalho social

@gabiris, não é dramático não. Isso é sério mesmo. Muitas dessas questões de falta de propósito na vida leva jovens a cometer muitos suicídios. Não estou dizendo que é seu caso, apenas comentando sobre o tema. O que os amigos falaram é totalmente pertinente... as pessoas de classes mais baixas são as que menos sofrem desse mal, pois os problemas financeiros do dia-a-dia ocupam toda sua cabeça, fazendo com que eles não racionalizem sobre isso. Além disso, pessoas com muito conhecimento também costumam sofrer disso. Há um filósofo (não me lembro qual) que dizia que, quanto mais conhecimento tem um homem, mais infeliz ele é. No mais, siga o que os amigos sugeriram, adicionar esporte e competição na sua rotina de vida e, a meu ver, o principal: sempre tenha bastantes atividades pra fazer, pois, como já dizia a minha avó, "cabeça vazia é oficina do Diabo". Abraços.

Cara, uma vez eu li, não faço ideia onde, que o homem não funciona muito bem quando pensa muito. Precisamos estar sempre em ação e não apenas imaginando, refletindo. Se pensarmos muito no objetivo, esquecemos de agir, ou paralisamos. Tem um tópico rolando sobre procrastinação, acho que é bem relacionado a esse. Resumindo, acha algo para fazer. QQ coisa, vc só vai saber se gosta disso qdo começar a fazer. Se não gostar, troca, arruma outra coisa. Possibilidades somente aparecem para quem está em movimento (possibilidades boas e as ruins também). Abraço

Veja esse vídeo do Vitor Franklin sobre o sentido da vida, pode te ajudar

@gabiris Uma outra forma de pensar é passar a aceitar a nossa pequeneza perante ao mundo. Acostume-se a viver com dúvidas e perguntas sem resposta. Se alguem te perguntar de onde veio, para onde vai, qual sua missão no mundo etc, responda assim: NAO SEI, SEI LÁ. E está tudo bem :) Aceitar que a vida pode não ter sentido mesmo. E está tudo bem. Precisa fugir um pouco de que todos precisam realizar, atingir uma meta, construir, ser promovido no trabalho, fazer isso ou aquilo etc. Eu tenho a mesma função e cargo profissional já faz 20 anos. E daí? Não realizei nada de muito relevante ao longo da vida. Mas tambem nunca prejudiquei ninguem. E nem vivi estressado por não conseguir uma promoção ou asumir um risco muito grande visando um ganho muito grande. Preferi a média. E está tudo bem :) Vivo com conforto minimo, vou me divertindo, viajando, comendo, conversando com os amigos, lendo, aprendendo, escrevendo, ajudando a confortar entes queridos quando necessário e boas. O dia que morrer, morreu, enterra. E tá tudo bem :)

@carlosgp não faz muito li um livro dele Em busca de Sentido, onde ele relata a experiência no campo de concentração nazista e as observações sobre o que é o ser humano que ele colheu naquele momento, um dos melhores livros que já li na vida, excepcional.

@gabiris acredito que seja bem normal isso, tem pelo menos dois momentos que acredito que se passa isso, nessa idade e depois aos 40 também podem ter buscas de significado. Ninguém pode falar do interior do outro, você tem que dar significado a algo pra "temperar" a vida. Muitas pessoas vão achar essas respostas em um movimento religioso ou em um trabalho voluntário, ou até mais simples, vão participar de algo (até um esporte) que lhes dá ânimo e "tesão" pela rotina diária. Na outra fase, pós casamento, filhos etc, ou "meia-vida" como alguns falam, existem as ressignificações de sentido, de trabalho, de quem sou eu nesse mundo etc. Todas essas coisas são normais e são essenciais para você se aprofundar como ser humano, toca o barco! :-)

