Trabalho médico: SUS x Privado.
comentada em 07/10/2020 13:03

@Dr.Student.

 

Talvez eu possa te ajudar.

Sou médico, emergencista, trabalho exclusivamente em serviço privado. Trabalho em 3 hospitais diferentes, todos privados, 2 deles sendo operadora de saúde verticalizada.

 

O que eu posso te dizer é que tudo na vida tem prós e contras.

Eu venho da melhor faculdade de medicina do Brasil então sempre acompanhei de perto a vida de alguns professores que foram verdadeiros mestres para mim.

 

Quase todos reclamavam da remuneração. Acredito que, em termos absolutos eu devo ter uma remuneração em torno de 70-100% maior do que eles, porém eu sou fora da curva porque trabalho em média 84 horas semanais. 

Eles possuem vínculo de exclusividade com a faculdade, exercendo tanto como professores mas também como assistentes (seu caso) e não conseguem ganhar mais mesmo que queiram (tem teto e não podem fazer nada por fora).

 

O lado bom é que eles trabalham de segunda a sexta a maioria das vezes, quando dão plantão é como chefe (fica dormindo e residente faz tudo, só é chamado quando a bucha estoura), possuem férias, 13º e todos os benefícios do regime estatutário.

 

Problemas do privado é: hoje praticamente 100% das vezes você será contratado via PJ. Você não poderá reivindicar muitas coisas e terá que começar "por baixo" pois alguém que veio antes e já ralou muito pega os melhores locais/dias/horários de trabalho e você vai ter que se ajustar com o que sobrar.

Dependendo da sua especialidade, com a verticalização das operadoras, o que eu tenho visto é um certo cerceamento da liberdade do cirurgião em escolher técnica cirúrgica e matmed utilizados. Eu vejo muitos colegas cirurgiões reclamando disso.

Cooperativas tem muita politicagem, você vai se tornar sONcio de colegas que você talvez não escolheria para ser seu sONcio e pode cair em roubadas, porém a remuneração e a liberdade para trabalho não se compara (tudo na vida tem prós e contras lembra?).

 

Então assim, vai muito do seu perfil. Eu acredito que não me daria bem no serviço público pois eu sou extremamente eficiente e competitivo, ficar engessado e perder tempo com burocracia não producente não é muito pra mim. Mas eu não descarto procurar docência num ORUTUF pois acredito que não terei pique de continuar trabalhando tanto assim por muito tempo e eu gosto da parte docente (acredito que eu iria para serviço privado de ensino).

Espero ter ajudado.

Desculpe mas sua decisão parece ser muito pessoal. Quanto o trabalho do serviço público te prejudica a #pas e quanto te traz de gratificação? Somente você poderá por na balança. Talvez outra instituição privada ofereça a oportunidade de você exercer cargo de professor porém sem a estabilidade e remuneração do cargo público. Difícil.

@Dr.Student.  

Infelizmente no setor privado nem sempre sua vida não vai ser diferente, exemplificando:

falta de condições razoáveis de trabalho > você vai ter que fazer mesmo que não te deem condições
muita cobrança burocrática > vai ter que bater cartão, responder e-mail, justificar atrasos, etc
ambiente hostil de trabalho entre os membros da equipe > um querendo puxar o tapete do outro
lideranças extremamente apáticas e politiqueiras > o sonho do gerente é mam... o diretor

É tipo mudar de país querendo que as coisas mudem.

Se eu na minha pouca experiência posso recomendar uma coisa eu recomendaria que aprenda a lidar com esse ambiente hostil em que vive, quando e se conseguir progredir nisso você pode mudar para o setor privado sem problemas porque na verdade o ambiente continua o mesmo mas você evoluiu e muito!

