Qdo eu era moleque, há muitos anos atrás, sempre q ouvia
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro do Rappa –
– não entendia o que era dito no final: Valorizerói todo sangue derramado... Anos depois, já apaixonado pela obra de João Bosco, escuto com muita surpresa a belíssima faixa
João do Pulo e mato a charada do sampler final na música do Rappa!
JB é um dos meus artistas favoritos de sempre e as letras de seu parceiro Aldir Blanc são geniais, um casamento perfeito. E a história de João do Pulo é quase uma tragédia grega e envolve muitos elementos. Preto e pobre nascido nos anos 50 começou a trabalhar aos sete anos! Depois no exército começou a treinar e quebrar recordes mundiais no salto triplo. Grande favorito em sua primeira olimpíada ficou com o bronze por estar se recuperando de uma cirurgia na barriga e na próxima, em Moscou, foi prejudicado pelos juízes q favoreceram um russo. Chegou a derrotar Carl Lewis num pan-americano. Era o favorito p as olimpíadas de Los Angeles, mas o destino foi caprichoso e num acidente de carro perdeu... a perna direita! Entrou e saiu da vida política e passou seus últimos dias na mesa de um bar. Morreu sozinho, sofrendo de depressão e alcoolismo em 1999.
A canção é um deleite auditivo e
visual, sem dúvida uma pérola escondida de nossa música não muito popular brasileira. Aqui temos a versão com bônus lindíssimo que é Clube da Esquina nº 2 (mas essa é outra história):
Aqui a versão original do álbum Cabeça de Nego de 1986 (q também tem sons aparentemente ininteligíveis):
João do PuloAutores: João Bosco & Aldir Blanc
Combate, Malê! Dá três pulos aí Saci!
Se atira no espaço por nós, Zumbi!
Joga a chibata, João, no mar que te ampliou!
Olha o raio de luz: Kawô, Xangô!
Olha o raio de luz, Kawô, Xangô!
Olha o raio de luz, Kawô, Xangô!
Nosso país infeliz também pulou.
Pulou o Brasil do tri
Pulou e tremeu de dor
Ao ver o pulo do gato cortado
Cortada a perna de luz, cortada
A claridade do raio de Xangô
Fechou o Brasil do tri
Tristetritrovejou
De dor o povo pulou pra frente
Semente o sangue do herói, semente
-Ô, Pula João! Ô, Kawô, Xangô!
João como um João qualquer
João de sangue Afro-Tupi
De príncipe a escravo a preto-forro
De operário a novamente herói do morro
Aprendeu a resistir
Na favela, a tribo passa fome de cachorro
É um osso duro de roer
Mas toda a resistência corre em meu socorro
Valoriza, herói
Todo sangue derramado Afro-Tupi !
Valoriza, herói
Todo sangue derramado Afro-Tupi !
Valoriza, herói
Todo sangue derramado Afro-Tupi !