Princípios
comentada em 18/10/2021 12:51

Um dos princípios éticos mais antigos, presente em quase todas as grandes religiões e escolas filosóficas antigas, é a chamada regra de ouro. A formulação cristã provavelmente é a mais conhecida aqui no Ocidente: ame ao próximo como a si mesmo.

Acredito, sem buscar muitas evidências, que é o princípio mais essencial, mais fundante, mais amplo e mais perene. Traz o imperativo do amor-próprio, da empatia e da prática amorosa. Me esforço pra sempre o ter em mente. 

Muito legal, @oxe ! 

O Nassim Taleb tem uma opinião interessante sobre a regra de ouro.

A crítica dele é que a regra de ouro pode levar ao intervencionismo, a se meter na vida dos outros para promover o bem.

Por isso ele diz que prefere a "regra de prata", que contém uma dupla negativa: "não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você"

Para ele, a omissão da ação não causaria efeitos colaterais graves. Você não corre o risco de fazer mal a ninguém. 

Se tirar a paz, não vale a pena.

@Dogbert

Qualquer regra levada ao extremo se torna distorcida e prejudicial. A regra de prata, no extremo, sofre do mesmo mal da regra de ouro. O mal que resulta de não agir quando é preciso é tão intenso quanto o que resulta de agir quando não é preciso. O que ocorre apenas é que é mais comum haver um mal em agir errado que em não agir e deixar o mundo seguir seu curso.

De qualquer forma, a regra de prata está contida na de ouro, então meio que vira uma discussão meramente semântica de criação de cenários mentais extremos. Cenários nos quais toda formulação ética eventualmente será inválida, o que derrota a própria finalidade da discussão. 

O problema eu acho que reside em tratar a ética como um mero exercício mental teórico. A ética se concretiza na prática cotidiana. Sem humildade, moderação e simples bom senso de saber que regras são ferramentas e não um fim em si mesmas, a ética se torna maluquice de gente que confunde a própria cabeça com o mundo. Pelo menos essa é minha opinião e percepção. 

Sempre me oriento por um princípio básico nos negócios e na vida: sonhar grande. Ter objetivos muito limitados na vida limita o potencial da pessoa, pois a  mente vai trabalhar para alcançar um objetivo limitado. Portanto, é melhor sonhar grande, pois o que parece impossível em determinado momento pode não ser impossível mais adiante, desde que tenha a mentalidade adequada.

"Sonhe grande, pois ter sonho grande dá o mesmo trabalho de ter sonho pequeno." (Jorge Paulo Lemann)

postado por @oxe em 16/10/2021 20:37:43

Dogbert

Qualquer regra levada ao extremo se torna distorcida e prejudicial. A regra de prata, no extremo, sofre do mesmo mal da regra de ouro. O mal que resulta de não agir quando é preciso é tão intenso quanto o que resulta de agir quando não é preciso. O que ocorre apenas é que é mais comum haver um mal em agir errado que em não agir e deixar o mundo seguir seu curso.

De qualquer forma, a regra de prata está contida na de ouro, então meio que vira uma discussão meramente semântica de criação de cenários mentais extremos. Cenários nos quais toda formulação ética eventualmente será inválida, o que derrota a própria finalidade da discussão. 

O problema eu acho que reside em tratar a ética como um mero exercício mental teórico. A ética se concretiza na prática cotidiana. Sem humildade, moderação e simples bom senso de saber que regras são ferramentas e não um fim em si mesmas, a ética se torna maluquice de gente que confunde a própria cabeça com o mundo. Pelo menos essa é minha opinião e percepção. 

Excelente, @Oxe
Como sempre, bom senso.

Suponho que o assunto pode enveredar para alguns ditos populares ou ideias de pequenas frases. Exemplos:

- não subestime os idiotas, eles são maioria
- quase tudo na vida tem prós e contras
- fazer o certo às vezes dá um trabalho danado
- buscar equilíbrio não é fácil
- ser humano adquire hábitos e vícios com facilidade
- tem gente mostrando "complicação" pra vender solução
- os 7 pecados capitais seguem sendo os mesmos

E essa lista é imensa. Recentemente li um livro que tem muita relação com a Clayton e tem boas sacadas. Chama-se A arte de pensar claramente. Dobelli. Recomendo.

Tenho um mantra que medito todo dia indo ao trabalho...

"Não reclamar, Não julgar, Apenas agradecer" 

@Jogador10 Não julgar é complicado, somos uma máquina de julgar. O máximo que alcanço é julgar a qualidade dos meus juízos, frequentemente falhos.

@Charlito

To sentado agora à frente de uma mesa branca circular, dessas de plástico. Em cima dela, minha xícara quase sem café, um gole e se acabou. 

Antes de escrever esse comentário, não tinha me atentado para o conteúdo de café na minha xícara. Embora estivesse vagamente ciente da mesa, poderia ser qualquer outra superfície sobre a qual minha xícara pudesse repousar. Eu não tive necessidade de inspecionar o café, a xícara ou a mesa com atenção, a não ser devido à necessidade do comentário.

