"Cultivamos um desdém incapacitante pelo abstrato. Certo dia, em dezembro de 2003, quando Saddam Hussein foi capturado, a
Bloomberg News exibiu a seguinte manchete, às 13h01: TÍTULOS DO
TESOURO DOS EUA SOBEM; CAPTURA DE HUSSEIN PODE NÃO CONTER TERRORISMO.
Sempre que ocorre uma movimentação no mercado, a mídia sente-se
obrigada a oferecer uma “razão”. Meia hora depois, tiveram que editar outra
manchete. À medida que os valores dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos
caíram (eles flutuam o dia todo, portanto não havia nada de especial nisso), a
Bloomberg News tinha uma nova razão para a queda: a captura de Saddam (o
mesmo Saddam). Às 13h31, publicaram o novo boletim: TÍTULOS DO
TESOURO DOS EUA CAEM; CAPTURA DE HUSSEIN AUMENTA A ATRAÇÃO DE RECURSOS DE RISCO.
Portanto, era a mesma captura (a causa) explicando um evento e seu oposto
exato. Claramente, não pode ser isso; os dois fatos não podem estar relacionados." Assim, um fato aleatório (variação do valor dos títulos do tesouro dos EUA), ou com múltiplas causas, sujeito a todo tipo de influências, tende a ser explicado por uma única causa (provavelmente, errada).
(Taleb, Nassim - A lógica do cisne negro)