Deu uma vontade de compartilhar um negócin aqui:
Quando comecei a morar com minha namorada as tarefas domésticas se dividiram super bem e era comum eu coordenar as coisas para matar essas tarefas e podermos
ter mais tempo juntos. Um exemplo de que eu gosto é eu levar o lixo para fora enquanto ela terminava de lavar a louça. "Tirar o lixo leva 5 minutos. Falta esse tanto de louça... dá tempo de eu tirar e voltar pra ajudar a secar aí não temos que depois gastar 5 min pra fazer algo que eu posso adiantar".
No fim eu economizei aí 5 minutos que sobrava a mais pra assistir algo juntos, pra jogar, pra conversar ou, o que acontecia muitas vezes, pra ver meme e dar umas risadas. Só que isso não trazia satisfação e para nós dois. Não é como se eu precisasse de mais tempo pra ver mais meme, nem pra conversar afinal nós moramos juntos e assunto tá em dia. Enfim, eu acho que para mim o que incomodava é a sensação de velocidade, como se eu estivesse trabalhando às 8 da noite, terminando uma tarefa pra mandar a próxima: curtir o tempo livre (como se isso fosse uma tarefa). Para ela o que incomodava é estarmos fazendo as coisas separados para no fim não estarmos juntos de verdade.
Então daria pra argumentar que esses 5 minutos ganhados não são bem aproveitados, então 5 - 5 = 0, logo, não faz sentido. Só que nem precisa de conta. Nós não nos
sentíamos satisfeitos mesmo que o resultado da continha fosse positivo.
E a solução hoje é em um roleplay digno de repartição pública: nós levamos o lixo
juntos. Dois seres humanos adultos saudáveis para levar uma sacolinha de lixo até a lixeira. Um leva e o outro acompanha e olha. Argumentavelmente: agora duas pessoas realizam uma tarefa de 5 minutos que uma poderia fazer. Isso é - 5 - 5 = - 10. "Nooosssa, que terror, que ineficiência, que medo de gastar tempo, boooo". Agora falo assim, mas nas primeiras vezes eu pensava algo similar comigo mesmo.
E mais: o que era ineficiente ficou mais ineficiente porque nós começamos a descer pelas escadas e pegar um caminho mais longo na volta. 4 lances de escada não deixa ninguém mais ou menos saudável. O caminho mais longo não é uma caminhada digna de esporte. Uma pessoa a mais ou a menos dando "boa noite" para o porteiro não faz diferença. O que faz diferença é que isso nos faz
sentir melhores conosco mesmos.
No fim a questão é que não importa tempo, não importa número, não importa métrica qualquer. Não é sobre fazer mais e sim sobre menos. Importa que nós
sentimos que estamos fazendo algo juntos. Afinal tem nada haver com tempo. Nunca teve (note a parte grifada no 1° parágrafo), pois nenhum Toyotismo vai deixar a vida de ninguém melhor porque não somos máquinas numa fábrica e sim humanos no fim de um dia.