Convivo com a Morte todas as semanas

Saúde e Esportes
Mauro  
em 22/01/23 10:29

Comentários

Último comentário 1º comentário do autor Só moderadores Só quem eu sigo Ordenar por gostei
OuroReal  
em 22/01/2023 10:39
Que situação difícil Mauro! Realmente o psicológico deve sofrer muito.
Muitas pessoas nesta situação. de perda constante, após um tempo sofrem um processo de "dessensibilização", acabam não se importando ou não se envolvendo. Acho que o @paulo pode falar melhor sobre isso, pois sou totalmente leigo.
Trabalhar com idosos é extremamente desafiador por vários motivos, inclusive por este. Desejo que dê tudo certo neste desafio, e pode sempre contar com a comunidade para dar um apoio!
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Convivo com a Morte todas as semanas - #1 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 11:09


postado por @OuroReal em 22/01/2023 10:39

Que situação difícil Mauro! Realmente o psicológico deve sofrer muito.
Muitas pessoas nesta situação. de perda constante, após um tempo sofrem um processo de "dessensibilização", acabam não se importando ou não se envolvendo. Acho que o @paulo pode falar melhor sobre isso, pois sou totalmente leigo.
Trabalhar com idosos é extremamente desafiador por vários motivos, inclusive por este. Desejo que dê tudo certo neste desafio, e pode sempre contar com a comunidade para dar um apoio!


O trabalho "fisicamente" já é duro:
Ando em média entre 4 e 6km por dia, subo em media 12 andares de escada, fico em movimento horas seguidas fazendo exercícios com eles, recreação, ajudando a levantar e locomover etc...

Mas como vc disse, "psicologicamente" é muito mais duro.
so nao sei se algum dia vou "dessensibilizar", pois me conhecendo, acho que não - terei que sair deste trabalho alguma hora.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #2 de 50
Busta  
em 22/01/2023 11:11
Se ta te afetando tanto assim
procura um bom psicólogo e faz terapia

Pas
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Convivo com a Morte todas as semanas - #3 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 11:18


postado por @Busta em 22/01/2023 11:11

Se ta te afetando tanto assim
procura um bom psicólogo e faz terapia

Pas


ja estou nisso :)
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Convivo com a Morte todas as semanas - #4 de 50
Busta  
em 22/01/2023 11:19
De primeira eu li convivo com a Marte
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Convivo com a Morte todas as semanas - #5 de 50
Charlito  
em 22/01/2023 11:29
A gente convive com a morte a cada segundo, Mauro. Se for pra sair de perto das pessoas pq elas vão morrer um dia, só mesmo se tornando um eremita, o que no fundo é uma forma de renunciar à própria vida.

Não vai ter gente morrendo. Nem vivendo.

Nem chocolate.

A finitude é a graça da vida. Por toda pouca literatura que conheci o viver eterno era mais maldição do que vantagem.

Vive-se. Morre-se. E la nave va. Conosco ou sem nosco.
; 17; ; 3;
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Convivo com a Morte todas as semanas - #6 de 50
Busta  
em 22/01/2023 11:35
procura o que o budismo fala sobre morte

Filosofia budista nao era

Todo sofrimento ou angustia tem alguma origem no apego e no ego se é que os dois nao sao a msm coisa
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Convivo com a Morte todas as semanas - #7 de 50
Arete  
em 22/01/2023 11:44
Lendo sua angústia, lembrei desse vídeo abaixo, do qual gosto muito. Não acho que se encaixe 100% na sua situação (talvez nem 20%), mas talvez dê para pegar algumas reflexões.



E parabéns pelo trabalho, por fazer a diferença na vida dessas pessoas.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #8 de 50
Paulo  
em 22/01/2023 11:47
@Mauro Eu vivo numa corrente que é só usa "dessensibilização" em último caso.

De forma geral, a gente considera tudo que qualquer um faz/sente/pensa como uma resposta racional dentro do que está acontecendo, e dentro da capacidade da pessoa.
Portanto, dessensibilizar seria uma forma de "amputar" psicologicamente a pessoa, seria tirar dela a ferramenta que ela tem hoje para lidar com situação XYZ.
Isso só faria a pessoa ficar ainda mais vulnerável por perder a ferramenta que tinha, mesmo que a ferramenta pareça estranho aos olhos de quem vê de fora.
O meu povo tende a ajudar as pessoas a aprender novas formas de lidar com as coisas.
Muitas vezes, querendo tirar coisas que nos "desagradam" a gente acaba arrancando junto as coisas mais importantes que temos em nós.
Por exemplo, muitos pais me crianças pequenas me falam do medo presente e constante na criação dos filhos.

Para tirar o medo, só tem um jeito. Tem que tirar o amor junto. Pq é o medo de perder aquilo que se ama. De perder aquilo que é importante, aquilo que se dedica. Não tem como tirar um e não  tirar o outro.
Desenvolver estratégias de enfrentamento (coping) positivas e monitorar as negativas são essenciais para quem trabalha com risco.
Aqui um exemplo de coping skills para quem estava na linha de frente do covid:


Algumas de busca rápida no google:

Como eu digo para os pirados do trabalho, a gente que é profissional de saúde não tem opção sobre isso.
Por estar no risco direto o tempo inteiro a gente precisa cuidar desses fatores, aprender a aceitar essas coisas e a lidar com isso. O imponderável, as falhas, as perdas, o caos.
A gente precisa se cuidar e aprender a se cuidar.
Abraço forte, querido.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #9 de 50
Paulo  
em 22/01/2023 11:51
Gente, para quem não convive com risco de morte repetidamente, eu gostaria que vocês lessem com atenção o que eu vou dizer:

Sim, a morte é uma coisa diária e inexorável. Todo mundo que você conhece vai morrer, e tem um monte de gente morrendo agora.

