Fui no meu primeiro evento de bike semana passada e vou passar minhas impressões e sentimentos que já adianto imensamente positivos! Ainda tem a primeira (única?) revelação de quem é o Caramelo no final do texto!
Até então meu percursos eram basicamente trechos no asfalto ou estrada de terra, um pouco de subida, uma descidinha, só com uma pitada de pedaços mais complicados e lá vamos. Então estava na dúvida se daria conta. Mas muitos do que normalmente pedalo junto estavam indo e me encorajaram. Fiz minha inscrição. No dia anterior peguei meu kit e já me achei importante! Camisa, placa, presilhas e cartão, parece que é padrão, mas tudo de ótima qualidade.
O evento tinha 3 partes, uma trilha dupla de bicicleta (versão curta e versão longa), outra de moto e uma resenha depois com música ao vivo, a ideia era mergulhar e aproveitar tudo! Moto saia em um horário, bike em outro, caminhos diferentes, tudo me pareceu bem organizado.
O evento foi na cidade vizinha, minha cidade é pequena então foi bem tranquilo ir de bike mesmo. Cheguei lá pontualmente na hora informada, 7 da matina, pois tinha café da manhã no evento, cheguei de coração aberto e estômago vazio. Como é em Minas metade do café da manhã é pão de queijo e café, sem queixas aqui que tava tudo ótimo, além de muita fruta, bolo em tantas outras variedades. Fui resenhando com o pessoal tentando pegar dicas da trajetória, mas ou ninguém sabia e ou era da organização e não queria falar. Só consegui arrancar que tinha uma subida pesada, mas que depois era tranquilo
O trilhão propriamente dito começou às 8:30 e lá vamos nós, coração a mil, o começo ainda era na cidade, mais cicloturismo, escoltados pela PM e com motos da equipe acompanhando e orientando os ciclistas. Pouco depois, o asfalto sumiu e a brincadeira começou. De cara uma boa subida extensa, até então tava tirando de letra, sou pesado, mas tenho boa força, então simbora, tava "na elite". Fui me aclimatando, a cada tantos metros havia uma fita laranja pendurada numa árvore para garantir que estávamos no caminho, mas no começo todo mundo fica muito perto, então é só seguir o fluxo.
Passa uma hora, quase dezena de kms, perna sentindo o esforço, as pessoas começam a ficar mais espaçadas, um ou outro parando para pegar fôlego, (quase) ainda não era o meu caso, tava focadão e quase achei que ia mandar bem no evento. Do nada uma planície e comento com um ciclista próximo "Essa subida realmente foi pesada né?", me senti o comediante que ele riu demais. Só eu (ainda) não tinha entendido a piada. O clima era bom, mas aí entendi a graça a subida anterior não era a subida pesada, havia outra pior na frente, mais elevada, com mais pedras e caminhos mais complicados. A técnica (próxima de nula) começou a ser cobrada pq o chão cismava em se despedaçar em pequenas pedras rolantes de tempos em tempos. Já começa aquela estratégia, não natural para mim, de ir montando uma rota melhor na cabeça à medida que ia subindo. Com os olhos pro chão ficava com medo de perder as fitas laranjas do caminho. Sem problemas pois ainda sempre tinha um ciclista no campo de visão, só levantar a cabeça, achar um maluco e tava tudo certo. Fui seguindo, a cada curva na frente eu achava que era o fim da subida, que inocência! Tinha outra, mais outra e outras mais!
Os ciclistas cada vez mais espaçados, meu grupo tinha ficado pra trás e começou a ficar mais raro ver um trilheiro, comecei a cantar: slipknot, rammstein, system of a down, rhcp, pearl jam até jota quest embalavam meu pedalar. Pensando se seria uma boa levar uma caixinha de som para conduzir o movimento... O folego sentindo, mas a cabeça imensamente leve, rindo sozinho, já tava chegando a 1:30, 2 horas de pedal, perna sentindo bem, mas sigamos no estilo Dory, "continue a pedalar, continue a pedalar". Eis que chega o ponto de apoio com uma nova dose de frutas sutilmente resfriadas muito bem vindas, um pacote com paçoca e doce de banana que foram meus manjares divinos, cairam como amor de mãe no meu estômago, deixei duas bananinhas no bolso, precisaria de mais amor pela frente? Mas não era hora de pensar, dou um tchauzinho pro drone que curtia meu sofrimento e procuro o caminho...

