Nominalismo: O mediocre Universal.
comentada em 08/01/2025 18:49

Vc está basicamente discutindo adjetivos. E adjetivos são palavras que as pessoas inventaram da cabeça delas, não são verdades do universo ou leis que comandam a física.

@SilkRoadOasis
Cara, você tá entrando em uma discussão antiga, e bem chatinha, sem entender nem de onde ela começa.

Se eu entendi direito, você entrou em contato com uma galera que propõe que palavras não existem na realidade, e que são construções de significados das coisas que os humanos fazem.

E, ao que parece, você ficou chocado ao descobrir que existem correntes que não são realistas, ou ultra realistas, ou seja, antes você achava que mediocridade existia e era uma coisas formal, que ela era um objeto assim por dizer.

Só que parece que está caindo para outra vertente do realismo, que tem um pé no positivismo, de que as coisas precisam existir "matematicamente". E voltando para espiral de existir um significado maior nas palavras, ou de que elas deviriam significar algo a priori.

Então, não é nenhum nem outro. As palavras não são definidas em pedra, nem tem significados em si mesmo. O único significado que elas tem é o uso que as pessoas dão para elas.

Palavras são só acordos mais ou menos estáveis que as pessoas usam para tentar explicar para as pessoas as coisas das vidas delas.
Essas palavras que você usou eram palavras que serviam para comunicar X, mas pelo uso social, acabaram virando extremos. É um fenômeno bem comum da sociedade. Vira e mexe conceitos científicos tem que trocar de nome pq o popular passa a usá-lo de uma forma errada ou extrema.

Por exemplo, pessoas tem usado cada vez mais termos de adoecimento mental grave para descrever estados normais da vida. As pessoas dizem ter TOC, depressão, hiperfoco etc para descrever suas características, que tem similaridades com os termos científicos/técnicos mas não atendem os critérios de adoecimento mental grave.

É um fenômeno que acontece desde sempre, e tem uns psicólogos interessados no assunto que tem falado de "concept creep"

Concept creep - Wikipedia

Eu particularmente não gosto tanto desse conceito, não só ele é novo, mas tem toda uma coisa política em volta de que é bem chatinha, mas seja como for, é um cara que tem elaborado de uma forma organizada o fenômeno que você está tentando descrever.

Talvez esse vídeo te ajude.

Parece um pouco as piras que eu entro empilhando simbolismos e suposições não-verificadas que, depois de ter empilhado tanta coisa, esqueço que eram suposições, perco a conexão com a realidade e entro num buraco caótico.

Eu diria pra evitar chegar nesse lugar.

Essa é uma discussão bem antiga na Filosofia, vindo desde os clássicos até a filosofia da linguagem (contemporânea). Acho super interessante essa reflexão sobre universais X nominais. 
Só um adendo: nem a média existe, pela perspectiva nominal. A média é uma abstração matemática, uma ferramente conveniente, e só. 

@Paulo
"Por exemplo, pessoas tem usado cada vez mais termos de adoecimento mental grave para descrever estados normais da vida. As pessoas dizem ter TOC, depressão, hiperfoco etc para descrever suas características, que tem similaridades com os termos científicos/técnicos mas não atendem os critérios de adoecimento mental grave."
 

Esse problema me parece advir da própria construção dos quadros clínicos dentro da psiquiatria. A partir do próprio DSM, é possível ver o quão frouxos são tais conceitos - e, mais importante, seu diagnóstico é única e exclusivamente subjetivo, apesar das tentativas, desde meados dos anos 70, de se encontrar marcadores biológicos. É uma área cinzenta da medicina. 