Muito legal a discussão, me surpreendi positivamente com o andamento do tópico... Vou responder todos então vai ficar meio comprido o post mas vamos lá. @cmweber Vou procurar ler Bauman sim, tentei começar "Amores Líquidos" um tempo atrás mas achei bem densa a leitura e acabei abandonando. Então, eu não chego a ser depressivo em relação ao tema, é mais uma curiosidade intensa, que parece que vira e mexe aparece questionando tudo, mas não chega a afetar minha produtividade. E como tu falou depois do Max Weber, também não sinto medo da morte e aceito tranquilamente ela, se tiver que morrer hoje mesmo sem ter feito nada expressivo eu não teria problemas, o que mais mexe comigo é a própria vida e seus propósitos, ou a falta deles. Quando tu fala que estamos começando a entender algumas delas ao que tu se refere? @LUZ Concordo com isso de que essa falta de problemas pode ser uma das causas, mas também acho isso muito subjetivo isso, um problema que eu enxergo como fútil ou pequeno pode ser a causa de suicídio pra outra pessoa. Interessante isso do Alexandre o Grande, não sabia.Quanto as sugestões: Voluntariado eu já procuro me envolver sempre que existe alguma atividade na minha cidade, mas realmente faz falta uma atividade mais regular nesse sentido. Religião é um pouco complicado pra mim, pelo menos nesse momento. A psicoterapia já tentei fazer mas acabei não avançando muito nas sessões, mas talvez seja uma oportunidade pra procurar outro profissional. E constituir família é um tanto quanto delicado pois acho que não depende só de querer, é preciso encontrar uma pessoa legal, que faça sentido estar ali e acho que não é momento ainda também pra ter filhos. @Bastter Realmente acho que isso pode me ajudar, hoje faço só musculação rotineiramente e ás vezes pratico outros esportes por lazer, mas nada que me faça correr atrás de algum objetivo mais palpável. @OdranoelGeyer Pois é, é aquele ditado de que a ignorância é uma benção. Mas é difícil porque ninguém quer ser completamente ignorante né? Por mais que quanto mais a gente estude mais a gente vai vendo que não sabe porra nenhuma e quão burros nós somos como diz o bastter... Abraços! @carlosgp Conheço o trabalho dele já, é bem interessante mesmo, li não faz muito tempo o livro que @Betta mencionou e é sensacional. @Ron68 Pois é, isso eu aceito o quão pequeno e insignificante eu sou diante de tudo mas mesmo assim acabo me perguntando e procurando alguma coisa para perseguir. E admiro muito essa tua virtude de viver do teu jeito e ser feliz com isso, tuas ideias me lembram bastante dos estoicos. @Betta Obrigado pelas palavras, confesso que foram um conforto e realmente, acho que talvez a resposta pra tudo isso seja encontrar esse "tempero da vida".

@gabiris, Me referia às questões da vida moderna. Ela fez promessas e não vem cumprindo algumas delas. Por exemplo, as tecnologias deveriam fazer com que trabalhássemos menos e curtíssemos mais a vida. Mas elas são usadas muitas vezes para fazer com que o trabalho ocupe cada vez mais nossa vida. Elas aumentam a produção, mas não a qualidade de vida. Veja esse vídeo aqui. Já fala bastante das ideias do Bauman.

Na minha opinião, o "driver" da humanidade é a ambição e o desejo. É o que nos faz ir para frente. Se você não tem ambição e nem desejo, perde-se o sentido. Somos condicionados desde pequenos para isso. Por esse motivo que o capitalismo é tão aceito pelas pessoas. O conceito de vender o seu trabalho em troca de algo de desejo é o que faz o sistema ter tamanha adesão. No capitalismo, geralmente, os dois lados da transação saem felizes. Quem compra e quem vende. Outros sistemas econômicos, por exemplo o feudal/modo de produção asiático/socialismo , algum dos lados saia prejudicado ou não tinha seu desejo satisfeito. Por isso são métodos que não funcionam tão bem. Enfim, porque falar disso? Entra na mesma resposta do @LUZ (que por sinal é na minha opinião o mais sábio de todos que postam). Isso é falta de "problema real". Você está numa família legal, tem estabilidade financeira, saúde e provavelmente um futuro promissor. A falta de perspectiva de necessidades ou desejos que te deixa assim. Não é atoa que os países escandinavos possuem as maiores taxas de suicídio de jovens do mundo. O japão também tem. Porque eles atingiram um nível de bem estar social que perde o sentido viver. Qual seria a minha dica? Faça esportes, mas com objetivos. Tente progredir e ter uma meta. Isso te dará propósito. De preferência, faça esportes onde você "tome sol". Qualquer coisa (corrida, tênis, basquete, etc), pois tomar pouco sol também é um fator que propicia depressão e anedonia (falta de prazer nas coisas). Quais sinais de preocupação? Como disseram acima, quando você começa a perder produtividade ou ação. Pode ser começo de depressão.

