Caros Amigos,
Pegamos a estrada rumo ao Uruguai. Era Julho de 2016.
Sem paradas definidas, nem hotéis reservados. Nada muito programado, coisa que não me é comum. Fomos decidindo tudo pelo caminho. E foi bem massa!
Bom, em 7 dias rodamos mais de 2.300km, o que pra mim é bastante... Entusiasmado em poder compartilhar desta incrível história contigo, e na companhia das boas lembranças que trouxemos, dedico um pouco do meu tempo a escrever um breve e sincero relato da nossa viagem ao Uruguai.
Espero que goste. Pois nós gostamos. Abre uma gelada e pega carona com a gente! Vai ser legal!
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1º dia - Sexta
Arrumamos as malas, enchemos o tanque a R$ 3,54/litro, calibramos os pneus em 32 libras, fizemos um estoque de sobrevivência no auto e partimos de farol aceso.
Pode ficar tranquilo meu querido, que a carta verde tá na mão.
Fiz a carta diretamente numa corretora de seguros aqui na cidade. Custou algo em torno de USD 31 (R$ 104) pra 7 dias de cobertura. Olha só: pra 8 dias o preço disparava pra USD 45. Muito caro esse oitavo dia.
Tudo certo? Bora! Ah: coloca o cinto.
Saímos de Chapecó-SC tendo como primeiro objetivo chegar em Pelotas-RS. Não deu.
Fomos na boa, sem pressa. E, já escurecendo, passamos por Santa Maria-RS bem no horário de pico, o que atrasou um pouco o trecho. Andamos mais um pouco e paramos na metade do Rio Grande: jantamos e dormimos no Hotel do Trevo, em São Sepé-RS.
Até aqui rodamos uns 500km.
Ali em São Sepé tem um fogo de chão que está aceso há mais de 200 anos, sem apagar. Duzentos anos, cara! Que loucura! Será que é o mesmo fogo ininterrupto? Bom, não fomos conhecer, então fica pra próxima.
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2º dia - Sábado
Acordamos mais cedo, tomamos café e seguimos viagem. Hoje vamos até Punta.
Não deu. De novo. Chegamos ao fim do Brasil: Chuí-RS.
Fronteira com o Uruguai. Cidade mais meridional do Brasil. Ali tem a praia mais fria do país: a Barra do Chuí, que fica ao lado da maior praia do mundo, que é a Praia do Cassino. Que coisa. Quem nasce em Chuí é chuiense.
No caminho passamos com cuidado pela Estação Ecológica do Taim.
Nesse trecho há vários radares com limite de 60 km/h pois alguns bichos, principalmente as capivaras, atravessam a pista e muitas acabam sendo atropeladas por seromanos em seus veículos. Vimos várias delas caídas na beira da estrada. Triste. Tem que cuidar.
Bá! As estradas ali no Sul são pouco movimentadas, principalmente entre Rio Grande e Chuí. É praticamente uma reta infinita e o limite é 80 km/h. Pensa: uma baita de uma reta, infinita, ninguém na estrada, e nós a oitenta por hora... Cansa... Tive que cuidar pra não dormir.
Minha esposa dormiu, mas ela tava de carona. Aí pode.
Ah, olha só: Abastecemos o auto ali perto de Canguçu-RS a R$ 4,17/litro. Quanto mais se desce, mais cara é a gasolina.
Chegamos no Chuí lá pelas 3 da tarde. Trocamos reais por pesos em uma casa de câmbio a 8,70 pesos por real. Boa cotação: Cambiamos.
Obs: A cotação em Punta del Este estava em torno de 8,30-8,50 pra 1; já em Montevideo vimos desde 7,50 até 8,80 pra cada real.
Passamos o resto da tarde gastando o capim nos free shops. Mentira. Só fomos dar uma olhadinha.
Dormimos no Turis Firper Hotel.
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3º dia - Domingo
O dia amanheceu bem bonito. Tinha que ver meu camarada.