@SilkRoadOasis  

Como essa discussão é, hoje, uma discussão de Filosofia da Liguagem, eu indicaria livros contemporâneos de fil da linguagem. Poderia começar com "Margens das Filosofias da Linguagem", do professor Julio Cabrera (foi titular do Departamento de Filosofia da UnB por muitos anos, agora já está aposentado - foi o melhor professor que tive na vida). É um livro introdutório e te dará base para, posteriormente, adentrar diretamente em textos de filósofos como Bertrand Russel, Wittgenstein, Carnap e outros do chamado Círculo de Viena. Além dos alemães, há muita filosofia da linguagem anglófona. Eu tenho um livro, em inglês, que trata justamente do nominalismo, mas faz tempo que o li e agora me fugiu o nome do autor, vou ficar te devendo. A conexão entre linguagem, realidade e mente é algo deslumbrante para se debruçar! Pode te interessar também os compêndios de filosofia da linguagem das grandes universidades anglófonas, que têm essa tradição de publicar compêndios. São meio salgados em termos de preço, mas geralmente são excelentes, com artigos de acadêmicos renomados nas respectivas áreas. 

Fui caminhar e fiquei pensando sobre esse assunto. A noção de universal surge já em Platão, que a partir da substantivização de adjetivos acabou desenvolvendo o seu sistema do Mundo das Formas (ou Mundo das Ideias, a depender da tradução). O Justo, o Belo, o Bem - tudo isso teriam formas ideias, cujas representações materiais seriam meras "cópias defeituosas". Veja, nem tudo é preto no branco. Por mais que os universalistas tenham perdido a "guerra", ainda há grandes problemas a serem enfrentados nessa discussão. Por exemplo, quando usamos um signo para referenciar um objeto real - uma palavra que designa uma coisa -, esse signo tem uma conexão com o objeto ou é referenciado no próprio significado? Bertrand Russel quase fritou o cérebro com o problema de autoreferência nos sistemas lógicos - e a linguagem é um sistema lógico informal. No final das contas, cada signo pode ter diferentes significados, algo corriqueiro na linguagem informal, o que nos leva a crer que o signo referencia o significado, não o objeto - e o significado é traçado a partir da sociabilidade, que é o substrato da construção de uma linguagem (não existe linguagem sem sociabilidade). Então poderíamos dizer que, dentro de uma linguagem natural e informal, o significado é um universal relativo, que se torna a referência dos signos usados. E os objetos? Ahhh, esses a gente nunca alcança de verdade, só os tangencia. É nessas que Kant chegou a divisão da realidade em noumênica e fenomênica - existem as coisas-em-si, as quais nunca teremos acesso, e existem as coisas para-nós, que é a forma como compreendemos o mundo, que necessariamente se encaixariam nas categorias transcedentais do conhecimento. 

@dimistepa8082 cara, a crítica que você está fazendo é uma crítica antiga, e que é, pelo menos em parte superada.

O fenômeno de tomar termos técnicos para linguagem comum é maior que a psiquiatria. Por exemplo, o termo fisica quantica foi tomado pelo popular para outras coisas que não tem nenhuma relação com as definições científicas da palavra.

Palavras vão e vem, mudam de significado, desaparecem, reaparecem como geralmente é com as coisas humanas.

A revolução da galera que você citou sobre filosofia da linguagem é justamente nesse sentido, se terem assumido a separação da linguagem, e finalmente entender que uma coisa não tem vinculação ou direta com a outra.

Ademais, existem inúmeras críticas possíveis aos diagnósticos psiquiátricos. A que você trouxe sobre os marcadores biológicos é uma que está relativamente superada e ao mesmo tempo entendeu-se que ela é a fonte do problema.

Boa parte dos problemas que tínhamos é nessa insistência no ultrarealismo e no positivismo lógico, no caso dos adoecimentos mentais, esse problema acontecia bastante por causa do biologismo, o ultrabiologismo. Que em parte foi superado pelo modelo bio-psico-social.

O biologismo é um problema cultural assim como horóscopo, não é um problema técnico. Alguns profissionais ainda pensam dessa forma, mas não é o "estado da arte" da ciência.

Hoje em dia, por exemplo, esse problema aparece bastante na ideia da dopamina que tomou o cultural atual. Em que as pessoas acham que dopamina é a responsável por tudo, e que tudo é dopamina e sistema de recompensa do cérebro.

Mas repito, isso é um problema cultural que originado do biologismo e na ideia que foi vendida anos atrás de que "consertar o cérebro" era consertar o humano. A guerra contra as drogas também tem um pezinho nessa cultura, na ideia de que o vício é quase uma doença terminal que destrói o cérebro de uma forma irreparável e nada pode ser feito.