Adorei todas as respostas. Mas vou dar meu relato. Talvez ajude. Já tive muito vazio existencial. Muito mesmo. Por muito tempo. Desde 11 anos. Piorou aos 16 anos, com muita sensação de solidão. Minha familia é maravilhosa dó ré mi/doriana e sempre tive tudo (viagens, carro, apartamento, faculdade...) Nunca tive problemas reais. Por isso a culpa era enorme. Sempre fiz esporte (capoeira), mas nunca por competição. O vazio realmente minimiza, mas não ia embora de vez. Aos 32 fui para um retiro de silencio (Ashram) em sao paulo por 5 dias para silêncio e meditação. Saí de lá sentindo o milagre da vida. Nesse meio tempo, médica formada, ganhando dinheiro, escolhi uma missão: ajudar animais e florestas. Ajudo abrigos de caes e gatos resgatados. Trabalho em feira de adoção. Hoje aos 40 anos, divorciada há dois 2 meses, estou muito feliz e em paz comigo mesma, mesmo com divórcio recente, graças à 45 min de meditação todos os dias de manha, psicanálise 3 vezes na semana e esporte não competitivo ao ar livre. Hoje em qualquer lugar estou plena e bem comigo mesma. Fica a dica: esporte ao ar livre com sol escolher uma missão. meditação todos os dias pela manha. psicanálise muitas vezes na semana (terapia não funcionou para mim. é psicanálise mesmo). vale a pena buscar saber sobre retiros de silêncio e/ou sobre o caminho de Santiago de Compostela. Essas viagens espirituais costumam ajudar. Alguns recomendam fazer todo ano ou a cada 2 anos. Abraços.

@Daniele Legal seu relato, me identifiquei bastante porque também tenho uma família sensacional e um conforto financeiro que não é nada absurdo mas me deixa bem confortável. Achei interessante essa sua experiência com o retiro, se tu não se importar em falar um pouco mais sobre como isso impactou na tua vida, se foi a primeira experiência ou se tu já tinha algum envolvimento com isso antes. Eu tive um período que tava bem envolvido com espiritualidade e lendo bastante livros, principalmente budistas e confesso que meio que acabava enxergando esse milagre da vida, e uma gratidão intensa. Depois disso acabei aos poucos estudando mais ciência e fui ficando mais cético. Esse fato de escolher uma missão já faz um tempo que quero encontrar, mas acabo dando desculpas por minha cidade não ter muita iniciativa e não vou atrás, mas é aquela história de que dá pra fazer o bem em qualquer lugar né? Psicanálise muitas vezes na semana hoje eu não tenho condições, até fiz por um tempo mas como falei acima não estava me ajudando muito e acabava impactando bastante o aporte.

Desenterrando o tópico por achar que é um tema muito atual e que ainda podemos explorar bastante por aqui.

@oxe @Rothschild @RonaldReagan poderiam contribuir com o tópico. Curioso pra saber a opinião de vocês.

Eu acho que viver sem desejos e metas é muito difícil. O vazio existencial vai bater. O problema é: e se não temos um desejo específico? E se nenhuma meta parece nos trazer motivação? O que fazemos?

Os esportes de competição são bons, também, porque fornecem esse estímulo para o ORUTUF... superar-se é, no final das contas, cumprir metas. Talvez sejam a melhor maneira, mas não acredito que seja a única. É possível estabelecer metas intelectuais, por exemplo.