Mas é igual a situação do morador de rua. Quem não trabalha com eles não percebe. Você que não vai na crackolandia da sua cidade não lembra que ela existe.

Você que não faz trabalho de rua alimentando morador de rua de madrugada não dorme pensando neles.

Quem vive com a morte todo dia, semana tem um eterno lembrete dela na cabeça.

Não é algo eventual. É todo dia. É todo o dia dormir preocupado com o João que pode morrer de frio e de fome. Não é a morte (geral) são pessoas. São mortes de pessoas com nomes. Pessoas das nossas vidas.

Não é só aceitar, precisa aprender a viver com isso. Mas não é do jeito que fazemos com morador de rua, que fingimos (eu incluso) que eles não existe e seguir com o dia.

É aprender ATIVAMENTE a viver com isso na sua frente o tempo inteiro.

Não é só aceitar, é outro rolê.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #10 de 50
Paulo  
em 22/01/2023 11:58
@mauro nos primeiros meses da covid eu tive um contato mais próximo com os profissionais da linha de frente, e fiz alguns atendimentos nesse sentido.

Não era eu quem estava "vivendo a morte" mas foi um número razoável de pacientes que viviam isso todo dia.

Eu transformei minha vida num templo de bem estar, de compartilhar, de conviver com o bom. Pq arrancava tudo de mim.

Se eu não puxasse o que havia de bom, eu iria parar num lugar bem ruim, junto com quem eu tava tentando ajudar.

Foi foda.
 
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Convivo com a Morte todas as semanas - #11 de 50
fuderosodaesquina  
em 22/01/2023 11:58
Tenta mudar o foco da morte para o "pré-morte". Você faz algo pra melhorar a vida dessas pessoas no momento talvez mais vulnerável de suas vidas. É possível que muitos estejam "esquecidos" e você faz uma atividade recreativa, funcional com eles. Apenas um sorriso ou fazer companhia por aqueles momentos já é muita coisa.
Não deve ser nada fácil mudar. Falar é mais fácil.
Minha mãe trabalhou no instituto dos cegos de meu estado. Lembro muito bem logo quando ela entrou que ela ficava muito emocionada com os casos. Um teve alguma doença e cegou, outro diabetes, outro um acidente e, pra a surpresa dela, apesar de nós "normais" considerarmos aquilo tudo uma desgraça, muitos dos alunos chegavam com um sorriso no rosto e uma vontade imensa de viver.
Com tempo ela "mudou o foco". Perturbava todos pra estudar, procurava animar os que chegavam lá entristecidos com a situação, pegava a van do instituto e levava todos pra ir fazer as matrículas na escola. Ia na escola se reunir com a equipe pedagógica pra instruir a como lidar com os cegos.
Chegou a viajar para o interior quando a criança deixou de frequentar o instituto. Quando chegou lá o pai, muito humilde e da roça, disse que cego não prestava pra nada e era perda de tempo ele ir pra escola. Eles insistiram em continuar levando a criança pra lá pra estudar e muitas das crianças estudaram, se formaram (inclusive esse que ela tirou de dentro do quarto) e hoje têm uma profissão. Outros "não deram pros estudos", mas no instituto eles ensinavam além do ensino formal da escola. Vai desde andar com a bengala, braille, informática, fazer as coisas dentro de casa, etc.
Nunca ganharam muito, mas a quantidade de pessoas que eles incluíram na sociedade que estavam esquecidas é incrível. Tenho muito orgulho da história profissional dela.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #12 de 50
Phodastico  
em 22/01/2023 12:21
Ainda não li o post por completo, nem as respostas do Paulo. Vou deixar o meu comentário aqui antes de ler tudo.
Como profissional de saúde já trabalhei no passado com tipos de atendimento onde a morte era mais próxima e mais frequente. Nunca uma morte é bem recebida por um profissional cujo objetivo primário é salvar vidas. Porém algumas doem mais do que outras. Basicamente crianças e casos onde ficava aquele sentimento de que daria pra tentar alguma coisa a mais. Essas são as mais dolorosas. 
Com o tempo fui evoluindo na carreira e hoje trabalho com casos bem mais leves (não necessariamente mais fáceis) onde a morte costuma passar bem longe.
Agora eu convivo com a morte em casa. Vira e mexe ela ronda nossa família, dá uma espiadinha mas vai embora. Pelo menos uma ou duas vezes por ano. Dá aquela olhadinha pro meu filho e vai embora. Essa semana foi uma dessas visitas. Mas ela já foi embora, ele continua conosco. É um sobrevivente.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #13 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 12:46


postado por @Busta em 22/01/2023 11:19

De primeira eu li convivo com a Marte


"Convivo em Marte" ia ser muito legal :))
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Convivo com a Morte todas as semanas - #14 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 12:47

postado por @Charlito em 22/01/2023 15:29

A gente convive com a morte a cada segundo, Mauro. Se for pra sair de perto das pessoas pq elas vão morrer um dia, só mesmo se tornando um eremita, o que no fundo é uma forma de renunciar à própria vida.

Não vai ter gente morrendo. Nem vivendo.

Nem chocolate.

A finitude é a graça da vida. Por toda pouca literatura que conheci o viver eterno era mais maldição do que vantagem.

