Nessa semana que mal começou, já topei mais de uma vez com aquela recomendação do sonhe grande, seja audaz, trace objetivos grandiosos...
Daí eu lembrei desse trecho de um romance ao mesmo tempo perturbador e agradável de ler:
"Maiko trouxe o uquelele no primeiro fim de semana em que veio a meu apartamento de separado, esqueceu-o aqui e aqui ele ficou. Tirei acordes, ritmos, arpejos. Depois me animei a pontear. O que eu sabia de violão me deu condições de aprender depressa. É um instrumento simples que também pode ser complexo. O violão sempre foi grande para mim, meus acordes saíam sujos, cordas demais com que me preocupar, notas demais sobre aquele suporte. Para um autodidata, para quem toca de ouvido como eu, o uquelele é ideal.
Entendi que preferia tocar bem uquelele a continuar tocando mal violão, e isso foi uma espécie de nova filosofia pessoal. Se você não aguenta a vida, experimente uma vidinha.
Tudo havia ficado excessivamente complexo para mim. Toda aquela vida que havíamos construído juntos se tornava grande demais para mim, Cata. Eu não estava bem. Nem você. Andávamos nos odiando, com nossas listas de coisas a fazer. Agora tenho uma lousa na cozinha, faço minhas listas de assuntos pendentes, e elas não me atormentam. Suas listas me perseguiam. E imagino que minhas listas invisíveis perseguiam você. Minhas listas
tácitas, minhas solicitações movediças. Assimilei de você as listas visíveis e me organizo bastante bem. Porque são listas próprias. Já não sinto como alheios os assuntos a resolver."
Deste livro aqui:
Cãotural > Livros > A uruguaia - Pedro Mairal