Não sei se a meta pela meta funciona. Acho que precisamos nos visualizar no ORUTUF, com a meta cumprida, e perceber que ela, realizada, nos trará um benefício grande... E esse benefício teria que ser muito claro. A dificuldade, aqui, é que nem sempre é fácil empolgar-se com esse suposto benefício, esse benefício imaginado. Por exemplo: o sujeito decide que vai trabalhar mais porque tem uma meta material, digamos, comprar um carro melhor. Mas ele pensa bem e percebe que ter um carro melhor não vai mudar praticamente nada na sua vida. Logo, não vai ter motivação para conseguir o objetivo. Outro exemplo: estabelecer uma meta esportiva, de correr 10km em um tempo muito menor do que o atual. Pensando bem, o que muda na vida, quando o tempo melhor for alcançado? Por que eu me esforçaria por isso? Não estou dizendo que agir assim é errado, só estou tentando entender o processo da automotivação.

Talvez as metas que façam sentido são aquelas destinadas a resolver problemas práticos. Listamos todos os nosso problemas pessoais, que podemos resolver, que estão ao nosso alcance, e os atacamos, um a um. Talvez cheguemos em um ponto de equilíbrio... Relacionamentos, finanças, saúde, trabalho. Se isso acontecer, parece não haver outra maneira de estabelecer novas metas, se não ajudando ao próximo que ainda vive em escassez. Sobre essa ideia, o problema seria: se a regressão continuar dessa forma (regressão em relação aos pontos de sustentação do porquê da meta), talvez a única coisa que parece nos motivar é sobreviver sofrendo cada vez menos.

Para mim, a única coisa que preenche esse vazio é Jesus Cristo (o Rei e Sacerdote Melquisedeque, Senhor do Universo). Não tive paz na vida enquanto não me encontrei com Ele ("porque nele vivemos, nos movemos e existimos"). Esse se encontrar com Ele não é "espiritual", é real e só ocorre se a pessoa o buscar de verdade, sem ser apenas por curiosidade ou mero desejo de conhecimento. É preciso buscá-Lo como homem em primeiro lugar (porque ele é um ser humano como nós e nos entende como ser humano) e não somente como Deus, ou seja, ele não é um ser etéreo, distante, que não entende o que está acontecendo no nosso cotidiano.

@RonaldReagan

Tb tenho tentado esse encontro. Como vc soube que se encontrou com ele? Pra vc, o que significa “nele viver, com ele se mover e existir”?  

Penso que é viver de acordo com seus princípios... em todas as condutas, oferecê-las p/ Ele, mas como seria isso na prática? 

Tudo é dele, por ele e nele. O mundo e toda a multidão de suas criaturas é dele. Não há separação entre ele e o mundo. A separação é aparente e é apenas uma das ilusões produzidas pela queda. Quando se encontrar, você saberá que é Ele, sem hesitação e sem necessidade de respostas nem de perguntas ("Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida").

@hugocravo

Eu sou pequeno demais pra esclarecer sobre as questões universais. Heráclito ou Parmênides; Platão ou Aristóteles; Agostinho, Tomás de Aquino ou Nietzsche; enfim, tudo isso está além de mim.

No entanto, eu tenho a convicção de que nenhum humano consegue alcançar a resposta a esses questionamentos pela razão. Há quem encontre respostas dogmáticas, mas nenhuma que a razão consiga validar em si mesma. O que muitos dos grandes pensadores encontraram foram respostas particulares, às vezes engendradas em narrativas complexas que, no entanto, só podem ser validadas se concordarmos com as premissas. E as premissas jamais são universalmente consensuais.

Aliás, o que muitas pessoas encontram não são de fato respostas, nem mesmo dogmáticas. Elas acham na verdade um sentimento de satisfação independente das respostas.

Sigo na linha do Weber ali em cima. Nossa sociedade está angustiada na busca de sentidos atemporais. Em uma era de pós-verdades, de subjetivismos, como achar sentidos objetivos? Hoje está na moda até mesmo duvidar da Ciência. Olha os terraplanistas, os anti-vaccers. Qual é o ponto em comum objetivo? Não há. Esse tipo de reflexão é muito contundente no Direito, que é um ramo da Ética.

Eu comecei a escrever aqui sobre a evolução da ideia de direitos humanos a partir do Direito Natural e de como a transição do Natural para o Humano nada mais foi que uma tentativa de eliminar a metafísica, de criar sentidos visíveis para fundamentos invisíveis. Mas ficou enorme e achei digressão demais. Fica essa observação apenas: a civilização, desde o século XIX, tenta remover todo vestígio de Metafísica da mente, das explicações para o mundo. E isso esvazia inevitavelmente essas explicações porque a Metafísica surgiu justamente para tentar explicar os fundamentos últimos da realidade. Ainda que jamais se tenha encontrado uma teoria definitiva.