Dê tempo ao tempo o foque na tranquilidade financeira enquanto isso, porque se nada mudar e um dia você ficar de saco cheio pode ir para algo ganhando Nx menos mas terá um bom alicerce

eu trabalhei quando era medico em emergencia publica ate o dia q comecei a ter panico de ir para la
fiz minha parte pensando como voce e gostaria de ter feito mais mas cheguei no limite de aguentar ver gente morrer q nao precisa morrer e das pessimas condiçoes de trabalho, de ser ameaçado, etc

entao so vc q pode saber ate onde da para vc ir

eu acho espetacular isso de querer ajudar os q nao tem condiçoes
e pensava muito assim mas cheguei no meu limite
entao vc q tem de saber onde está seu limite

como clinico ao menos eu conseguia mesmo em consultorio particular continuar ajudando e atendendo de graça pessoas sem condiçoes

Não sou médico, mas fiz alguns caminhos na saúde, expliquei um pouco melhor aqui:

Médico e Engenheiro ao mesmo tempo - #VAILÁEFAZ! - Bastter.com

 

Sobre a parte de ajudar os outros, isso sempre foi importante para mim e consegui fazer isso melhor fora das burocracias institucionais. É muito mais fácil abrir um dia de agenda gratuita sem as infinitas cobranças que existem nas instituições.

Com o colchão de segurança que tenho hoje preferiria ter uma clínica e pagar salários para médicos atenderem de graça público carente do que voltar para as instituições. Em dado momento o pessoal que fazia parte dos meus curso atendia muito mais gente de graça do que eu conseguiria atender sozinho em um ano. Então, sempre tem um caminho para fazer se você se dispõe a isso.

Já trabalhei em público e privado. Geralmente privado não tem os problemas estruturais e falta de recurso do SUS mas ambiente é 1000% mais hostil. Quanto menor o hospital mais parecido com SUS fica no sentido do gerente amigo do diretor ou do fulano parente do dono. Fora o vínculo de trabalho do privado já vi várias vezes assumir plantão pessoa vomitando com diarreia pq não conseguiu ninguém para cobrir. Não tem essa diretor assume se não arranjou. Se vc não conseguiu e furou escala está demitido.

editando aqui pq esqueci. Para meter o ferro no convênio a burocracia do hospital privado hoje muito maior do que no sus. 


hoje vejo que o melhor é ficar no máximo 2x na semana no mesmo lugar regime de plantão. Se ninguém sabe seu nome melhor ainda. Faz o serviço só fala o mínimo. Tenta ajudar da melhor maneira

É o velho dilema da docência (vocação) / satisfação pessoal e profissional versus realização financeira/ condições de trabalho. No Brasil as duas coisas não podem ser alcançadas juntas, infelizmente.

@Bastter

Mas então, eu acho que não compara viu...

Trabalhar num PA do SUS no Hell de Janeiro, é pra médico raiz. Ganhou meu respeito.

 

O colega opera num hospital universitário e trabalha como docente. É muito diferente o tipo de estresse e pressão para comparar um com outro.

@Rincewind sim mas eu quis colocar o pensamento
aquilo la era vietnam hahaha

Ja trabalhei no SUS  

Ja fiz docencia

Ja fui dedicado a pesquisa 

Hoje so medicina privada - convenio -  em busca de PAS   .....


Mas como ressaltaram os colegas acima   eh um decisão muito pessoal 

Olha, não sou médico.

Mas não vejo muitas coisas mais falta de #PAS que trabalhar como médico de emergência, ainda mais no SUS.

Parecido com isso eu acho que é cirurgião, cirurgião de SUS ainda por cima.

Olha, se eu fosse médico, iria procurar uma daquelas especialidades quase que exclusivamente clínicas (sei lá, endocrino, dermato, reumato, neurologia clínica). Atender uns coroas, montar uma sala aconchegante, se fosse aqui no Hell de janeiro iria botar um pôster do casal 20 do Fluminense na parede (coroas endinheirados no Hell são invariavelmente tricolores), e procurar extrair o melhor que a profissão tem a oferecer.

