“Gosto muito de crianças
não tive um filho de meu
um filho: não foi de jeito
mas guardo dentro do peito
meu filho que não nasceu.”
Esse poema de Manoel Bandeira foi, por anos, um mantra para mim. Sou o que um grande amigo chama de “pai véio”. Já tenho sobrinhos formados e outros quase terminando a universidade.
A paternidade sempre foi um dos principais propósitos da minha vida. Mas foi no tempo da minha esposa, mais jovem doze anos, e veio no tempo certo, no tempo em que já tenho maturidade para dar o meu melhor e fazer as escolhas certas e importantes para ter um melhor equilíbrio entre ser pai, filho, marido, amigo, profissional e os outros tantos chapéus que a vida nos dá.
No nosso primeiro ultrassom, a data prevista para o nascimento do nosso primeiro bebê era hoje, 7 de julho. Meu trabalho sempre me exigiu viajar muito e foi um desafio grande me propor e convencer os meus clientes a ficar um mês em casa, esperando a hora dele nascer.Ele nasceu dia 26 de junho. De parto normal, como minha esposa tanto desejava. Ele já está em casa conosco há uns dias e eu ainda não consegui organizar direito a minha vida desde então, mas está tudo bem e sei que tudo vai dar certo.
Alguns trabalhos estão atrasados. Todos mundo entende, mas ainda assim cobra e eu os entendo. As coisas vão se ajustar. Mas definitivamente a paternidade é transe, é choque. Estou acordado neste momento porque como pai de primeira viagem, qualquer respiro ou resmungo já me faz levantar e ver se está tudo bem com ele.
Mas nosso bebê é bonzinho e deixa minha esposa, exausta do parto e da amamentação, dormir a noite quase inteira. Quando precisa, ele fica no meu colo e se busca com a língua o meu corpo, eu já sei que quer mamar e posso acordá-la. Já foi no pediatra e engordou mais gramas por dia era suposto. Tomou a primeira vacina e não chorou quase nada. E eu estava lá com ele, protegendo seu rosto e segurando o seu braço. E espero sempre poder estar lá…
Nunca pensei que eu seria o Pai que iria conseguir trocar fralda e dar banho com desenvoltura, que ia pegar o menino com pescoço molinho sem medo de machucar ou que eu mesmo iria assistir tudo, apoiar minha esposa e cortar o cordão umbilical.
Meu filho curou meu trauma com sangue. Eu, que nunca pensei que conseguiria estar em um parto sem querer desmaiar, não via ali sangue ou qualquer outro fluido que saia da minha esposa, mas a vinda do meu bebê, do meu filhinho. Como agora não tenho nojo do coco na fralda, porque aquilo também é o meu menino.
E isso é só o começo. Ouvi muitas vezes que a vida recomeça na paternidade. Ela não apenas recomeça. Ela acelera e ganha foco. Já não há tempo para hesitar em iniciar aquele projeto ou procrastinar aquela entrega. É preciso ser mais rápido e mais eficiente, pra poder se dedicar mais tempo a ser Pai.
Que esse amor abundante que inunda a minha casa - o meu lar - neste momento nunca se dissipe. Que venham muitas semanas corridas e muitas responsabilidades pela frente. É só olhar pro meu menino, que sei que irei dar conta. E que tudo vai dar certo.