Enchemos o tanque a R$ 4,04 o litro e seguimos. Passamos a fronteira, que na verdade é tipo uma linha imaginária e chegamos no Uruguai. Pronto. Missão cumprida: Já poderíamos voltar pra casa e dizer que fomos pro Uruguai. Mas... Seguimos em frente.
As estradas no Uruguai também são praticamente retas infinitas e muito pouco movimentadas. Mas lá se pode andar muito mais rápido, pois o limite não é de meros 80 km/h como no Brasil. Lá sim que é bom: lá é 90 por hora! Agora vai!
Entramos à esquerda pra conhecer o Parque Nacional de Santa Teresa, que tem mais de 2 milhões de árvores. O pessoal acampa por lá. Nós não. É muito frio no inverno.
Queríamos conhecer a Fortaleza de Santa Teresa, mas estava fechada. Abre das 10h as 17h. Ficaremos espertos na próxima.
Bom. Voltamos pra estrada e descemos até Punta Del Diablo pra conhecer.
Tem umas casinhas pequenas e bem interessantes por lá, mas a praia tava deserta.
Cara, ali aconteceu o seguinte: tinha uns pescadores em jalecos de couro, tipo de açougueiro, limpando e cortando uns peixes enquanto fumavam seus cigarrilhos... a imagem foi meio sinistra, me lembrou do filme O Albergue, e depois disso fomos embora de imediato.
Mas a praia é bonita, viu? Bem legal. Diferente mesmo.
Viu, fica tranquilo, não foi nada. Nem tivemos medo, imagina. Os caras tavam só trabalhando. As facas pareciam bem afiadas. Só pareceu sinistro, foi tranquilo. Não foi perigoso. De boa. Imagina. Tinha uns cachorros soltos por lá também, e seguiram a gente. Os caras nem falaram nada pra gente. Na verdade tinham uns caras estranhos por lá, recostados nas paredes das casas tomando café da manhã com a cara no sol, observando a gente de canto de olho... mas... normal né? Nós éramos forasteiros na terra deles, né isso?
Enfim... a praia é bem bonita... vamos... entra no carro logo querida.
São e salvos seguimos viagem até José Ignacio, onde paramos num posto pra abastecer 300 pesos. 300 pesos, meu... o frentista não gostou muito... pra mim era como se tivesse abastecendo 300 reais!
Olha só: a gasolina é tabelada no Uruguai (ou era, hoje não sei): estava 42,50 pesos por litro. Pelo câmbio que conseguimos, dá algo em torno de R$ 4,88/litro de gasolina de boa qualidade.
Ali em Jose Ignacio conhecemos um farol muito bonito: o Farol de José Ignacio.
Por 250 pesos se pode subir lá no alto: o farol tem uns 26 metros de altura e a vista é bem bonita. Ficamos um pouco ali, tiramos umas fotos e seguimos.
Passamos também na Ponte Laguna Garzón, que é uma ponte redonda. Olha no Google as fotos. Bem legal. Nunca tinha visto uma ponte redonda. Interessante. Na verdade, é só uma ponte redonda. Mas é legal.
Depois dessa, rodamos mais um pouco e finalmente chegamos em Punta del Este. Muito bela. Parece que estamos em outro país: ruas e avenidas largas, mansões luxuosas e casas sem grades nem muros, muitos arranha-céus, lojas de alto luxo... Frequentada por artistas, famosos, multimilionários, membros da alta sociedade... e nós também.
Almoçamos arroz e bife num boteco ali no centro por 140 pesos. Esse foi barato, por que achamos a comida um pouco cara no Uruguai.
Ficamos no Hotel Florinda, que é bem localizado. Bom custo-benefício. Fizemos o check-in perto das 3 da tarde, pegamos duas bikes no hotel e fomos pedalar. Pedalar em Punta é muito bom.
Como eu sempre digo: melhor em Punta del Este com sol do que em Chapecó com chuva.
Pedalamos por boa parte da península e voltamos. Ventava um vento frio.
