Por Shawn Achor - "O Jeito Harvard de Ser Feliz"
"Enquanto vivemos nossa vida cotidiana, nossas ações muitas vezes são determinadas pelos dois componentes conflitantes do cérebro: um sistema emocional automático (vamos chamá-lo de Impulsivo) e o nosso sistema cognitivo racional (vamos chama-lo de Pensador).
A parte mais antiga do nosso cérebro em termos evolutivos é o Impulsivo, que se baseia na região límbica (emocional), onde a amígdala reina suprema. Milhares de anos atrás, esse sistema automático ou reflexivo foi necessário para a nossa sobrevivência. Na época, não tínhamos tempo para pensar logicamente quando um tigre-dentes-desabre surgia de trás de um arbusto. Quando isso acontecia, o Impulsivo entrava prontamente em ação. A amígdala soava o alarme, inundava nosso corpo com adrenalina e hormônios do estresse e acionava um reflexo imediato e inato – uma reação do tipo “lutar ou fugir”. É na verdade graças ao Impulsivo que estamos aqui 10 mil anos depois.
O propósito do Pensador é simples, mas reflete um enorme salto evolucionário: pense e só depois reaja. O Pensador costuma ser mais eficaz para solucionar a maioria dos nossos desafios cotidianos, mas infelizmente, quando estamos nos sentindo estressados ou fora de controle, o Impulsivo tende a dominar. Isso não é algo que ocorre conscientemente. Na verdade, é uma reação biológica. Quando estamos sob pressão, o corpo começa a produzir um excesso de cortisona, a substância química tóxica associada ao estresse.
Quando o estresse atinge um ponto crítico, até o menor contratempo pode acionar uma reação da amígdala, basicamente pressionando o botão de pânico do cérebro. Quando isso acontece, o Impulsivo subjuga as defesas do Pensador, levando-nos a agir sem pensar de maneira consciente. Em vez de “pensar e só depois reagir”, o Impulsivo reage com o “lutar ou fugir”. Com isso, tornamo-nos vítimas do que os cientistas chamam de “sequestro emocional”.
Uma economia em retração também pode ser um poderoso acionador do sequestro emocional. Neurocientistas descobriram que perdas financeiras na verdade são processadas nas mesmas áreas do cérebro que reagem a um perigo mortal. Em outras palavras, reagimos a lucros em queda e a reduções na reserva para a aposentadoria da mesma forma como os nossos ancestrais reagiam diante de um tigre-dentes-de-sabre.
Quando o nosso cérebro pressiona o botão do pânico, a razão sai pela janela, prejudicando a nossa carteira, nossa carreira e nossos resultados financeiros.
Então, como podemos tirar o volante das mãos do Impulsivo e dá-lo de volta ao Pensador?
A primeira meta que precisamos atingir – ou o primeiro círculo que precisamos traçar – é a autoconsciência.
Experimentos demonstram que, quando as pessoas são preparadas para sentir intensa angústia, as que se recuperam mais rapidamente são aquelas capazes de identificar como estão se sentindo e expressar esses sentimentos em palavras.
Escaneamentos cerebrais mostram que as informações verbais reduzem quase imediatamente o poder dessas emoções negativas, melhorando o bem-estar e as habilidades de tomar decisões. Dessa forma, verbalizar o estresse e o desamparo, seja anotando os sentimentos em um diário ou conversando com um bom amigo ou confidente, é o primeiro passo para retomar o controle.
Dominado o círculo da autoconsciência, sua próxima meta deve ser identificar os aspectos da situação que você pode controlar e os que não pode. O objetivo é deixar de nos concentrar nos fatores de estresse que estão fora do nosso controle para redirecionar nossas energias às áreas nas quais nossas ações podem ter um verdadeiro impacto."