Há quase uma década, quando comecei a namorar minha esposa, visitei uma parte da família dela no interior. Lá haviam dois tios!
O
primeiro era aposentado de órgão público federal tinha quase 60 anos de idade, um grande lote na cidade onde criava galinhas e tinham muitas árvores frutíferas. Sua casa era grande e espaçosa, tinha uma Parati novinha na garagem, na qual ele levava os frutos da sua criação para todos os vizinhos na cidade. Todos adoravam ir lá! As reuniões de família eram cheias de muita gente, bebida e carne de todo tipo de animal. Ele, bem obeso, esbanjava animação e brincadeiras, estava sempre rodeado pelas crianças e tinha muita disposição!
O
segundo tio, homem matuto, das mãos calejadas, do braço forte, semianalfabeto e uns 10 anos mais velho, sempre foi criado na roça, acostumado com o trabalho braçal e condições de conforto nos padrões urbanos praticamente nulas. Trabalhava na sua terra todos os dias e quase não tinha como ficar viajando ou fazendo eventos, pois se não trabalhasse, as coisas não aconteciam. Tinha algumas cabeças de gado, uns porcos, umas galinhas, uma hortinha e todos os dias todas essas coisas dependiam do seu cuidado. Com um Golzinho G3 na garagem ele ia pra cima e pra baixo nas estradas acidentadas, sempre contando histórias que duravam horas. Eu não tinha muita liberdade com ele, então nunca conversei muito.
O tempo passou e nesse feriado fizemos uma visita para esses tios depois de tanto tempo. Não me surpreendeu que os dois ainda morassem nos mesmos lugares e levassem (ou ao menos tentassem) levar a mesma vida. Mas havia uma diferença gritante que me chamou muito a atenção, fiquei pensando bastante e me deu vontade de compartilhar com vocês.
O imóvel do primeiro tio sofreu com o tempo, sua casa estava velha, os móveis velhos, ele um pouco mais magro depois de um AVC já não tinha condições de saúde pra cuidar com tanto afinco das suas coisas, brigou com a família toda por causa de política, em sua casa não haviam visitas, os vizinhos se afastaram também, não havia fartura, não haviam sorrisos, não havia saúde. Havia apenas a sobrevivência de um salário que a inflação estava corroendo cada dia mais e a Parati que já não era mais tão bonita.
Aquilo me chocou, mas não tanto quanto a conversa que tive na fazenda do segundo tio durante uma chuva forte que caiu por lá no domingo. Ele que agora tinha umas 100 cabeças de gado, 20 porcos, uma Hilux novinha na garagem do mesmo casebre com internet Wi-Fi e continua forte como um touro, contava com simplicidade que tinha medo de deixar dinheiro em banco, que quando acumulava muito ele tinha que transformar logo em gado. E que quando tinha muito gado, convertia em terra. 60 alqueires e R$ 3.000.000,00 de patrimônio. Nada mal pra um semianalfabeto que me contava que havia começado com uma bezerrinha aos 6 anos de idade "iguale aquela logo inrriba da porteira ali, óh" (falava me apontando o animal).
Lembrei do chefe falando que conhece mais gente rica que chegou lá com poupança e imóveis que outra coisa. E o tempo me mostrou na prática, diante dos meus olhos que quem conta com aposentadoria vai levar ferro!
Estudar, trabalhar, poupar, cuidar da saúde, cuidar da família. #PAS