À noite fomos na missa, na bonita igreja de Nsa. Sra. da Candelária, pra conhecer como é que é a missa no Uruguai: é em espanhol. Em castelhano.
E depois da missa fomos jantar em um restaurante perto do porto. Os restaurantes no Uruguai costumam cobrar pelo cubierto, que são uns pãezinhos de tira-gosto, e também uns 10% pelo servicio: uma gorjetita.
Restaurante muito bem recomendado no TripAdvisor, então acho que erramos na escolha dos pratos, porque tava só mais ou menos. Bebemos uma águinha com gás e a conta ficou em 860 pesos, algo em torno de 100 pilas, sem servicio nem cubierto.
Quando eu vi na conta este 860 quase caí pra trás. Pensei: 860 contos! Tá doido!!!
Depois daquela noite, concluímos que a comida era um pouco cara, mas era bem servida. Quase não vencemos a janta. Dali pra frente adotamos uma nova estratégia: pede-se apenas um prato e dois pratitos pra compartir. Vou trazudir: pede-se um prato da comida e dois pratinhos pra compartilhar. Se for pouco, pede-se outro. Baita ideia. Vamos gastar a metade! Pra nós funcionou.
Com o dinheiro que economizamos do servicio, compramos um sorvetinho bem bom na Freddo. Tem várias sorveterias da Freddo lá em Punta. O de dulce de leche é muito bom mesmo.
E pra dar ainda mais a impressão de que estávamos no estrangeiro, o pessoal vinha falando em espanhol. Pra que?
Entender a gente entende, tranquilo. Responder é um pouco mais complicado, mas a gente aprendeu espanhol na escola, então dava pra se virar: oi é hola; tudo bem é todo bien; água é agua mesmo, sem acento; e pra pedir uma Coca é só dizer Cueca Cuela.
Eles entendem. Tá tudo certo.
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4º dia - Segunda
O clima não ajudou: Tempo meio chuvoso, frio e com bastante vento. Não deu pra pedalar.
O jeito foi passear de carro, conhecer o porto e os cassinos. O tempo fechado foi sinal do que viria pela frente: Perdi 100 pesos num cassino.
Fomos no Conrad, um dos maiores cassinos da América. Chique demais. Muito massa!
Nós não jogamos, mas eu poderia ficar horas só olhando... Gostei mesmo é da roleta. O pessoal jogava em dólares. Milhares de dólares.
Nos caça-níqueis os seromanos ficam sentados apertando um botão a noite toda... Pelo que vi, não importa se ganham ou se perdem: as pessoas gostam mesmo é de apertar o botão e ver a mágica acontecer. Passam horas apertando um botão. Sei lá. Eu acho a roleta é mais legal.
Tem várias mesas de baralho e de dados ali também. Tem salinhas exclusivas pro pessoal que é VIP e tudo o mais. É tipo Las Vegas, embora eu não conheça Las Vegas ainda. Só vi nos filmes. Então é tipo nos filmes.
O ambiente todo é pensado pro cidadão ficar jogando o máximo possível. Eu venci a tentação e não joguei. Queria jogar, mas minha esposa não deixou... eu poderia ter ficado milionário e comprado uma Mercedes, meu sonho... ou então poderia ter falido e ter que lavar os pratitos pra pagar a conta... Ainda bem que não joguei... já tinha deixado 100 pesos num outro cassino menorzinho na city... Se eu soubesse, deveria ter deixado esses 100 pesos no Conrad. Seria bem mais massa.
Droga. Perdi 100 pesos. Vai ser difícil esquecer: dava pra comprar uma Cueca Cuela.
Falando em droga, lá no Uruguai a maconha é meio que legalizada. Pensando aqui com meus botões: eu não jogo, não fumo, bebo pouco... deveria ter ficado em casa mesmo.
Bom. Voltando ao relato e contando o dia do começo:
Pela manhã fomos no porto, onde alguns pescadores vendem seus peixes e fumam ao mesmo tempo... que coisa. O pessoal fuma bastante no Uruguai. Lá em Montevideo mais ainda.