Vive-se. Morre-se. E la nave va. Conosco ou sem nosco.

sabe o que é mais duro, não é a morte em si, mas o sofrimento daqueles pessoas já no fim da vida.

"dieta mediterranea prolonga a vida"- a que custo, pois viver 100 anos não é fácil.

obrigado pelas palavras.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #15 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 12:52


postado por @Busta em 22/01/2023 15:35

procura o que o budismo fala sobre morte

Filosofia budista nao era

Todo sofrimento ou angustia tem alguma origem no apego e no ego se é que os dois nao sao a msm coisa


tenho muito contato com Budismo apesar de não me considerar budista.

tenho amigos próximos budistas e já viajei para lugares predominantemente budistas e estudei as varias vertentes.

acho o mais próximo de algo fazer sentido, mas não impede a dor de alguém que não consegue se movimentar ou que têm dores crônicas ou algo assim - viver isso é sentir a parte mais sombria da vida se extinguindo.

mas continuo com "contato".
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Convivo com a Morte todas as semanas - #16 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 12:53
@Arete

""E parabéns pelo trabalho, por fazer a diferença na vida dessas pessoas.""

Obrigado
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Convivo com a Morte todas as semanas - #17 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 12:57
@Paulo

por tudo que vc expos de práticas acima, ve quanto trabalho dá para , de forma xula, "acostumar" com o trabalho.

quanto que para vender cachorro quente não precisa de nada disso.

vou ler com calma mais tarde tudo que vc colocou, ponto por ponto.

obrigado
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Convivo com a Morte todas as semanas - #18 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 13:00


postado por @Paulo em 22/01/2023 15:58

mauro nos primeiros meses da covid eu tive um contato mais próximo com os profissionais da linha de frente, e fiz alguns atendimentos nesse sentido.

Não era eu quem estava "vivendo a morte" mas foi um número razoável de pacientes que viviam isso todo dia.

Eu transformei minha vida num templo de bem estar, de compartilhar, de conviver com o bom. Pq arrancava tudo de mim.

Se eu não puxasse o que havia de bom, eu iria parar num lugar bem ruim, junto com quem eu tava tentando ajudar.

Foi foda.
 


eh... eu tento reverter TUDO que posso para o lado bom e ver a parte boa.
principalmente escrevo no meu relatorio diario do trabalho (para minha chefe) cada "sorriso" que me deram, cada percentual de ângulo a mais que um paciente conseguiu mover o braço, cada passo que deram.

tento me "inundar" de coisas boas para contrabalançar as ruins, pois são MUITO ruins de ver.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #19 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 13:02


postado por @fuderosodaesquina em 22/01/2023 15:58

Tenta mudar o foco da morte para o "pré-morte". Você faz algo pra melhorar a vida dessas pessoas no momento talvez mais vulnerável de suas vidas. É possível que muitos estejam "esquecidos" e você faz uma atividade recreativa, funcional com eles. Apenas um sorriso ou fazer companhia por aqueles momentos já é muita coisa.
Não deve ser nada fácil mudar. Falar é mais fácil.
Minha mãe trabalhou no instituto dos cegos de meu estado. Lembro muito bem logo quando ela entrou que ela ficava muito emocionada com os casos. Um teve alguma doença e cegou, outro diabetes, outro um acidente e, pra a surpresa dela, apesar de nós "normais" considerarmos aquilo tudo uma desgraça, muitos dos alunos chegavam com um sorriso no rosto e uma vontade imensa de viver.
Com tempo ela "mudou o foco". Perturbava todos pra estudar, procurava animar os que chegavam lá entristecidos com a situação, pegava a van do instituto e levava todos pra ir fazer as matrículas na escola. Ia na escola se reunir com a equipe pedagógica pra instruir a como lidar com os cegos.
Chegou a viajar para o interior quando a criança deixou de frequentar o instituto. Quando chegou lá o pai, muito humilde e da roça, disse que cego não prestava pra nada e era perda de tempo ele ir pra escola. Eles insistiram em continuar levando a criança pra lá pra estudar e muitas das crianças estudaram, se formaram (inclusive esse que ela tirou de dentro do quarto) e hoje têm uma profissão. Outros "não deram pros estudos", mas no instituto eles ensinavam além do ensino formal da escola. Vai desde andar com a bengala, braille, informática, fazer as coisas dentro de casa, etc.
Nunca ganharam muito, mas a quantidade de pessoas que eles incluíram na sociedade que estavam esquecidas é incrível. Tenho muito orgulho da história profissional dela.


quando coloquei que faço "Recreação Desportiva", foi exatamente por isso.

seria uma "Aula de Ginastica", mas foco muito mais no bem estar geral e no humor positivo do que na atividade física em si.

cada vez que acabo a aula e eles querem mais, pedem mais, perguntam que dia estarei de volta na unidade deles, me sinto com o dever cumprido :)
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Convivo com a Morte todas as semanas - #20 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 13:05


postado por @Phodastico em 22/01/2023 16:21

Ainda não li o post por completo, nem as respostas do Paulo. Vou deixar o meu comentário aqui antes de ler tudo.
Como profissional de saúde já trabalhei no passado com tipos de atendimento onde a morte era mais próxima e mais frequente. Nunca uma morte é bem recebida por um profissional cujo objetivo primário é salvar vidas. Porém algumas doem mais do que outras. Basicamente crianças e casos onde ficava aquele sentimento de que daria pra tentar alguma coisa a mais. Essas são as mais dolorosas. 
Com o tempo fui evoluindo na carreira e hoje trabalho com casos bem mais leves (não necessariamente mais fáceis) onde a morte costuma passar bem longe.
Agora eu convivo com a morte em casa. Vira e mexe ela ronda nossa família, dá uma espiadinha mas vai embora. Pelo menos uma ou duas vezes por ano. Dá aquela olhadinha pro meu filho e vai embora. Essa semana foi uma dessas visitas. Mas ela já foi embora, ele continua conosco. É um sobrevivente.