Um integrante da equipe aponta para o que parecia uma mato fechado. Descubro que esse era o caminho, sairíamos da estrada e iríamos pro meio do mato, não tem mais espaço para 3 bicicletas lado a lado, agora mal cabe a sua, teria que chafurdar o caminho. "In for a penny, in for a pound!" não tem helicóptero para me buscar então bora. Tava bem cansado, a trilha era obviamente acima do meu nível clássico, mas vim pelo pacote completo! Nem que fosse andando eu ia terminar a bagaça!
Era o trecho técnico, tinha subida, descida, rio, pedra, córrego, abaixa pro galho, era meu inferno astral em forma de rota de bike e perdi a conta de quantas vezes pedi penico e fui a pé. Vários que passei, me passaram. Mas nunca se esqueçam, eu fiquei que seja por minutos na frente de vocês! Cada obstáculo passado eu tava rindo sozinho no sertão, mas cada novo obstáculo meu coração dava um novo aperto e assim seguimos por um tempo indefinido. Já passando aperto, via ocasionais placas indicando "PERIGO" e sempre pensava MAIS?!?!!? A placa não estava de brincadeira. O cansaço que eu tinha sentido era brincadeira perto do que eu sentia agora, descobri marchas mais leves na manete, aprendi na marra a subir em alguns obstáculos sem descer da magrela (o que definitivamente não significa que não desci para vários). Tomei uma surra épica da trilha até que chegou no terceiro ponto de apoio. Onde eu deveria escolher pela rota longa de 39 ou curta de 27...
Ver maisMe sentindo Bambam das trilhas aceitei meu limite e fui chorar pitangas com os demais ciclistas e tava decidido pela curta. Já não tinha ideia de onde estava meu grupo, não fazia ideia de onde eu estava. Cada um dos ciclistas que encontrei na para me encorajou a ir pela trilha longa, que o pior tinha passado e tinha uma surpresa no caminho. Não sei se pela curiosidade, falta de oxigênio no cérebro ou emocionado pelo apoio de novos queridos, fui pela trilha longa. Quase imediatamente arrependido pois era uma subida absurda.
Não sei se por calejamento do coração ou por evolução, mas realmente o trecho parecia mais tranquilo (depois da subida) e fui seguindo de volta a trilhas mais largas, subidas, pedras e descidas, tirando energia de não sei onde, lembrei das bananinhas e me deram um turbo curto, as pernas não se importavam mais. Até que vejo um oásis, um terceiro ponto de apoio, com churrasco e a mais gelada das heinekens que a antártida tinha visto. Era essa a surpresa e nesse quiosque improvisado achei os melhores bar mans e churrasqueiros do mundo. Era um momento fofo, de confraternização, mas nada tinha acabado, segui pela trilha, feliz com a surpresa, mas...
...ia seguindo de cabeça baixa, olhando a terra amassada por tantos pneus me levando até onde não sabia mais até que vejo a terra virar uma areia mais branca, mais fofa, mais leve, levanto a cabeça e tantas subidas tinham seu sentido, havia uma vista linda, distante e maravilhosa que me deu mais energia que as bananinhas e segui, um pouco mais erguido. Do nada, começo a lembrar de um rock clássico, estava tão alucinado que esse rock se materializa e começo a ouví-lo mais claramente, não lembro o artista mais era imensamente querido (vide lista pretérita). Eu grito "É você morte?" a "morte" me responde "É para te motivar e ri" e o danado roqueiro tinha mais perna que eu e foi seguindo, dei passagem, por ética, claro, não por que minha perna não tinha mínima capacidade de fazer mais. Até que começa um combo de descidas, a vista não era de graça, claro, e a dor das pernas virou dor nas mãos, ao contrário dos calejados eu desci a ridículas velocidades nas ribanceiras propostas sofrendo bullying dos demais ciclistas, quem não tinha me passado até então definitivamente teria me passado nesse instante! Obrigado freios a disco e desculpa. Fui seguindo...
Ver maisSem pensar muito, sem peso na cabeça, todo o peso do mundo estava nas minhas pernas, espalhando pra lombar, pros ombros, pescoço, mão, braço, eu era um monte imenso e gordo de dor, mas fui um monte de superação e quando vi o asfalto, e só não chorei enquanto beijava o filho do petróleo por dignidade. Cheguei de volta ao evento e ou sentia dor ou não sentia a parte do corpo. Mas sentia uma imensa alegria inédita de superação. Não havia tentado tamanha empreitada e mais que isso havia a superado e isso? Não tem preço, mas bota 39km trilhudo na conta do pai!
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