Ali tem bastante gaivota tentando pescar uns peixinhos pra ganhar o dia. Os lobos marinhos também chegam por ali pro pessoal alimentá-los, principalmente perto do meio-dia. São grandões. Naquele dia tinha 4.
O povo pega os restos dos peixes dos quiosques, entranhas e tudo o mais, e alimenta os lobos, filmando e tirando selfie. Coisa de turista. Estão bem mal acostumados esses lobos.
Em Punta tem a Isla de Lobos, onde moram milhares de lobos marinhos. Barcos de passeio saem diariamente do porto pra lá. Nós não fomos. O tempo tava ruim.
De acordo com a nossa estratégia de alimentação sustentável, almoçamos um delicioso omelete de salmão num fast sea food ali no porto de Punta, que servia tranquilamente duas pessoas que não queriam comer muito, tipo nós. Acertamos no pedido.
Depois fomos dar umas voltas de carro e conhecemos o shopping, pra ver como é que era. É normal, igual no Brasil. Entramos já quase saindo e voltamos pra península. Já era de tardinha. Vamos tomar um café e comer um lanche numa padaria bacana?
Cara, sério, o café com leche custava tipo uns 220 pesos: Dá mais de 20 conto por uma xícara de café. Saltamos fora de imediato. Vamos tomar café no Brasil. Ou no café da manhã do hotel que tá incluso...
E aí acabamos encontrando uma promoção de 2 hamburguesas con papas fritas por 330 pesos em outro restaurante. Aliás, se come muita carne e batata por lá.
Voltamos pro hotel, tomamos um banho e fomos pro Conrad como contei agora há pouco.
Mais tarde, deslumbrados e desnorteados depois de visitar o Conrad, esquecemos da nossa estratégia alimentícia e pedimos dois pratos num bom restaurante na Av. Gorlero. Cara, veio comida pra umas 4 pessoas, e já eram umas 10 da noite. Custou uns 1.200 pesos.
Comemos tudo, mas demoramos pra dormir depois dessa.
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5º dia - Terça
Mais um dia nublado. Bem que a moça do tempo avisou. Era chegada a hora de nos despedirmos da praia mais bonita do Rio Grande do Sul: tchau, Punta!
Antes de partir, tiramos a tradicional foto em La Mano, possivelmente o principal ponto turístico de Punta del Este. Uma mão gigante saindo da areia. Não sei bem o que significa, mas é interessante.
Punta é uma península, o que também é interessante. La Mano fica na Praia Brava, em mar aberto, onde nasce o sol. Do outro lado fica a Praia Mansa, banhada pelo Rio da Prata, onde o sol se põe.
No caminho a Montevideo está Punta Ballena, onde fica a icônica Casapueblo. Dizem que o pôr do sol ali é inesquecível. Não tem como não ir a Punta e não visitar a Casapueblo.
Nós não fomos. Passamos direto, o tempo tava ruim. Fica pra próxima...
O trecho entre Punta del Este e Montevideo é praticamente todo duplicado. Tipo uma BR-101, só que uruguaia. E no meio do caminho fica Piriápolis. Entramos pra conhecer.
Dizem que foi o balneário mais famoso do Uruguai antes de Punta del Este. A cidade tava deserta, o vento ventava frio, o mar tava brabo... A praia é bonita. No verão.
Nossa passagem se resumiu a uma foto em frente ao grandioso Hotel Argentino, símbolo do balneário de outros tempos.
Ah, mas ainda tem o seguinte meu querido:
Ficamos sabendo que ali tem um castelo muito massa, que foi residência do fundador da cidade, Francisco Piria. Dica quente de um cara que encontramos no hotel lá no Chuí, e que gosta muito de Piriápolis.
Bá... Perdemos um tempão procurando o tal castelo. Até que desistimos. Deveria ter pedido informação na cidade, mas fui teimoso.
Mas olha como são as coisas: na saída da cidade, voltando pra BR rumo a Montevideo, eis que surge um castelo ao lado da estrada.