rapaz, ja trabalhei em orfanato também, mas este eu tive que desistir pois não consegui levar muito tempo.

e como vc, também ronda a morte na minha casa ja que perdi minha mãe faz 1 ano e meu pai ja esta na frente da fila, so esperando.

uma coisa acaba que ao mesmo tempo ajuda e atrapalha a outra.

e desejo tudo de bom para seu filho 
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Convivo com a Morte todas as semanas - #21 de 50
fuderosodaesquina  
em 22/01/2023 13:26
Eu li, há muito tempo (deve ter uns 10 anos), o livro do Drauzio Varela chamado "Por um Fio", que ele relata a história dele como oncologista. Ele dizia que ficava com o sentimento de que o jogo já estava perdido e ele era apenas um detalhe insignificante no tratamento, pois o desfecho era sempre o mesmo. Que ele era um profissional de saúde que não entregava aquilo que ele estudou pra entregar, que é a vida.
Mesmo depois de tanto tempo, inclusive após a realidade ter mudado bastante em relação ao câncer  e eu não ser da área de saúde, essa passagem me marcou até hoje e era parecida com o que o @Phodastico falou acima.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #22 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 13:59


postado por @fuderosodaesquina em 22/01/2023 13:26

Eu li, há muito tempo (deve ter uns 10 anos), o livro do Drauzio Varela chamado "Por um Fio", que ele relata a história dele como oncologista. Ele dizia que ficava com o sentimento de que o jogo já estava perdido e ele era apenas um detalhe insignificante no tratamento, pois o desfecho era sempre o mesmo. Que ele era um profissional de saúde que não entregava aquilo que ele estudou pra entregar, que é a vida.
Mesmo depois de tanto tempo, inclusive após a realidade ter mudado bastante em relação ao câncer  e eu não ser da área de saúde, essa passagem me marcou até hoje e era parecida com o que o Phodastico falou acima.


sim, nos sentimos um pouco inúteis as vezes já que o desfecho é o mesmo, so muda se eh em 1 semana ou 1 mes ou 1 ano.

mas o que luto é para dar a melhor "qualidade de vida" para eles neste tempo, ficando assim um senso de ajuda e um pouco de alegria ao menos no pouco tempo que falta.

ainda bem que o tratamento de cancer ja mudou demais com novas descobertas e remedios, entao hj as vezes se vive muito mais tempo com uma qualidade de vida "razoavel".
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Convivo com a Morte todas as semanas - #23 de 50
OuroReal  
em 22/01/2023 14:08
Mas aí, retomando o que falaram antes, o desfecho sempre será o mesmo para todos, portanto o importante é que este tempo seja de qualidade. E com certeza seu trabalho aumenta absurdamente a qualidade de vida destas pessoas, nem só pela parte física / motriz, mas também só por estar junto destas pessoas, que muitas vezes acabam muito abandonadas e solitárias.
Já trabalhei com público mais velho dando aula de arte, e muitos iam não pela produção artística do curso mas sim para conversar, estar com outras pessoas, receber atenção... 
; 6; ; 0;
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Convivo com a Morte todas as semanas - #24 de 50
ProfessorCarlosBruno  
em 22/01/2023 14:19
Você convive com a morte todos os dias, mas você DÁ VIDA A ELES TODOS OS DIAS.

Parabéns por lidar com idosos @Mauro  
viver com qualidade até os últimos dias é o que buscamos. 
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Convivo com a Morte todas as semanas - #25 de 50
HUMANO  
em 22/01/2023 14:36
@Mauro   Olá! Primeiramente parabéns pelo teu trabalho!  Eu daqui do outro lado vejo a sua história de vida e concluo que você é um homem muito rico. Sua vida tem muitas experiências e você se adapta muito bem à ela. É resiliente. Parece uma camaleão. Encare este momento como mais uma experiência de vida. Faz parte. Muitos, infelizmente, só tem uma vida monótona. Rotina de décadas. Dá gosto de ver suas histórias aqui. Tanto nos altos e nos baixos. 
Ah, quando ver os idosos de novo, envia um grande abraço aqui da comunidade. E uma abraço pra Ti também!
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Convivo com a Morte todas as semanas - #26 de 50
Maarek  
em 22/01/2023 14:38
Paulo, são poucos os que reconhecem esse sentimento

Trabalho próximo à morte também e sei como é difícil, o pior acho que é o que chamam de fadiga de compaixao

Tem bastante material on line mas achei esse aqui rapidamente

Patients Will Die — Coping With Death as a Health Care Professional | Clipboard Academy
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Convivo com a Morte todas as semanas - #27 de 50
Phodastico  
em 22/01/2023 15:32


postado por @fuderosodaesquina em 22/01/2023 13:26

Eu li, há muito tempo (deve ter uns 10 anos), o livro do Drauzio Varela chamado "Por um Fio", que ele relata a história dele como oncologista. Ele dizia que ficava com o sentimento de que o jogo já estava perdido e ele era apenas um detalhe insignificante no tratamento, pois o desfecho era sempre o mesmo. Que ele era um profissional de saúde que não entregava aquilo que ele estudou pra entregar, que é a vida.
Mesmo depois de tanto tempo, inclusive após a realidade ter mudado bastante em relação ao câncer  e eu não ser da área de saúde, essa passagem me marcou até hoje e era parecida com o que o Phodastico falou acima.

