Recentemente vi um colega daqui escrever sobre a crise dos 27 anos. Ele pensou em ser médico. Eu sou e vim aqui compartilhar a crise do lado de cá.
Achei o título preciso demais e vou repetir.
Médico, empregado e com um bom salário. Na residência médica de uma especialidade que não gosto, mas que é pré-requisito pra chegar na que "gosto".
Há um tempo desiludido com a realidade, tudo parece extremamente burocrático e, depois de ter ganhado um bom dinheiro me matando de plantões, acalmei a ansiedade da situação financeira difícil que vinha passando enquanto estudante (sustentado por um pai idoso que não se programou nada e adoeceu, sucumbindo quase que por inteiro a estrutura financeira da família, não fosse a ajuda de alguns familiares) e não tenho mais motivação para o que eu faço.
Antes eu sonhava em ter a melhor das formações, sub-especialização, me dediquei pesado pra isso, tentava estudar para ser o MEU melhor, mas parece que a vida fez a curva e agora me vejo no ciclo de "Vamos lá... mais um dia sem graça... mais pacientes reclamando daquilo que não tenho como ajudar, mais um dia chegando tarde em casa tendo que acordar cedo amanhã para mais um plantão, mais um final de semana trabalhando, mais um idiota de 2 anos na minha frente me tratando como se eu fosse um imbecil na residência, mais um plantão noturno sem dormir um mísero segundo e, ainda, sendo necessário para manter o que elegi "padrão de vida" (E não, não sou um idiota que criei dívidas, nem ostento nada se não poder almoçar com a patroa fora nos fds).
Contaminado por uma sensação de ingratidão visto que diante de tudo que conquistei e das oportunidades que a Vida me abriu, ainda sinto faltar o MOTIVO da parada... entende? O SENTIDO.
Não sou "analfabeto financeiro", minha vida não é cara, não ostento nada. Meu carro é quitado, aporto mensalmente, minha carteira está rendendo razoavelmente e tenho conseguido manter (e até crescer um pouco) o patrimônio mesmo na residência.. Mas parece que pra ter o "mínimo" de conforto diante das despesas que assumo ao ajudar a família, virei escravo dessa rotina de trabalho. Hoje algo aprox. 80h/semana com 2 plantões noturnos por semana.
To malhando, perdendo peso (ex-obeso), fazendo terapia (há 8 anos, já rodiziei o terapeuta), tomando remédio para Ansiedade e tenho um relacionamento amoroso excelente (caso em 2025), que me serve de grande rede de apoio.
To desabafando, talvez pelo próprio componente terapêutico/catártico de fazê-lo.
O que me intriga: Parece que descobri que não é medicina, "a minha praia"... Eu até gosto de estudar, mas meu TESÃO mesmo é em dar aula. Também gosto de servir, sempre sonhei em ter um restaurante (por mais bizarro que isso pareça), queria empreender... fico pensando umas idiotices do tipo "Cara.... nunca vou ter um porsche. Preciso empreender. Preciso sair dessa "prisão" de estar presente fisicamente para ter renda... senão, qualquer viagem, qualquer afastamento, qualquer coisa que me impeça de dar plantão/atender consultório, será anulada qualquer receita". Me sinto preso. Mas sigo aí, sem pensar no dia de amanhã, senão a crise de ansiedade vem (vendo os dias de plantão, imaginando a privação de sono, etc).
É foda parecer "não ter pra onde correr".