Era uma tarde qualquer de dez anos atrás, quando eu ainda atuava como advogado. Um amigo e cliente me procurou. Ele queria minha opinião sobre um “investimento” que vinha rendendo bons frutos.
— Estou recebendo 20% ao mês! — anunciou ele, com um sorriso de orelha a orelha.
Confesso que a declaração despertou minha curiosidade. Meu amigo explicou que havia investido R$ 10 mil em um fundo e, por dez meses consecutivos, estava recebendo R$ 2 mil de retorno. Ele chegou a me mostrar os extratos bancários como prova, e lá estavam, os valores que pareciam confirmar o “milagre”.
Para completar, ele ainda me apresentou um contrato de garantia assinado por um bancão respeitável. Analisei o documento com cuidado; estava impecável. Tudo parecia formal e dentro da legalidade.
Na época, devo admitir, meus conhecimentos sobre investimentos eram praticamente nulos. Não sabia o que eram ações ou FII’s, mas algo no discurso dele me deixou desconfiado. Resolvi ser direto:
— Olha, o contrato é regular, mas pensa comigo: se existe algo que rende 20% ao mês, você não acha que o Warren Buffett já teria investido tudo nisso? Eu não colocaria meu dinheiro. Como diria minha avó, ‘quando a esmola é muita, o santo desconfia’.
Meu amigo ouviu, ponderou e se despediu dizendo que iria pensar. A vida seguiu seu curso, até que, cerca de um ano depois, ele voltou ao meu escritório, mas agora com um semblante abatido.
— Coloquei R$ 150 mil no negócio. Vendi meu carro. E não fui só eu. Alguns amigos meus venderam até seus imóveis para investir. Agora, a empresa parou de pagar os rendimentos.
Lembrei imediatamente do contrato de garantia e tentei encontrar alguma esperança para ele:
— E o contrato com o bancão? Podemos acioná-lo?
Foi então que ele completou, com a voz cheia de vergonha:
— Então... No meio do negócio, eles trocaram o bancão por um contrato com um banquinho no Japão. No Japão, “véi”!
Respirei fundo, tentando conter minha frustração.
— Não me leve a mal, mas eu não vou executar uma garantia de um banco do Japão.
O resultado? Ferro. Ele perdeu tudo. E não foi o único.
Confesso que, na época, também fiquei tentado a entrar no esquema. Afinal, quem não gostaria de um retorno tão alto? Mas a voz da minha saudosa avó ecoava na minha mente: “Quando a esmola é muita, o santo desconfia”. Essa lembrança me salvou.