Na oncologia existe uma modalidade chamada cuidados paliativos cujo objetivo já não é salvar a vida e sim promover um fim de vida com o menor sofrimento possível. Existem profissionais maravilhosos que atuam na área e é realmente admirável. Mas eu não teria estrutura pra isso não...
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Convivo com a Morte todas as semanas - #28 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 16:05


postado por @OuroReal em 22/01/2023 14:08

Mas aí, retomando o que falaram antes, o desfecho sempre será o mesmo para todos, portanto o importante é que este tempo seja de qualidade. E com certeza seu trabalho aumenta absurdamente a qualidade de vida destas pessoas, nem só pela parte física / motriz, mas também só por estar junto destas pessoas, que muitas vezes acabam muito abandonadas e solitárias.
Já trabalhei com público mais velho dando aula de arte, e muitos iam não pela produção artística do curso mas sim para conversar, estar com outras pessoas, receber atenção... 


interessante o que vc disse, pois noto que muitos vão as minhas "aulas de ginástica" pela atividade em si, sONcializacao, palhaçadas que faço o tempo todo... mas não pela ginástica - por isso chamei de "Recreação Desportiva em Grupo"
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Convivo com a Morte todas as semanas - #29 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 16:05


postado por @ProfessorCarlosBruno em 22/01/2023 18:19

Você convive com a morte todos os dias, mas você DÁ VIDA A ELES TODOS OS DIAS.

Parabéns por lidar com idosos Mauro  
viver com qualidade até os últimos dias é o que buscamos. 


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Convivo com a Morte todas as semanas - #30 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 16:07


postado por @HUMANO em 22/01/2023 18:36

Mauro   Olá! Primeiramente parabéns pelo teu trabalho!  Eu daqui do outro lado vejo a sua história de vida e concluo que você é um homem muito rico. Sua vida tem muitas experiências e você se adapta muito bem à ela. É resiliente. Parece uma camaleão. Encare este momento como mais uma experiência de vida. Faz parte. Muitos, infelizmente, só tem uma vida monótona. Rotina de décadas. Dá gosto de ver suas histórias aqui. Tanto nos altos e nos baixos. 
Ah, quando ver os idosos de novo, envia um grande abraço aqui da comunidade. E uma abraço pra Ti também!


muito obrigado pelas palavras.

é importante e bem bom para mim, ler o que vc escreveu :)
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Convivo com a Morte todas as semanas - #31 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 16:08


postado por @Maarek em 22/01/2023 18:38

Paulo, são poucos os que reconhecem esse sentimento

Trabalho próximo à morte também e sei como é difícil, o pior acho que é o que chamam de fadiga de compaixao

Tem bastante material on line mas achei esse aqui rapidamente

Patients Will Die — Coping With Death as a Health Care Professional | Clipboard Academy


vou guardar este link para ver com calma e dar a atenção devida.

obrigado.
; 1; ; 0;
0 '; 0';
Convivo com a Morte todas as semanas - #32 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 16:10


postado por @Phodastico em 22/01/2023 19:32
Na oncologia existe uma modalidade chamada cuidados paliativos cujo objetivo já não é salvar a vida e sim promover um fim de vida com o menor sofrimento possível. Existem profissionais maravilhosos que atuam na área e é realmente admirável. Mas eu não teria estrutura pra isso não...


eu não cursei medicina exatamente por isso.

não acho que tenho estrutura para esta profissão, por mais que eu goste e na época gostava muito mais ainda.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #33 de 50
Mauro  
em 22/01/2023 16:27


postado por @Maarek em 22/01/2023 18:38

Paulo, são poucos os que reconhecem esse sentimento

Trabalho próximo à morte também e sei como é difícil, o pior acho que é o que chamam de fadiga de compaixao

Tem bastante material on line mas achei esse aqui rapidamente

Patients Will Die — Coping With Death as a Health Care Professional | Clipboard Academy


agora ja li com calma.

mais sério que pensei pois achava que era questao de "costume" alem de, logicamente, alguns lidarem melhor com isso que outros.

obrigado pelo link novamente.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #34 de 50
Giovanni  
em 22/01/2023 17:39
@Mauro

Mauro não sei o que responder, só registrando a admiração enorme q tenho pelo seu trabalho
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Convivo com a Morte todas as semanas - #35 de 50
Phoenix19  
em 22/01/2023 18:00
Mauro, primeiramente, parabéns por estar desenvolvendo este trabalho por mais difícil que ele seja, tenho certeza que ele é de grande utilidade visto que você está trazendo bem-estar para estas pessoas que estão na reta final da sua vida.

Olhando pelo ponto de vista que coloquei, por mais doloroso que seja, visto que frequentemente você vê a morte dos seus alunos, vamos chamá-los assim, você está trazendo algo de positivo para eles em seus últimos momentos e isso é muito importante para eles. Acho que seria com esta perspectiva que você poderia olhar, o bem que você está trazendo para eles.

Quanto a dessensibilização, isto seria uma forma de lidar com o sentimento de perda. Não sou psicólogo, mas todos nós já passamos por este sentimento e cada um lida de uma forma com eles. Eu não acredito que parar de se sensibilizar seja a melhor forma, pois na verdade você pode estar apenas ocultando um sentimento e em algum momento pode vir a extravazar.

