Data original: 19/05/2021
Prezados colegas do Bastter,
Sei que virão algumas voadoras, mas é a vida.
Fui sempre um aluno CDF no colégio, e ingressei numa faculdade pública extremamente conceituada em Direito com 17 para 18 anos. Me formei, fiz intercâmbio, aprendi uma terceira língua (nível intermediário), entrei em um escritório de direito empresarial no terceiro ano, onde houve uma cisão, e acabei trabalhando neste escritório cindido desde então (quase 7 anos entre estágio e advocacia). Não tinha tesão por concursos públicos, e como sempre gostei de Literatura e História, fiz amizade com um Professor desde o primeiro ano que se tornou o orientador do meu mestrado (que concluo no próximo ano).
No meio do caminho meus pais faleceram, o que me gerou um amadurecimento e uma visão completamente diferente da vida. Porém, também me trouxe crises de ansiedade e depressão matinal frequentes até hoje, de modo que suspeito que só consegui advogar até aqui pelo fato de ter tido horários flexíveis no escritório, ser bom no que faço e não ganhar muito (recém-formado...). Com a morte de meus pais, obtive algum patrimônio que não resolve a vida de ninguém, mas que ajuda razoavelmente no início. Como sempre tive mentalidade poupadora, hoje tenho aportado um valor suficiente para me manter por 70 meses (desconsiderando renda passiva desse patrimônio dos meus pais).
Recentemente ingressei em um cargo público por indicação e me mudei de cidade, o que permitiu aumentar minha renda mensal (ativa+passiva) em 30% (indo para em torno de REMOVIDO líquidos, poupando 50%). Mas não me vejo fazendo isso a vida inteira (embora eu seja competente), e a partir daqui, meu retorno para escritórios seria incerto, pois já sofro certo preconceito em entrevistas por não estar na panelinha de escritórios big law e mercado financeiro do eixo Faria Lima (e eu também detesto essa rotina massacrante de virar noites), e na carreira pública eu teria de focar em algum concurso nível alto (MP ou AGU, por exemplo).
A questão é que não sinto tesão nenhum por nenhuma dessas profissões e pela área jurídica em geral. Muitos amigos meus mais velhos que tiveram sucesso também admitem que Direito é chato, maçante, mesmo ganhando bem não vale tanto a pena, etc... Tenho um amigo com 30, ganha bem em escritórios (nível juiz em início de carreira), mas trabalha 12-14hs por dia, mal vê a filha e a tendência é só piorar a partir daí, já que ninguém fica estagnado na carreira e as cobranças são cada vez maiores.
Outro amigo, também de 30, se endividou em mais de 500-600K para fazer um mestrado fora, mas conseguiu uma oportunidade no exterior e deve quitar o financiamento em pouco tempo.
Já pensei em empreender, mas vejo que não é meu perfil. Também já pensei em ir embora para o exterior, mas tem a questão familiar (abaixo).
Não tenho muitas referências na família em nenhuma das áreas, na verdade, minha família mais próxima hoje é minha avó (que tem início de Alzheimer) e meu tio que é concursado aposentado.
Não sei também se estou romantizando demais uma eventual mudança de área. A Medicina tem me atraído de um ano para cá pela possibilidade de ganhar conforme se produz, de morar em lugares diferentes e de ter uma demanda relativamente estável (embora dependa muito da especialidade, pelo que percebi). Às vezes penso que por ser depressivo sem muita perspectiva de melhora e por estar insatisfeito com a minha área, poderia estudar para o vestibular de uma pública por uns dois anos e tentar um fresh start. Mas voltaria ao mercado com quase 40 (após uma residência), trabalhando horas insanas (90-100h) na residência e com o mercado saturado. Embora eu realmente tenha um interesse grande pela Medicina e pelas profundezas do conhecimento, algo que infelizmente vejo que no Direito é raro, teórico e muitas vezes é pura picaretagem e falsa demonstração de erudição mesmo.
Reconheço que tive muitas oportunidades durante a vida e sou muito grato a todas elas. Espero que a minha mensagem não tenha soado ARROWGANSO ou nada do tipo... É que realmente tenho esta dúvida que me consome, e parece que desde que fiz 27 se tornou mais intensa, gerando procrastinação devido às crises de ansiedade... Só consigo dormir ultimamente com ginseng e melatonina. Mas para as pessoas ao meu redor, que só veem a "casca", tenho uma carreira fantástica, sou "bem de vida" e com "futuro promissor".
Eu gostaria de ter uma família, tempo para meus hobbies, enfim, seguir a Cleiton Bastter em sua essência... Mas cada vez mais noto o quão difícil é isso na prática, principalmente depois do término do meu último relacionamento.