O fato é que, ao longo da História, sempre tivemos uma visão cosmológica do mundo. Uma conexão entre tudo que existe. Um sentido para o cidadão, para a polis, para o genus, para os templos, para os animais, para tudo. Sentidos fechados, particulares, completos que permeavam o mundo.

A complexidade cultural, o individualismo e racionalismo modernos, o ecumenismo, etc ruíram com esses fundamentos de coesão social. A globalização jogou a pá de cal. O Direito é o último consenso ético da sociedade e isso significa que todos os debates morais foram deslocados para a Política (que cria Direito) e para o próprio Direito hoje (porque o pós-positivismo nada mais é que a tentativa de preencher novamente o Direito com Metafísica - ainda que uma Metafísica arbitrária e subjetiva).

Hoje a fé na tecnologia, o sentido de progressismo e de inexorabilidade do invento humano, ainda é o driver do mundo. O próprio Direito tende a se tornar obsoleto, substituído por uma técnica pretensamente neutra, mas sempre parcial e cheia de erros.

Se todas a grandes mentes do mundo não conseguem preencher o que restou vazio, não sou eu que farei isso. Até porque sou agnóstico racional. Pra mim, a resposta definitiva é impossível.

O que eu posso fazer é te dizer meu caminho particular para a Verdade, ou pelo menos para uma verdade conveniente:

Eu investiguei minha própria mente até encontrar o que, para mim, preenchia a minha vida com sentido e satisfação.

Descobri um sentimento de autorrealização no conhecimento, no estudo e no ensino.

Percebi que ajudar outras pessoas me fazia sentir útil e satisfeito.

Notei que quanto mais eu respeitava os demais, sem abdicar dos meus princípios básicos (independente da origem deles), mais eu mesmo me respeitava.

Descobri o poder de apreciar a beleza nas pequenas coisas.

Eu leio os antigos, especialmente os estóicos. Reconheço sabedoria ali. Procuro desafios, estímulos que me permitem evoluir.

Finalmente, percebi que eu não precisava de uma resposta. O que me interessa de verdade é o processo de aprender, não o aprendido em si. Ainda bem que sempre haverá algo pra aprender!

Como posso ser infeliz se existo e deixo existir, respeito e sou respeitado, aprendo e ensino, cresço e ajudo a crescer?

A cada dia, antes de dormir, eu reflito se hoje fui melhor do que ontem, se aprendi alguma coisa. É gratificante quando posso responder afirmativamente. Eu me esforço para sempre estar presente (nem passado, nem ORUTUF) e completo no que faço. Não por outra pessoa ou por algum motivo ulterior. Por mim mesmo, ali.

Enfim, pra mim é uma mentalidade. Tenho meus momentos de melancolia, mas sinto sempre que meu sentido de viver é apenas ser completo para o mundo e para mim. Se existir algo além disso, espero que seja suficiente, mas não me arrependerei se não for. Se não existir, tudo bem também. Eu sei que vou morrer.

Ficou uma coisa grande, subjetiva e um pouco melosa. Mas espero que lhe seja útil.

Abraços, tudo de melhor e que você encontre satisfação duradoura em quem você é, independente de qualquer condição.

@hugocravo, na prática, como somos humanos, vamos errar, acertar, recomeçar, como todo mundo. O mais importante é seguir o mandamento do mestre nas relações humanas: ver o próximo como a si mesmo, mas também sem ser um banana, que aceita tudo e não defende suas posições. Quanto à questão espiritual, também é possível ter acesso à ordem transcendente pelo conhecimento (como, por exemplo, pelo neoplatonismo ou pelo esoterismo guenoniano), mas isso exige muito mais dedicação e dá mais trabalho do que simplesmente se encontrar com Jesus, que está sempre ao alcance de qualquer pessoa, independentemente de sua formação intelectual e de sua condição pessoal (ele é um ser humano). No mais, o mundo nunca teve unidade religiosa ou política e sempre foi caótico - bastar ler o Antigo Testamento ou ler o livro Confissões, de Santo Agostinho, para ver que, por exemplo, o final da antiguidade e início da idade média era tão caótico quanto o mundo atual (mesmo a Idade Média era caótica e forças políticas e espirituais se enfrentavam naquele ambiente). A humanidade é sempre a mesma, seja em qual período for e as forças que se enfrentam ao longo do tempo são sempre as mesmas.