Infelizmente, eu tenho uma parente muito próximo de mim que possui uma doença terminal e eu pude observar como é difícil lidar com a morte de perto e ao mesmo tempo tentar ajudar os outros a compreendê-la. Durante o processo de aceitação da famíia sobre este parente, a virada de chave foi quando aceitamos que não haveria nada a se fazer a não ser focar nos cuidados paliativos da pessoa e focar em fornecer a melhor qualidade de vida para estes últimos momentos, foi um momento de aceitação e de compreender o que estávamos passando. Não estou dizendo que seja fácil, até porque este processo levou tempo, cada um leva de uma forma.

Espero que tenha ajudado de alguma forma e mais uma vez, parabéns por este trabalho!
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Convivo com a Morte todas as semanas - #36 de 50
Paulo  
em 22/01/2023 18:15
Eu já falei aqui no site algumas vezes sobre meu mantra pessoal:

"Whatever you do in life will be insignificant. but it is very important that you do it because, You can't know; You can't ever really know the meaning of your life, and you don't need to.

Just know that your life has a meaning. Every life has a meaning; whether it lasts one-hundred years or one-hundred seconds.Every life and every death changes the world in its own way.

Gandhi knew this. He knew his life would mean something to someone, somewhere, somehow. And he knew with as much certainty that he could never know that meaning.

He understood that enjoying life should be of much greater concern than understanding it. And so do I. You can't know.

So don't take it for granted; but don't take it too seriously. Don't postpone what you want. Don't leave anything misunderstood. Make sure the people you care about know.

Make sure they know how you really feel. Because just like that it could end.”
- Will Fetters

Quando eu entendi que EU só consigo dar sentido as coisas amando incondicionalmente, sem deixar o amor para amanhã.

E para amar incondicionalmente é preciso aceitar incondicionalmente a dor também.

Não que você precise viver em função da dor.

Mas que:

Gandhi knew this. He knew his life would mean something to someone, somewhere, somehow. And he knew with as much certainty that he could never know that meaning.

He understood that enjoying life should be of much greater concern than understanding it. And so do I. You can't know.

As providências da vida darão sentido a dor. As idas e vindas das pessoas vão ressoar em mim.

Elas impactam a minha vida e continuam em mim.

E só quando eu chegar no final vou poder entender tudo isso

Mas o caminho até lá é sempre do amor.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #37 de 50
OuroReal  
em 22/01/2023 19:34


postado por @Mauro em 22/01/2023 16:05

interessante o que vc disse, pois noto que muitos vão as minhas "aulas de ginástica" pela atividade em si, sONcializacao, palhaçadas que faço o tempo todo... mas não pela ginástica - por isso chamei de "Recreação Desportiva em Grupo"

 Exatamente isso Mauro, tinha uma aluna bem idosa, uma época ela fazia aula particular. Tinha dias que ela nem levava o material, falava que "esqueceu em casa", rs, e ficava conversando, desabafando, contando da vida dela, por um lado eu me sentia mal pois a família podia me achar mal intencionado, afinal não estava dando aula, só "batendo papo", e recebendo por isso. Mas ao mesmo tempo o bem que aquilo fazia para ela era nítido. 
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Convivo com a Morte todas as semanas - #38 de 50
Mauro  
em 23/01/2023 03:59


postado por @Giovanni em 22/01/2023 17:39

Mauro

Mauro não sei o que responder, só registrando a admiração enorme q tenho pelo seu trabalho




Obrigado amigo.
Grato pelas palavras.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #39 de 50
Mauro  
em 23/01/2023 04:02


postado por @Phoenix19 em 22/01/2023 22:00

Mauro, primeiramente, parabéns por estar desenvolvendo este trabalho por mais difícil que ele seja, tenho certeza que ele é de grande utilidade visto que você está trazendo bem-estar para estas pessoas que estão na reta final da sua vida.

Olhando pelo ponto de vista que coloquei, por mais doloroso que seja, visto que frequentemente você vê a morte dos seus alunos, vamos chamá-los assim, você está trazendo algo de positivo para eles em seus últimos momentos e isso é muito importante para eles. Acho que seria com esta perspectiva que você poderia olhar, o bem que você está trazendo para eles.

Quanto a dessensibilização, isto seria uma forma de lidar com o sentimento de perda. Não sou psicólogo, mas todos nós já passamos por este sentimento e cada um lida de uma forma com eles. Eu não acredito que parar de se sensibilizar seja a melhor forma, pois na verdade você pode estar apenas ocultando um sentimento e em algum momento pode vir a extravazar.

Infelizmente, eu tenho uma parente muito próximo de mim que possui uma doença terminal e eu pude observar como é difícil lidar com a morte de perto e ao mesmo tempo tentar ajudar os outros a compreendê-la. Durante o processo de aceitação da famíia sobre este parente, a virada de chave foi quando aceitamos que não haveria nada a se fazer a não ser focar nos cuidados paliativos da pessoa e focar em fornecer a melhor qualidade de vida para estes últimos momentos, foi um momento de aceitação e de compreender o que estávamos passando. Não estou dizendo que seja fácil, até porque este processo levou tempo, cada um leva de uma forma.

