Perder é a mesma coisa que não achar?
comentada em 13/10/2021 12:50

O problema é a tendência que nossa mente tem de misturar o futuro e o passado no presente. O que existe é o que existe hoje. Hoje, você não tem os 50 reais. Ontem podia ter tido. Amanhã pode ter, achando o que perdeu na sua casa, o que outra pessoa perdeu na rua ou o que conseguiu de qualquer outra forma. O dinheiro que você tinha ontem e o dinheiro que pode ter amanhã não são o mesmo que o dinheiro que tem hoje.

Misturar passado e futuro no presente é razão de muita ansiedade e estresse. A tal da lama do se, da paranoia, da dificuldade de aceitar mudanças... 

Será que ele só está la se e quando alguem achar?

Uma árvore faz barulho ao cair se ninguém estiver lá para escutar? A resposta da ciência e da filosofia - BBC News Brasil

@Bastter perdeu um token cheio de bitcoins!! kkkk

Concordo com o que o @oxe falou, e acho que você só perdeu até achar, não sei se deu pra entender. Mas o ponto forte é, se perdeu, coloca uma pedra em cima.

Pergunta pra dona Receita Federal


RECEITAVieiral57 posts

Filosoficamente não sei, mas acho super legal quando acho coisas perdidas em casa, que nem lembrava que existiam; daí tento lembrar da última vez que as tinha visto e não consigo, e muito menos de como foram parar nos esconderijos. Ressuscitam.

Hospíciobastter.com234 posts

1 post

Talvez seja a mesma coisa e talvez não, o fato dos 50 reais terem sido perdidos na sua casa te traz uma maior segurança por ser um terreno conhecido, mas nada garante que na rua alguém realmente encontrou o dinheiro e o levou embora, talvez o terreno seguro seja o mais perigoso já que você pode se prender na ilusão de que uma hora vai encontrar o dinheiro e o lugar desconhecido te força a se desprender disso e dar um jeito de substituir esse valor perdido por um novo.

No fim, na rua ou na sua casa tanto faz, o local mais importante é a sua mente.

É a mesma coisa até que alguém da casa encontre. #pas

@Alice.V evidentemente, são os leprechauns  

o bom é quando vc acha sem saber que tinha perdido. 

Selo de loucuraPai_NaldoOrigem do Selo195 posts

A sensação de achar dinheiro perdido em casa é muito boa

OLHA O QUE ACONTECE COM QUEM POSTA ISSOItachi_SharinganOrigem do Selo14 posts

Bastter, filosoficamente a questão da dependência de um observador-testemunha para a determinação da existência da realidade foi esmagada pela negação da transcendência a partir de Kant.

Se o umbigo humano é o centro do universo, como é que fica, as coisas existem ou não sem a gente ver? Tem especulações sobre isso na física quântica inclusive, mas tudo é uma punhetação humanista, antropocêntrica.

Se você aceita que toda realidade possível existe perante um observador onisciente que é a própria fonte criativa de toda realidade possível, o que é a hipótese básica da metafísica, o problema está resolvido: os 50 reais perdidos não existem nem para você nem para ninguém, mas continuam existindo para Deus.

Fica tranquilo que para Deus você existe, mesmo que os outros se esqueçam ou que vc mesmo se esqueça eventualmente.

Abraço

O fato de a realidade existir independente de um observador humano (se for o caso) não implica necessariamente na existência de um observador não-humano. Essa assONciação decorre da própria compreensão humana da atividade de observação e, portanto, já é uma perspectiva antropocêntrica (ainda que realmente exista um observador não-humano). Ela parte da premissa de que o ser humano efetivamente percebe, compreende e modela o mundo tal como é. 

Eu não culparia Kant pelo "fim da metafísica". Ele só deu voz a aquilo que o Ocidente já vinha produzindo por séculos. A separação entre observador e objeto observado é premissa da ciência moderna, foi o que impulsionou a Revolução Científica. Muito desenvolvimento tecnológico surgiu daí, mas também muitos excessos e um enorme vazio ético. O esforço agora tem sido o de aproveitar o bom, cortando o ruim, através do resgate de uma cosmovisão holística (que, cada vez mais acredito, inevitavelmente precisa se fundar em alguma metafísica que lhe dê sentido de todo). 

No primeiro caso diminui-se o patrimônio. No segundo, não.

@oxe

A necessidade do observador é condicional à determinação de qualquer realidade objetiva. Se nada jamais for dito a respeito, e nenhuma referência a uma realidade objetiva for produzida, realmente nenhum observador é necessário, porque tanto faz. Só que isso requer a perda de qualquer noção de verdade. A mínima pretensão de referência a uma realidade objetiva requer a relação com uma subjetividade. A necessidade do observador só pode ser destruída com a destruição da objetividade. Daí a tara moderna do desconstrucionismo, de continuar a putrefação filosófica moderna até o último grau possível, quando ninguém mais poderá ousar afirmar nada sobre coisa alguma. Talvez esse seja o suprassumo da tal sabedoria humana, destruir qualquer possibilidade de conhecer a verdade. Parabéns aos envolvidos, como diz o patrão.