Sério. Que sorte! Achamos o castelo!
Foi como achar dinheiro no bolso da calça. Tem poucas coisas melhores do que achar dinheiro no bolso da calça.
Só que tava fechado. Tudo bem, o importante é que achamos o castelo. Orgulhosos, tiramos uma foto ali na frente e fomos embora faceiros.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas... no hotel em Montevideo, pesquisei sobre o tal castelo, e as fotos do Google não batiam com as nossas. Ué, como assim? Cara, tem 2 castelos em Piriápolis; e nós achamos o errado. Que decepção. Foi uma choradeira.
Essas coisas acontecem. Outra hora a gente volta e conhece o castelo, e também a Casapueblo... E aí vamos ficar hospedados lá no Conrad também... Tá tudo certo, não chora querida, vem, vamos tomar um sorvete.
Ok. O tempo de repente melhorou. Céu azul. Do nada.
Chegamos em Montevideo lá pela 1 da tarde, e fomos direto no shopping Punta Carretas pra almoçar. O trânsito ficou mais complicado. Até então, dirigir no Uruguai tava molezinha. Eu tava de pé no jipe. Mas em Montevideo a coisa ficou séria: estávamos na capital dos uruguaios no horário de pico. Concentração total. Foco, força e fé.
De repente levo uma buzinada. Opa. Seria algum conhecido, alguém de Chapecó passeando no Uruguai, algum parente? Não pode que eu tava barbereando em Montevideo...
Apesar de não termos nada reservado, pesquisávamos potenciais hotéis na noite anterior no Booking e no TripAdvisor. Facilitou muito. Atenção: Muitos hotéis no centro de Montevideo não possuem garagem. E aí cobram de USD 12 a 15 por dia pra guardar o carro num estacionamento conveniado.
Bom, ficamos no Hotel Lafayette. Já tinha me hospedado ali com o pai, dois anos atrás. Bem localizado, no centro. Pertinho da Av. 18 de Julio e da cidade velha. Guardamos o auto na garagem e deixamos o HB20 guerreiro lá, quietinho, descansando.
Fomos caminhar sem pressa pela Av. 18 de Julio, passamos pela Plaza Independencia, descemos no Mausoleo a Jose Artigas, que é meio sinistro, cruzamos a Puerta de la Ciudadela e entramos na cidade velha.
Chegando na Catedral, entramos pra conhecer. Muito linda. Eu não entendo nada de arquitetura, mas a arquitetura interna da Catedral é impressionante. Iluminação direcionada, som ambiente daqueles órgãos de igreja, sabe? Bacana. Uma das igrejas mais bonitas que tive a oportunidade de conhecer até agora.
A próxima missa seria em 15 minutos. Ficamos. Valeu a pena. Entendemos praticamente toda a celebração. Tava deitando no espanhol já. Após a missa, passamos no McDonalds pra lanchar. Experimentamos o Mushroom Dijon e pegamos um cappuccino pra levar.
Já estava escurecendo. Voltamos pro hotel, tomamos banho e saímos pra jantar no bem recomendado El Fogón, pertinho do hotel.
Tem um espelho que ocupa toda a lateral do restaurante. Dá a impressão de ser enorme e lotado. Tava lotado, mas não era enorme.
Pedimos a carta ao garçom e ficamos ali, por um bom tempo, decidindo... Muitas opções e o cardápio em castelhano complica um pouquinho... O garçom voltou e nada decidido ainda.
'Baby beef con ensalada verde. Es lo mejor', disse ele. Ok, então vamos de baby beef. Com saladinha. Ah, e traz dois pratitos, viu?
Pra beber, hoje vamos fazer uma extravagância: ‘queremos uma sangría o clericot’. Era assim que tava na carta: sangria o clericot.
'Sangria o clericot?', ele perguntou.
'Si'.
Amigo, 'o' em espanhol quer dizer 'ou' em brasileiro. Que burro. Dá zero pra eu.