Espero que tenha ajudado de alguma forma e mais uma vez, parabéns por este trabalho!


realmente não é fácil.
e entender a linha entre de dessensibilizar , não se importar, se acostumar, lidar com o trabalho, é bem complicado sim.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #40 de 50
Mauro  
em 23/01/2023 04:06
@Paulo

""Whatever you do in life will be insignificant X Just know that your life has a meaning""

este ping pong sempre foi complicado na minha cabeça, pois as vezes olho para as estrelas e comparo minha vida com elas, outras vezes olho para alguém que posso ajudar e mudar a vida para melhor.

eh uma distancia de "anos luz" ao pe da letra :)

""Quando eu entendi que EU só consigo dar sentido as coisas amando incondicionalmente, sem deixar o amor para amanhã.
E para amar incondicionalmente é preciso aceitar incondicionalmente a dor também.
Não que você precise viver em função da dor.""

Obrigado!
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Convivo com a Morte todas as semanas - #41 de 50
Mauro  
em 23/01/2023 04:07


postado por @OuroReal em 22/01/2023 23:34
 Exatamente isso Mauro, tinha uma aluna bem idosa, uma época ela fazia aula particular. Tinha dias que ela nem levava o material, falava que "esqueceu em casa", rs, e ficava conversando, desabafando, contando da vida dela, por um lado eu me sentia mal pois a família podia me achar mal intencionado, afinal não estava dando aula, só "batendo papo", e recebendo por isso. Mas ao mesmo tempo o bem que aquilo fazia para ela era nítido. 


sim, acontece.

no caso de sua aluna, para ela era mais importante o contato, a troca de palavras, uma conexão mais próxima do que uma aula.

obrigado por seu exemplo.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #42 de 50
MohamedAli  
em 23/01/2023 09:10
Minha esposa é oncologista. Aproximadamente 50% dos pacientes que ela atende pela primeira vez morrem num prazo de até 1 ano (pois infelizmente muitos descobrem o câncer num estágio avancado).  São pessoas de várias idades, desde seus 35 anos até os idosos.
Com isso, ela enxerga a vida de uma maneira diferente: ela valoriza muito o dia de hj! Amanhã é outro dia. Valorize as pequenas coisas de hj.
Atividade física e acompanhamento psicológico são fundamentais na profissão dela. Se não fizer isso, das duas uma: ou o sujeito pira ou fica totalmente indiferente com a vida/morte do outro.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #43 de 50
Mauro  
em 23/01/2023 11:06


postado por @Henriqu em 23/01/2023 09:10

Minha esposa é oncologista. Aproximadamente 50% dos pacientes que ela atende pela primeira vez morrem num prazo de até 1 ano (pois infelizmente muitos descobrem o câncer num estágio avancado).  São pessoas de várias idades, desde seus 35 anos até os idosos.
Com isso, ela enxerga a vida de uma maneira diferente: ela valoriza muito o dia de hj! Amanhã é outro dia. Valorize as pequenas coisas de hj.
Atividade física e acompanhamento psicológico são fundamentais na profissão dela. Se não fizer isso, das duas uma: ou o sujeito pira ou fica totalmente indiferente com a vida/morte do outro.


muito boa mensagem.
obrigado.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #44 de 50
Rincewind  
em 23/01/2023 16:51
Questão difícil, altamente prevalente na minha área (emergência).
Problema que a forma de lidar é o que o @Paulo falou mesmo: amputar o sentimento.

Isso gera em todos (equipe/pacientes) a sensação de frieza/impessoalidade/apatia.

Mesmo assim, existem certas situações que é impossível você não ficar abalado por contra transferência (positiva ou negativa). Por exemplo, toda criança grave eu que entubo/pego acesso intraósseo etc porque é raro ter pediatra com mão de emergência (mesmo os bem formados).

Porém eu fico deprimido alguns dias, parece que levei um murro no estômago de tanto que minha gastrite fica atacada e eu fico com as pernas moles depois de fazer tudo que precisa. Até hoje, graças à Deus, na minha mão nunca morreu uma criança. E já salvei criança com múltiplas paradas (3 horas ao total em RCP) que saiu sem sequelas, mas é extremamente estressante. 
E o grande problema é que minha área é muito mal valorizada no Brasil, tanto que tenho considerado, a cada todo santo dia que eu acordo, emigrar do país por sentir que faço a parte mais importante/crítica do paciente (todo médico admite isso) mas tem recém formado que ganha mais do que eu/mesma coisa (por falta de valorização da especialidade).
Tão sério é esse "problema" que os EUA concedem green card para emergencistas pois os americanos não querem fazer a especialidade (55% dos emergencistas americanos enfretam burnout, no BR isso sobe pra 70%) pela péssima qualidade de vida.

Triste que esse especialidade "me escolheu", eu sou muito bom nisso e é palpável a diferença que eu faço na vida dos pacientes, terrível se sentir desvalorizado fazendo algo tão nobre no meu ponto de vista.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #45 de 50
taqueta  
em 23/01/2023 18:28
Cara, trabalho em uma clínica de radioterapia (trabalho indireto com os pacientes).
É muito complicado vc saber que muitas das pessoas que estão passando pelo seu dia não viverão muito mais tempo. 
Lembro até hoje de um menino com tumor de tronco, sobrevida de 11 meses. Ele fez o tratamento de radioterapia + quimioterapia e o que estava ao alcance. Quando não se tinha mais o que fazer, a família muito humilde e muito sábia, decidiu levar ele pro cantinho dele, pra que ele pudesse por os pés na terra e ver os bichos como ele havia pedido. Quando eu lembro desse caso, lembro que apesar do desfecho inevitável, a qualidade de vida desse menino e o aprendizado que ele deixou foram gigantescos para mim e que perante aquilo que nós pudemos oferecer pra que ele tivesse o máximo de dignidade pra passar por esse momento, nós demos. Eu acho que o grande problema de quando trabalhamos nesses ambientes, é que acabamos marcando sempre os piores casos ou os casos mais doloridos para nós. Não conseguimos ver o "lado humano" daquilo que fazemos. 
Lembro que outra vez vi uma paciente que passou pela clínica que trabalhou bastante mal e um tempo depois a encontrei no mercado. Aquele dia a minha profissão foi ressignificada, percebi que o sentido de vitória nessas batalhas praticamente invencíveis não é vencer, mas entregar o máximo daquilo que podemos entregar para aquelas pessoas que esperam o mínimo nessa fase da vida!
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Convivo com a Morte todas as semanas - #46 de 50
Charlito  
em 23/01/2023 18:59
@Rincewind obrigado pelo que faz. Não desista de nós.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #47 de 50
Mauro  
em 24/01/2023 03:01


