Alguns dos grandes benefícios dessa comunidade é a capacidade de reflexão e mudança de pensamento que temos por aqui. Seja nos investimentos (o site ja foi de opções ao buy&forget), comportamento sONcial (vide as maratonas do não ser reativo, não reclamar etc), hábitos de saúde e por aí vai.
O cérebro humano evoluiu para ser super eficiente em reconhecer padrões e assim atribuir causa e correlação à ocorrência desses padrões. Esse assunto já foi amplamente debatido no site (aprendi muito, por sinal), mas só exemplificando: Aprendemos na escola que nossa coluna tem suas curvaturas ''normais'' e suas curvaturas ''patológicas''. Ao adquirirmos esse conhecimento, logo assONciamos rapidamente que se a pessoa está ''torta'', então ela tem ou irá ter dor devido a isso e portanto tem algum ''problema'' ali. Isso é um viés de confirmação. Embora desvios posturais sejam considerados normais pela comunidade científica e tem pouca correlação com dor (bom-senso para desconsiderar casos severos), muitas pessoas (meus pacientes, inclusive) chegam com a crença que suas dores ou sua baixa performance advém exclusivamente de uma alteração estrutural.
Somado a isso, temos no mercado inúmeros cursos, objetos, aparelhos, figuras públicas, entre outras coisas que ampliam o nosso viés de confirmação ao vender ideias que fazem sentido lógico e, assim, ajudam a confirmar nossas crenças ou noções pré-concebidas sem nenhum embasamento científico.
Onde quero chegar aqui?
Antes na minha prática clínica, eu era extremista e tentava tirar ao máximo dos pacientes qualquer tipo de crença que não estivesse alinhada com a ciência (como se isso fosse 100% possível...) Mas buscando evoluir, hoje adoto uma abordagem diferente e, desde que a crença não seja limitante ou prejudicial, me limito à entender a crença do paciente e o que o motivou para pensar daquele jeito. Busco individualizar até mesmo o placebo.
Exemplo prático e o que penso sobre isso:
Atualmente estou tendo a oportunidade de atender uma medalhista olímpica. Não é incomum antes de treinos importantes ou competições a atleta solicitar uma manipulação torácica por se sentir ''travada'' (mesmo trabalhando mobilidade de forma regular e não tendo nenhum resultado negativo nos principais testes funcionais). Antes eu não sabia lidar com isso e provavelmente entrava em uma argumentação que a pessoa não estava disposta a ouvir, naquele momento, aqueles argumentos não faziam parte da cascata de informações que ela adquiriu durante sua vida de treinamento. Não tinha sentido lógico para ela e como resultado, ela não se sentia 100% bem treinando. Algo impensável nesse nível de exigência física e competitiva.
Para finalizar, hoje enxergo pseudociência de uma forma diferente. E o que deixo de mensagem é: Se não é algo que faz mal, que não gere dependência e que poderá implicar de alguma forma no resultado final (prático ou psicológico momentâneo) então faça. Ou seja, o tênis X me faz correr melhor (tem dinheiro para comprar? Não vai deixar de pagar a academia para trocar o tênis de 6 em 6 meses? Então compre), a raquete X me faz bater melhor na bola (vá em frente), a bicicleta do Contador encaixou melhor para mim do que a do Valverde (compre), preciso alongar depois de fazer os exercícios pq me sinto menos rígido (alongue).
O que não podemos é deixar essas crenças e vieses serem a base do nosso desempenho/tarefa/tratamento e esquecer/negligenciar o que temos de evidência científica nesses quesitos. No mais, placebo também faz parte do tratamento!