Tá. Caiu a ficha. Era pra escolher Sangria ou Clericot. Como eu ia saber? Ok, entendi.
'Qual la diferencia?', perguntei.
'Sangria es mejor.'
'Ok, mas qual a diferença da sangria pro clericot?'
'Sangria es mejor.'
‘Ok, Sangria’.
Aí foi um fiasco. O garçom trouxe uma jarra com frutas picadas e um pouquinho de suco no fundo, deixou na mesa e saiu sem falar nada. Olhei pra aquela jarra, não tinha praticamente nada pra beber ali. Que bucha, pensei. Devia ter pego uma Coca.
Decepcionado com a Sangria, peguei a jarra e comecei a mexer e misturar aquelas frutas todas. Eu tava pronto pra servir na minha taça aquele caldo do fundo quando o garçom voltou com uma garrafa de vinho tinto na mão, olhou pra mim com uma cara até de pena, por ver que eu não sabia nada do mundo, me fitou como quem não tava entendendo por que raios eu tava ia virar a jarra na taça... e me salvou: pegou a jarra de frutas, abriu o vinho e encheu a jarra. Tava feita a sangria. Aí entendi tudo.
Que fiasco. Acontece. Deixa eu me defender: nós praticamente nunca tomamos vinho, eu nunca tinha visto uma sangria o clericot na frente. Como ia saber que faltava o vinho? Triste porém real.
Bá, mas era muito boa aquela bebida. Bebemos tudo. E ainda comemos as frutinhas da jarra. Matamos a pau. A carne tava muito boa também. Macia. Show de bola.
Veio o garçom: 'Satisfechos ou querem outro prato?'.
'Mucho satisfeitos...'
'Postre?' (Postre é sobremesa em espanhol. Olha que nome feio.)
Bom, estamos dentro do orçamento. Vamos aproveitar essa noite maravilhosa na capital uruguaia: ‘Queremos postre’.
Olhamos a carta por um bom tempo... Ele voltou e ainda não tínhamos decidido. O garçom percebeu que a gente tava totalmente perdido e indicou a 'Postre degustacion para dos. Es lo mejor'.
‘Se es lo mejor é claro que queremos, compadre.’
Cara, veio um prato retangular com 4 tipos de sobremesa. Bota degustação nisso. Servia a família inteira no almoço de domingo. Tinha uma que era meia boca. As outras eram muito boas.
Enfim, comemos mais sobremesa do que carne, enchemos a cara de vinho. Tá bom por hoje. Vamos embora pro hotel.
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6º dia - Quarta
Comemos ovos mexidos com bacon no café da manhã. Bá! Não é todo dia que se come bacon no café da manhã.
Era nosso último dia na capital uruguaia, então fomos caminhar. Caminhamos um monte. Uns 30 km, eu diria...
Montevideo é uma cidade incrível. Você tá andando e, do nada, aparece um museu, um prédio histórico, uma exposição de arte ou um McDonalds.
Foi assim, meio que de repente, que conhecemos o Museu da Moeda e do Gaúcho, na Av. 18 de Julio. Chegamos bem na hora em que uma turma de estudantes uruguaios assistia a uma palestra sobre a história e a vestimenta do gaúcho. Show. Ficamos e assistimos também.
Depois, seguimos até o Museu do ONREVOG, na Praça Independência, onde se conta a história da presidência. Saindo do museu, do nada, nos deparamos com a troca da guarda do Mausoleu a Jose Artigas, ao som da banda dos guardas. Vamos assistir. Nunca tinha visto coisa igual ao vivo. Achei bem interessante.
Encerrada a cerimônia, seguimos sem direção. Pra cá, pra lá, subindo e descendo, descendo e subindo... e assim fomos desbravando as estreitas ruas da cidade velha. De repente, uma porta aberta, opa, mais um museu. Vem.