Antes da dopamina era a questão da serotonina e do vício entre outras coisas.

Portanto, a crítica que você fez, tem em si o problema que demoramos um tempão para resolver pq usávamos um quadro de entendimento ruim para o problema. Quando abandonamos o biologismo a coisa ficou bem mais razoável. Não é insistindo no que já deu errado por 100 anos que vamos resolver o problema, a busca de marcadores biológicos para essas questões se provou um caminho inútil.

A questão do adoecimento mental não é uma área cinzenta da medicina, em primeiro lugar pq a medicina não é dona dos adoecimentos, nem ela tem na ciência o título de dona dessas coisas, apesar de no ordenamento social muitas vezes ter.

Em segundo lugar, pq hoje existem outros modelos que trazem mais clareza para o problema, especialmente depois que o biologismo foi abandonado. Se existe cinza nessa área, é tanto quanto existe em qualquer área do conhecimento humano.

@dimistepa8082

@Paulo

Opa, então, eu não fiz exatamente uma crítica, foi mais para um comentário superficial mesmo. Inclusive concordo com você quanto ao problema do biologismo ser cultural, não técnico (apesar de que problemas culturais transbordam para a técnica, de qualquer forma). Na psiquiatria, tinha-se 3 grandes tendências em geral: a psiquiatria social, a psiquiatria de base psicanalítica e a psiquiatria de modelo bioneurológico. Este última ganhou força institucional a partir dos anos 80, quando se tornou hegemônica na APA (American Psychiatric Association). A partir de então, o modelo de cuidado mental foi muito focado na farmacologia e na ideia de que o sofrimento mental crônico seria consequência de um desequilíbrio neuroquímico, que poderia então ser restabelecido por meio da farmacologia psiquiátrica. As pesquisas mais recentes, pelo que li uns anos atrás, demonstram que, em verdade, o que ocorre seria o inverso: o adoecimento psíquico crônico causaria o desequilíbrio neuroquímico. De qualquer forma, a medicação poderia auxiliar na sintomatologia, mas o quadro de longo prazo não prescinde da psicoterapia para que se trabalhem as causas. Enfim, é uma discussão bem interessante!

@Paulo

Verei os vídeos mais tarde, até por interesse próprio. Sou viciado em recuperação, limpo há mais de ano graças a Deus e ao meu esforço. 
Um livro que li ano passado sobre vícios que gostei muito foi o Nação Dopamina, da Dra Anna Lambke. Apesar de o nome acabar esbarrando no abuso semântico de dopamina, como você mesmo chamou a atenção, é interessante como a autora - uma psiquiatra especialista em vícios - demonstra que todo e qualquer vício, seja em substâncias, seja comportamental, acaba sendo um vício "químico" na perspectiva neurológica. E claro, todo vício tem um contexto. Ninguém fica viciado em crack só porque experimentou a substância. Existe todo o contexto social em que a pessoa está inserida para que chegue ao ponto de experimentar o crack e, depois, continuar o uso abusivo e, consequentemente, com o vício. O modelo bio-psico-social me parece ser o mais adequado para entender enfermidades e vícios (considerando o vício como uma enfermidade - lembrando que vício em sexo, em pornografia, em apostas, tudo isso é igualmente vício).

@Paulo

Olha, os vídeos são teus? Que legal, cara! Mais tarde vou ver ambos!

É uma discussão de mais de mil anos.

Agora eu vou chorar no banho e comer um chocolate(tem que equilibrar as coisas)...rs.

Esse video do paulo, ser bio psico social é bem bom. Me ajudou a entender os vicios de comportamento, que me assustavam mais do que os vicios quimicos.

Ele meio que ta dizendo que o Todo:Bio,Psico,Social é muito mais que a soma das partes.

Aristoteles disse isso.

@dimistepa8082 eu produzo um sem fim de conteúdo aqui para bastter.

@Paulo

Depois que eu vi que você é um dos moderadores!

Parabéns pelo conteúdo!
Abrs