postado por @Rincewind em 23/01/2023 16:51

Questão difícil, altamente prevalente na minha área (emergência).
Problema que a forma de lidar é o que o Paulo falou mesmo: amputar o sentimento.

Isso gera em todos (equipe/pacientes) a sensação de frieza/impessoalidade/apatia.

Mesmo assim, existem certas situações que é impossível você não ficar abalado por contra transferência (positiva ou negativa). Por exemplo, toda criança grave eu que entubo/pego acesso intraósseo etc porque é raro ter pediatra com mão de emergência (mesmo os bem formados).

Porém eu fico deprimido alguns dias, parece que levei um murro no estômago de tanto que minha gastrite fica atacada e eu fico com as pernas moles depois de fazer tudo que precisa. Até hoje, graças à Deus, na minha mão nunca morreu uma criança. E já salvei criança com múltiplas paradas (3 horas ao total em RCP) que saiu sem sequelas, mas é extremamente estressante. 
E o grande problema é que minha área é muito mal valorizada no Brasil, tanto que tenho considerado, a cada todo santo dia que eu acordo, emigrar do país por sentir que faço a parte mais importante/crítica do paciente (todo médico admite isso) mas tem recém formado que ganha mais do que eu/mesma coisa (por falta de valorização da especialidade).
Tão sério é esse "problema" que os EUA concedem green card para emergencistas pois os americanos não querem fazer a especialidade (55% dos emergencistas americanos enfretam burnout, no BR isso sobe pra 70%) pela péssima qualidade de vida.

Triste que esse especialidade "me escolheu", eu sou muito bom nisso e é palpável a diferença que eu faço na vida dos pacientes, terrível se sentir desvalorizado fazendo algo tão nobre no meu ponto de vista.


""os americanos não querem fazer a especialidade (55% dos emergencistas americanos enfretam burnout, no BR isso sobe pra 70%) pela péssima qualidade de vida.""

não tinha ideia disso.
incrível como vc entra para um trabalho que "te escolheu" sabendo do sofrimento que acarreta.

realmente eh um trabalho nobre pois vc faz bem para os outros, faz diferença na vida da comunidade que atende, mas faz mal de certa forma para a sua.

se vc ainda nao mudou de especialidade, talvez ainda não seja a hora.

mas realmente tem que acompanhar de "perto" para não entrar em estafa, depressao, burnout ou o que seja e fazer muito mal para ti.

agradeço por seu trabalho e, como o trabalho faz parte de nós, não acho que consigamos separar 100% do sentimento como vc disse, por mais que talvez fosse melhor.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #48 de 50
Mauro  
em 24/01/2023 03:05


postado por @HugoraTruta em 23/01/2023 22:28

Cara, trabalho em uma clínica de radioterapia (trabalho indireto com os pacientes).
É muito complicado vc saber que muitas das pessoas que estão passando pelo seu dia não viverão muito mais tempo. 
Lembro até hoje de um menino com tumor de tronco, sobrevida de 11 meses. Ele fez o tratamento de radioterapia + quimioterapia e o que estava ao alcance. Quando não se tinha mais o que fazer, a família muito humilde e muito sábia, decidiu levar ele pro cantinho dele, pra que ele pudesse por os pés na terra e ver os bichos como ele havia pedido. Quando eu lembro desse caso, lembro que apesar do desfecho inevitável, a qualidade de vida desse menino e o aprendizado que ele deixou foram gigantescos para mim e que perante aquilo que nós pudemos oferecer pra que ele tivesse o máximo de dignidade pra passar por esse momento, nós demos. Eu acho que o grande problema de quando trabalhamos nesses ambientes, é que acabamos marcando sempre os piores casos ou os casos mais doloridos para nós. Não conseguimos ver o "lado humano" daquilo que fazemos. 
Lembro que outra vez vi uma paciente que passou pela clínica que trabalhou bastante mal e um tempo depois a encontrei no mercado. Aquele dia a minha profissão foi ressignificada, percebi que o sentido de vitória nessas batalhas praticamente invencíveis não é vencer, mas entregar o máximo daquilo que podemos entregar para aquelas pessoas que esperam o mínimo nessa fase da vida!


eh rapaz, essa historia que vc contou realmente toca a gente.
e é mais comum que parece, pois todos os dias em algum lugar uma criança tem pouco tempo de vida e já está somente esperando para partir.

triste.

mas é o que vc disse, as vezes ficamos com as histórias mais tristes e esquecemos do bem que fazemos naquele pouco tempo de vida que o paciente tem.
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Convivo com a Morte todas as semanas - #49 de 50
Mauro  
em 24/01/2023 03:05


postado por @Charlito em 23/01/2023 22:59

Rincewind obrigado pelo que faz. Não desista de nós.


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Convivo com a Morte todas as semanas - #50 de 50

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