Data original: 24/02/2020
O ser humano simplesmente não consegue ser puramente racional sob condições não esperadas.
É muito fácil falar que já internalizou a filosofia, que escolheu empresas sólidas, com lucros consistentes e que a diversificação vai te proteger daquelas empresas que invariavelmente vão ficar pelo caminho.
E de fato é fácil e bem mais simples do que querem fazer parecer aí fora. Não chega a ser algo matemático, mas estamos caminhando cada vez mais pra um sistema objetivo (os cachorrinhos verdes estão aí pra simplificar e dar cada vez mais #pas para nós). É só colocar probabilidades a nosso favor. Algumas boas leituras pelo Roteiro do Iniciante já são suficientes pra nivelar bem o conhecimento básico do investidor.
Difícil é ver o patrimônio que foi construído durante 15~20 anos (240 aportes mensais!) começar a dissolver mês após mês. Tente imaginar o seguinte: durante a crise, como vai ser a sensação ao chegar aquele dia do mês de realizar o aporte, e que cá entre nós, você vai dar uma espiada no Saldo Consolidado, e ver que o aporte novo está longe até mesmo de cobrir os buracos deixados pelas quedas consecutivas. Não seja prepotente e tão confiante. Em algum momento você vai querer ver se na crise a sua diversificação está te protegendo mesmo e vai dar aquela confirmada se você está sofrendo menos danos do que o "mercado" no geral. Você pode até alegar que hoje em dia, quando chega o dia do aporte, nem repara em saldo consolidado na corretora. Mas tem tanta certeza assim que não vai espiar nem um pouco durante esses longos meses de crise macro? Você se garante que não vai começar a pensar durante o trajeto pro trabalho algo como "voltei pro mesmo status que tinha de patrimônio há 7 anos atrás. Com o dinheiro desses aportes que agora evaporaram eu teria trocado de carro e levado a família toda pra viajar. Poderia ter implementado aquele tal projeto"? Ou talvez um "Em 2008 a crise não demorou tanto pra passar. Será que as empresas vão chegar a voltar para o patamar que estavam?"
Pare e pense bem. Se você realmente acha que consegue deixar de lado o aspecto psicológico porque acha que já internalizou a filosofia, relembre se você teve reações emotivas na última vez que alguma dessas situações te ocorreram ou se você conseguiu ser não-reativo:
- Levou uma fechada perigosa na rodovia
- Algum engraçadinho mexeu com a sua esposa/esposo
- O pneu do carro furou enquanto estava a caminho de um compromisso
- Foi repreendido/criticado pelo superior em uma reunião no trabalho
- Um parente/amigo próximo ficou internado no hospital
- Bateram no seu carro
- Saltou de paraquedas
Essas e outras situações como a acima são coisas do cotidiano capazes de trazer reações de medo e ansiedade diferentes em cada um. Alguns vão reagir de forma mais intensa que outros. Sentado na poltrona e com calma eu também consigo falar que acidente de trânsito sem nenhuma vítima é apenas questão de dano material. Mas você lembra como você reagiu quando aquele cara não respeitou o Pare e quase atingiu seu filho no banco de trás? Perceba que os exemplos que dei são de casos simples e que não trazem grandes consequências para quem passa por eles. Mas dinheiro, tempo e trabalho gastos podem mexer com a cabeça de um ser humano de uma forma inesperada.
Enquanto coisas simples e sem maiores consequências na minha vida ainda me causarem reações emotivas desproporcionais, não serei arrogante pra encher o peito e dizer: "pode vir a crise que eu vou manter a calma e seguir o protocolo".