Achamos o Museu Histórico Nacional, na Casa Rivera. Nossa, tinha bastante coisa antiga lá. Ficamos um bom tempo ali olhando as coisas. Bem massa. E outra: tinha banheiros limpos. Virou parada estratégica. Nessa tarde, visitamos 3 vezes o mesmo museu.
Depois, fomos almoçar num restaurante barato ali perto da Catedral. Almoçados, seguimos rumo ao porto. No caminho, encontramos a Igreja de São Francisco. Entramos. A igreja tava em reforma, vazia, meio assustadora. Não ficamos muito.
Lá fora, a monumental sede do Banco Republica. Grandona. Entramos só até onde era permitido. Viemos em paz, não queremos confusão. Em seguida, já estávamos chegando no porto.
E aí descobrimos que lá em Montevideo tem um Bus Turistico, que passa pelos principais pontos turísticos da cidade, e você pode descer em qualquer um deles e depois subir no próximo Bus Turistico com o mesmo bilhete. Tipo a Linha Turismo de Curitiba, só que mais cara. Era uns 80 conto cada um.
Bom, já era passado da metade da tarde, não ia dar tempo de descer em muitos lugares, então não embarcamos no Bus. Fica pra próxima também.
Enfim, chegamos ao famoso Mercado del Puerto de Montevideo. O pessoal fala muito na internet coisas como: "amigo, não deixe de ir ao Mercado do Porto, é maravilhoso, imperdível, inesquecível etc."
Não achamos o bicho, não. É um lugar com vários restaurantes que servem a tradicional parrillada uruguaia, assim como a maioria dos restaurantes de Montevideo. Dizem que a carne do El Palenque é sensacional.
Não sei, não comi, não posso opinar. Talvez seja mesmo. Ou talvez seja igual às outras. Quem souber avisa aí.
Aproveita-se melhor o Mercado indo ao Mercado pra comer. Como já tinhamos almoçado antes, saímos logo e seguimos nossa jornada. Dali, caminhamos novamente por entre as ruas da cidade velha até a Rambla, a avenida que contorna o Rio da Prata.
Nosso destino agora era o charmoso Teatro Solis, pois às 16 horas tinha a última visita guiada do dia. Antes, conhecemos rapidamente o Museu do Correio Uruguaio.
Chegamos ao Teatro Solis em tempo. Na quarta-feira a visita é gratuita. Fica a dica. A sala principal do teatro é muito chique. Vale a visita.
Depois voltamos pra Av. 18 de Julio e entramos numa exposição fotográfica de gente pelada: chamam de nú artístico. Saímos imediatamente.
Passamos pela Plaza del Entrevero e descemos pela Rio Negro. O objetivo era chegar até ‘olha lá aquele negócio que parece turístico, vamos lá ver o que é’. Era o Palacio Legislativo.
Mas não deu. Era longe demais. Paramos na metade do caminho, numa lancheria dum posto da Ancap, pra tomar uma água e comer uma empada. Uma só, porque a empada era muito cara. Eu era muito zé continha. Ainda sou, mas menos agora,
Voltamos pra 18 de Julio e entramos numa feirinha de artesanatos ali perto da Plaza de Cagancha. Que nome: Praça da Cagancha. Eu queria sair logo da feirinha, mas minha esposa queria ver tudo, então tive de ficar um pouquinho.
Aí saímos e caminhamos mais, até chegar na Fonte dos Cadeados, onde comemos um churro bem gostoso. A placa dizia que custava 35 cada churro.
‘35 reais cada churro!!!??’ pensei alto.
‘Pesos señor’. Ah, é mesmo. Se é pesos então pode.
Seguimos pela avenida até uma esquina onde na outra esquina na diagonal da nossa tinha mais um prédio que talvez fosse algo que poderíamos conhecer, mas já estava escurecendo e as pernas já estavam travando... então desistimos e pegamos nosso rumo de volta ao hotel. Era a Intendencia de Montevideo. A Prefeitura.
Antes de chegar no hotel, paramos numa pizzaria chamada El Candil pra comer uma musarela e beber um café. O garçom parecia que não tinha muita vontade de atender, mas a pizza era bem boa.