Para fazer o comentário, pus um esforço para pensar em que outros adjetivos poderia apor a esses objetos. A xícara talvez seja descrita como bonita, pois é bem ornamentada. O café é saboroso, forte. A mesa não é bonita, nem feia, mas é funcional. 

Muitos julgamentos humanos são dessa natureza. Da maioria que sucede ao nosso redor nem tomamos ciência suficiente para querer julgar. Mesmo quando tomamos ciência, muitas vezes não damos importância suficiente para rotular as coisas. Não temos preconceito, nem somos particularmente afetados por elas. 

Se serve para a xícara de café, talvez, com algum treinamento, também possa servir para o maluco gritalhão na rua ou para seja lá o que for. 

Pensando em coisas que nunca vão mudar, lembro daquele meme do Tiririca que o Bastter sempre posta. O que quer que aconteça na sua vida,  você vai sempre ter que conviver consigo mesmo. 

Então um princípio legal, que acho até que o Paulo fala bastante nos chat dele, é o de saber conversar consigo de forma respeitosa. Para isso ele recomenda conhecer as linguagens afetivas, como a comunicação não violenta. 

@oxe

O juízo não é necessariamente consciente. No momento em que vc olha para a mesa e a reconhece como tal, e a reconhece como sendo a mesma mesa que comprou por determinados atributos, vc está julgando que a mesa é a mesa. Se teu cunhado entrar escondido na casa e pintar a mesa de púrpura vc vai fazer juízo de que a mesa é a mesa mas está diferente. Aí será consciente, e iniciará uma busca de causas. E talvez não tenha sido pintada, talvez seja outra mesa idêntica exceto pela cor, colocada ali pelo Deus enganador de Descartes para te confundir (provavelmente terá sido o cunhado).

Para o gritalhão na rua, posso julgar que está fora de si, ou que é surdo, ou que não sei o motivo de ele estar gritando - a existência e percepção do gritalhão, em última instância, terá me levado a fazer juízo de mim mesmo. Decidir não decidir ainda é uma decisão.

Não é possível andar por aí tentando adivinhar e fazer juízo do que cada formiga no chão está fazendo, de onde vem e para onde vai, e com que propósito. Porém somente de perceber a formiga enquanto formiga já estou fazendo juízo: eis uma formiga.

Falando estritamente de juízo moral, de adjetivar as ações humanas, é difícil, precisa abraçar os próprios limites, com a vaga noção do tamanho de nossa ignorância, sempre maior do que imaginamos.

Evito julgar os outros menos por compaixão do que pela consciência de minha limitada capacidade analítica. O melhor que posso quanto a meus juízos é voltá-los para mim.

@Charlito

É preciso, no entanto, diferenciar juízo de valor de juízo de cognição.

A mesa ser uma mesa não significa nada a não ser atribuir ao objeto percebido aquilo que aprendi ser nomeado pela palavra "mesa".

De outro lado, a mesa ser alta, baixa, feia, bonita, inútil ou útil, etc é um juízo de valor secundário que segue à percepção. Também é juízo de valor dizer "mesa serve para apoiar objetos". Há, aí, uma hierarquia de valores e há também uma categorização do objeto, em si "neutro", nesse ou naquele sentido particular de mundo. 

O juízo cognitivo é arrebatador, inevitável, no máximo podemos mudar os símbolos designativos (as palavras). O juízo de valor, por outro lado, embora também seja inevitável, depende de uma estética pessoal que, essa sim, pode ser modificada, ao menos em parte. De maneira que, agora, a mesa me serve para apoiar objetos, mas amanhã, com treinamento, posso enxergar a mesa, por exemplo, como um item de decoração. Há uma infinidade de potencialidades que perdemos quando chamamos a mesa, mesa, e logo seguimos a querer mandar no que a mesa é, ou deveria ser. 

Ou seja, chamar a formiga, formiga, ou qualquer outra palavra designativa, é, sim, inevitável. Mas odiar, amar ou ser indiferente à formiga, atribuir esse ou aquele papel no mundo a ela, ter essa ou aquela expectativa ou opinião sobre sua natureza ou comportamento, são todas características secundárias e que podemos treinar para mudar, com o tempo. 

Geralmente quando pensamos em "não julgar" não estamos dizendo para deixar de reconhecer a existência de uma pessoa, de uma rua onde se situa essa pessoa, de um barulho que ela emite e do desconforto que nos causa esse barulho. O que estamos dizendo é que, com treino, podemos reduzir o desconforto (ou qualquer outra sensação pessoal) causado pelo fenômeno e também podemos modificar o valor atribuído a essa sensação ou ao objeto que a causa.

O juízo cognitivo também é enganador.

@Charlito é pq a gente já é muito bom naquilo que a gente foi treinado e acha que isso é "natural".

Não tem naturalidade nas coisas, só o que a gente aprendeu a fazer com alguma frequência.

Você fala da formiga, mas para os indianos, a relação deles com as vacas é completamente diferente disso.

As nossas percepções dizem muito mais sobre o que a gente sabe fazer do que da realidade do mundo.