O vazio existencial pode ser falta de um objetivo real de vida .

As vezes não é só no material que se encontra a "Paz" e a "Felicidade". Muitos buscam a meditação, outros trabalhos voluntários, esportes, enfim , vários caminhos e formas para que no final o que realmente importa é o quanto que você pode ser melhor do que um dia já foi ou está sendo.

Resumindo , Evolução do Eu, da individualidade! Encontrar algo que trabalhe esse aspecto de aprimoramento do indivíduo ajuda em muito acabar com esse vazio, pois independe de lugar, circunstâncias, pessoas... basta olhar para dentro de si, e buscar ser um melhor, pai, um melhor irmão, um melhor estudante, um melhor patrão, um melhor atleta... enfim a cada contexto que você estará vivenciando, será uma oportunidade de você manifestar o melhor.

Novos elementos terão que ser buscados  para se somar aos que você já tem... Então o que hoje é vazio, vai se tornar a base para a busca de algo superior, gerando como consequência estimulo para aprender , , ensinar e viver.

@hugocravo, antes de mais nada, agradeço a lembrança.

Sobre a questão, acho interessante entendermos como enxergamos a própria noção de propósito.

Pessoalmente, entendo propósito como uma projeção, como diz a psicologia. É uma ilusão que criamos para compensar o desconforto produzido por constatações desagradáveis, difíceis de lidar, da realidade (a famosa dissonância cognitiva). Felicidade, ética e justiça são outros bons exemplos. 

Ou seja, se eu constato que o mundo não é isonômico, nem recíproco, eu invento a ideia de justiça para compensar o desconforto dessa constatação (e posso transformá-la em uma iniciativa para revertê-la).
Se eu constato que há tristeza e sofrimento na vida, eu crio a ideia de felicidade para compensá-los.
Se eu constato que há um vazio de sentido inerente à minha existência, eu tento compensá-lo com a noção de propósito.
Se eu percebo que aqueles que tem poder não se importam com os que não tem, e os prejudicam quando julgam procedente apenas porque podem, eu crio a noção de ética para compensar esse desconforto.

Ou seja, do meu modesto ponto de vista, não estamos falando de um dado da realidade aqui, estamos falando de um desejo!

Isto posto, não acredito em propósito. Entendo que a noção de propósito, que está em voga, é uma tentativa de responder ao mal-estar contemporâneo. Entendo que o propósito está para o nosso tempo como a fé está para os medievais, e como a filosofia está para os clássicos (em termos antropológicos).

Pois bem. Mas, se o propósito é apenas auto-engano, o que fazer?

Duas frases me deram uma boa direção sobre essa questão. A primeira é a famosa divisa do oráculo de Delfos "Conhece-te a ti mesmo. Saibas tu que és mortal". E a segunda é do Charles Bokowski "Descubra o que você ama, e deixe que isso te mate"!

Se entendermos que nossos desejos mudam com o tempo, a experiência, e a contingência, o máximo que podemos fazer é nos situarmos e adaptarmos. E, se a vida for tranquila o bastante para nos permitir exercer nossa vontade sobre ela, melhor.

Sei que soei evasivo, mas não poderia ser de outra forma. Afinal, se não acredito em propósito, como poderia sugerir um? rs

Em tempo: assim como o @oxe, entendo os estóicos como uma fonte inestimável. Há duas leituras que sempre sugiro quando esse assunto aparece, que são "Meditações", de Marco Aurélio, e "Sobre a brevidade da vida", de Sêneca. Uma terceira e quarta leituras que sugeriria, se você não for desses "neo-ateus de boutique", é Eclesiastes, creditado a Salomão, e o Tripitaka, creditado a Buda. Acho que esses quatro livros demonstram com suficiente clareza que boa parte dos nossos sofrimentos são ilusórios, e que a vida é substancialmente mais simples do que sugere o turbilhão cultural contemporâneo.