Não me parece ser antropocentrismo que o ser humano, tendo a experiência do conhecimento e não desconfiando dela, presuma metafisicamente que toda a realidade seria cognoscível por uma onisciência divina*. Antropocêntrica seria a pretensão de afirmar que a realidade não poderia existir sem o conhecimento humano sobre ela, que é o problema do qual o Bastter estava falando inicialmente, e que é um problema causado pela perda da objetividade metafísica na história do pensamento.

Trocando em miúdos, se perdemos a noção metafísica de verdade, vamos perder toda capacidade de referência à verdade, porque tudo será resumido às representações humanas, que magicamente funcionam perfeitamente para as nossas continhas, para produzir a nossa ciência e tecnologia, mas não servem para determinar a existência de uma verdade cognoscível independente do conhecimento humano, porque daí teríamos que apelar para Deus e isso é feio e antiquado**.

Você tem razão sobre o Kant, o fim da metafísica começou bem antes dele, mas ele possivelmente deu o último tiro, ou um dos últimos, creio eu.

*A mesma experiência cartesiana de questionamento da capacidade de conhecer a realidade pode ser usada para inferir a onisciência divina, partindo da insuficiência do conhecimento humano para exigir --para se preservar a noção de verdade objetiva-- um conhecimento perfeito, o qual só Deus poderia ter. Nesse ponto Descartes foi honesto de arrumar a própria bagunça: "ok, eu fiz mesbla, já não sei mais se eu conheço alguma coisa ou não, mas no fim Deus me ajuda". É muito curioso, na história das idéias, que o cogito ergo sum (que é o antropocentrismo cartesiano, digamos assim) é super propagandeado, sendo a prova do sujeito cognoscente, enquanto o argumento da onisciência divina usado por Descastes como aagarantia da objetividade da realidade é ignorado como um detalhe menor, porque é um argumento teocentrista inapropriado para a razão iluminista.

**O que me lembra a passagem de Romanos, capítulo 1 verso 20: "Sua realidade invisível --seu eterno poder e sua divindade-- tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que não têm desculpa. Tendo conhecido a Deus, não o honraram como Deus, nem lhe renderam graças;
pelo contrário, se perderam em vãos arrazoados, e seu coração insensato ficou nas trevas. Jactando-se de possuir a sabedoria, tornaram-se tolos e trocaram a glória do Deus incorruptível por invenções do homem corruptível. Como não julgaram bom ter o conhecimento de Deus, Deus os entregou à sua mente incapaz de julgar, para fazerem o que não convém."

Obs: desculpe a extensão disso tudo, é que eu não resisti.

@Bastter E como que cadastra os 50 reais de Schrödinger no Bastter System?

@JC2018

Eu concordo com a linha central de seus argumentos, inclusive com a crítica ao racionalismo e ao relativismo. 

O que quis dizer ali em cima com "antropocentrismo" é que a extrapolação da experiência humana para um observador não-humano implica em centralizar a experiência humana como descritiva de toda a realidade. É possível que a realidade tal como pode ser percebida e compreendida pelos humanos (objetiva do nosso ponto de vista, portanto - falo da espécie humana e não de indivíduos) não se confunda com toda a realidade (ou seja, haveria limites para o que podemos perceber e compreender, mesmo num horizonte tecnológico perfeito); e que não haja uma simetria perfeita entre a observação humana e a observação além do humano.

Ou seja, talvez não exista um observador onisciente e talvez exista e ele não seja apenas um "observador humano perfeito", mas algo muito além do que podemos sequer teorizar intelectualmente. Penso que a "hipótese" teísta é possível, diria até plausível, mas ela exige um "salto de fé" para além da intelecção humana.

Ultimamente, tenho lido sobre religiões chinesas e ando pensando sobre a cosmovisão oriental. Ainda preciso pensar melhor sobre o assunto, mas tem me parecido plausível que parte do nosso (ocidental) problema tenha relação com a cosmovisão de categorias greco-romana. É possível que o racionalismo moderno tenha sido uma consequência dessa visão e que uma abordagem mais intuitiva talvez permitisse um contraponto, uma moderação, aos excessos desse racionalismo. Mas ainda não cheguei a uma conclusão sobre o assunto. 

@oxe

Excelentes observações.

Sobre a hipótese teísta, ela aceita muitas versões e abordagens diferentes. O predomínio do racionalismo iluminista na cultura ocidental infelizmente filtrou e elegeu algumas possibilidades para serem mais ventiladas, para lidar com o mais conveniente. Em suma, escolheram o adversário mais fraco para bater e esqueceram o resto.

Eu tinha um professor que falava assim: só tem uma coisa mais importante que estudar as idéias, é estudar a história das idéias.

Se for sério, vá se tratar. Se for brincadeira, parabéns pela engenhosidade. 

Reflitãocrfcms72 posts

Não vou ler isso para não ficar malucoPai_NaldoOrigem do Selo34 posts

@Bastter
Só pra complicar: E se vc perder 50 reais e depois achar 50 reais que outra pessoa perdeu e pensar que achou os 50 que vc tinha perdido? 

@Sagacious eu sei a resposta com BTCs

Perdeu a cadeira de novo, né?

Quanto a achar que não existe, fie-se em Descartes com a verdade provisória. Enquanto vc pensa vc existe.

Ou seja, durante quase 20 minutos por dia isso é aagarantido, vc existe.