E ainda antes de chegar no hotel, desviamos à direita por que eu queria ver a programação do bem comentado no TripAdvisor Baar Fun Fun, que era ali perto.
Minha esposa não queria ir até lá por que já tava cansada de tanto caminhar, mas não me deixou ir sozinho por que é uma boa esposa e tem sentimentos por mim, não queria que eu chegasse lá sozinho e tomasse umas e outras e não voltasse nunca mais... então foi junto comigo.
As ruas são bem escuras por ali. O bar parecia perto, mas não chegava nunca. Até que chegamos e estava fechado. Que bucha. Perdóname querida.
Finalmente voltamos pro hotel. Mortos a pau. Caminhamos praticamente uma maratona naquele dia.
Vamos tomar banho, descansar um pouquinho e depois vamos sair jantar. Esse era o plano.
Era. Capotamos de cansados e acordamos só amanhã.
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7º dia - Quinta
Comemos ovos mexidos com bacon no café da manhã de novo... Já tava me acostumando com a vida boa.
Pegamos o carro na garagem, nos despedimos de 1 milhão e meio de pessoas que moram em Montevideo e partimos pro norte pela Ruta 5. Tchau, gente!
Era dia de greve geral. Muita coisa não funcionou naquele dia, como algumas lojas, lotações, o Bus Turistico e os pedágios! Opa! Economizamos 2 pedágios no caminho de volta.
Que beleza.
As cidades no interior do Uruguai são bem distantes umas das outras, inclusive sem postos de gasolina e paradas de apoio entre elas. É prudente ter combustível suficiente no tanque.
O pai já tinha me dado a letra uma semana antes: 'Deixa o tanque sempre cheio. Se te roubarem as coisas, ou algo der errado, pelo menos tem gasolina pra voltar até a fronteira'. Entendido. Tanque sempre cheio.
Paramos pra almoçar num restaurante na entrada da cidade de Durazno.
Durazno é pêssego em português. Comemos um entrecot, uma saladinha e uma água com gás. Um almoço fitness ao lado da lareira. Voltamos pra estrada e, ao fim da tarde, chegamos em Rivera.
Rivera faz divisa com Santana do Livramento-RS, no Brasil. E como lá no Chuí e nas demais cidades de fronteira, tem bastante free shops, gente fazendo compras e tendéu.
Fizemos nosso check-out na Aduana, e nos despedimos do Uruguai. Mas não sem antes comer o tradicional chivito, que é tipo um burger uruguaio, muito bom. A Confiteria City ali na Av. Sarandi em Rivera serve um chivito delicioso.
Os hotéis em Livramento praticam mais ou menos os mesmos preços. Pesquisamos em uns quatro, e a maioria cobra estacionamento à parte. Ficamos no Hotel Acropolis, o melhor preço que achamos, bem bom e muito bem localizado.
Boa noite. Até amanhã.
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8º dia - Sexta
Acordamos, tomamos um bom café da manhã no hotel, guardamos as malas no auto e fomos às compras nos free shops. O pessoal do hotel nos permitiu deixar o carro na garagem enquanto estávamos por lá. Gracias.
Os free shops principais são lojas grandes e muito bem organizadas. A cotação do dólar nas lojas estava entre R$ 3,33 a R$ 3,38 na época... Imagina hoje...
Mesmo assim, tem muita coisa que vale a pena comprar lá: cosméticos, perfumes, bebidas e roupas boas, por exemplo, são mais baratos do que no Brasil. Ou eram pelo menos. Hoje não sei.
Saímos de Livramento depois das 15 horas e voltamos pra casa.
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E é por aqui que encerramos a nossa jornada.
Rodamos bastante, conhecemos lugares novos em um país diferente e trouxemos boas lembranças com a gente.
Obrigado pela tua companhia. Espero que tenha gostado do passeio. Nós adoramos e pretendemos voltar um dia.
Na próxima vê se me ajuda com a gasolina.
Abraço!