Abraço.

@Rothschild

Obrigado por abrilhantar esse fórum.

Passaram-se dois anos desse tópico e foi interessante logar no Bastter hoje, abrir as notificações sociais (coisa que não fazia há tempos) e me deparar com esse tópico.

Não tenho tanto estudo quanto os colegas acima e ainda não me julgo pronto para navegar por águas filosóficas com tanta maestria como eles. Só o que posso fazer é deixar meu relato e contar um pouco sobre a minha vida hoje.

A verdade é que minha vida não mudou tanto, do ponto de vista material. Porém, meu modo de ver e viver a vida mudou muito.

1 - Me converti à Igreja Católica e, aos poucos, estou conhecendo uma religião que eu sempre desprezei por preconceitos adolescentes. É um tesouro inestimável o legado que nos foi deixado e que fica escondido de muita gente.

Se eu dissesse que hoje vivo uma vida cheia de sentido, seria um baita mentiroso. A melancolia e a falta de propósito ainda existem e aparecem de vez em quando. Mas são muito mais fracos, eu consigo lidar com eles e são intercalados com momentos plenos de sentido, sempre com Jesus Cristo. Sem Ele, continuaria no mesmo barco de antes e, sinceramente, eu não desejaria estar lá.

2 - Conheci a teoria dos 4 temperamentos. Sou melancólico e acredito que, apesar de não ser uma exclusividade, essas crises existenciais aparecem e se instalam mais frequentemente no nosso temperamento.

O simples fato de saber que tenho essa tendência de me retrair e de me fechar em um mundo interior, me ajuda a saber que muitas vezes a solução é olhar pra fora, buscar o outro, o meu dever no mundo. Apesar de não ser uma resposta para o sentido de toda a minha vida, é o sentido de um momento, de um dia - e muitas vezes isso basta.

3 - Descobri as maravilhas da cultura ocidental: a arte, a literatura, a filosofia, etc. Até então eu procurava a resposta em autores e doutrinas orientais e, no máximo, me aventurava a ler Sêneca, ou pior, cópias de Sêneca. Desde então tive a oportunidade de conhecer outros autores e ter um panorama mais geral da nossa cultura ocidental. O simples desejo de conhecer também alimenta a minha vida. 

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Enfim, eu não tenho uma solução mágica, a melancolia ainda aparece de vez em quando, mas aquela busca desesperada por um sentido desapareceu, provavelmente porque eu sei quem é, e sempre foi, o meu sentido. Resta conseguir trilhar o caminho estreito para chegar até Ele.

Um grande abraço, amigos!

@gabiris, uma palavra: emocionante.

Abraço.

"Fizeste-nos para Ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti"

Eu tinha começado a escrever sobre o que eu achava da questão do propósito, mas apaguei várias vezes, até desistir, por não ver algo relevante a acrescentar a discussão. Fui fazer outra coisa, ver alguns vídeos abertos em outras páginas.

Na primeira aba, por coincidência, tinha um vídeo aberto sobre Kierkegaard.

Acredito que algumas das idéias dele vão ao encontro das postagens do @oxe, @Rothschild e @gabiris.


https:

Livro muito interessante sobre esse tema:
"A Beleza Salvará o Mundo", do pensador búlgaro Tzvetan Todorov

 

Pois é, @jucemar. Kierkegaard é uma das minhas fontes no pensamento moderno.

A tese dos três estágios, e a percepção da angústia como inexorável ao humano foi uma tremenda descoberta pra mim.

Aliás, a abordagem existencial do Kierkegaard tem uma influência muito bem marcada por Eclesiastes, que citei no comentário anterior — lembrando que ele foi um pastor luterano.

O irônico da minha experiência com Kierkegaard, é que, por influência do pensamento dele (e outros modernos), me permiti tomar a direção contrária a preconizada por ele, e fui flertar com o ateísmo, com que sou casado até hoje. rs

Grato pela indicação do vídeo. 

Abraço.

Vi esse vídeo e me lembrei deste tópico. Não é sobre propósito, mas sobre a figura que chamamos de "eu" — da qual entendo que a noção de propósito seja derivada. 



Abraço.