Minha mulher quer fazer medicina (teria que passar numa pública pra isso, tá estudando), na idade e situação dela acho que ela tem opções de vida mais razoáveis, mas enfim.
De todo modo, eu sempre falo pra ela fugir de especialidades cirúrgicas/hospitalares/emergência e ir pra uma especialidade clínica bacana mais focada em pacientes idosos.

@Bastter

Exatamente. Médico raiz / Médico nutella.

Emergência separa os Homens dos meninos. Trocar receita de captopril em consultório qualquer um faz...

No sus do RIJOTA então meu amigo, é rambo style. 

 

Meu respeito, sério.

Meu respeito ao @Bastter por estar no PS no RJ, deve ser uma experiência do tipo Umbral/purgatório mesmo... Eu não consegui depois de uns dois anos, minha saúde mental ficou acabada. Hoje como especialista a vida melhorou.
Acho que o colega faz bem em diversificar os ambientes de trabalho e tentar melhorar sua reação ao trabalho. Compartilho da opinião de todos, acho que você pode ser especializar na cirurgia para poder ter mais ofertas, variar o hospital e ver até onde você aguenta. Vão ter problemas no privado também por burocracia, falta de férias, 13°... Lembrar que você faz diferença para os residentes e que não há só coisas ruins no serviço. @laotzu tava com uma dúvida parecida esses dias.

@Dr.Student. tenho vinculos sus e privado e o que eu posso te dizer é que todos os trabalhos tem seus prós e contras. Eu tenho trabalhos que me dão mais satisfação pessoal, e outros que são mais pra pagar as contas. Financeiramente acho importante diversificarmos em vinculos clt/estatutario e cnpj, pq o pj paga mais mas é mais imprevisível, enquanto o clt paga menos mas tem um pouco mais de segurança. Com o tempo, pretendo ficar nos trabalhos em que tenho mais satisfaçao pessoal, independente do ganho. Não tem melhor nem pior, você tem que buscar o que funciona melhor pra vc.

@raul01234567


FRASE 01: “Quanto menor o hospital mais parecido com SUS fica no sentido do gerente amigo do diretor ou do fulano parente do dono.”

Me identifiquei integralmente com essa frase. Depois de uns 4 anos produzindo com força total, dei uma descompensada... Devo ter tratado mal alguém da cúpula (sem perceber). O chefe me marcou e tive que sair do emprego dentro de uma escala de tempo de uns 2 anos. Fui sendo encurralado. Cortavam progressivamente minha autonomia de conduta: ou iria sofrer um processo ético ou ser processado mais seriamente. Saiu muita gente do hospital naquele tempo. Eu sai pelas portas dos fundos: já não aguentava mais.

FRASE 02: “já vi várias vezes assumir plantão pessoa vomitando com diarreia pq não conseguiu ninguém para cobrir. Não tem essa diretor assume se não arranjou. Se vc não conseguiu e furou escala está demitido.” Já fui trabalhar completamente doente e não conseguir render. Já tive doença que poderia progredir e gerar sequela mas NINGUÉM se habilitava em ajudar e meu chefe marcando... sabia até quando eu entrava no banheiro... Hoje em dia, se eu ficar doente, a probabilidade de eu tomar uma paulada de remédio e NINGUÉM nem perceber que estou doente é muito alta. Foi nesse instante que percebi que eu era completamente (e facilmente) descartável.... que o trabalho no hospital eu amava não estava sentindo o mesmo por mim... queria meu sangue e suor e só.


Ajude os outros. Goste dos outros. Faça parcerias e amizades. Goste dos seu locais (tenha vários). Perdoe as burrices e aresias alheias... Compartilhe conhecimento e leve uma palavra de acalento emocional sempre que puder (para seus pacientes e colegas de trabalho). Mas entenda uma das frases mais difíceis e verdadeiras aqui do site:
“SEU TIME É VOCÊ.”

@Dr.Student. Pode servir pra você...
AGRADECIMENTO AO SITE - #PAS - Bastter.com


MEU ESQUEMA ATUAL:
Tenho várias UTIs diferentes com baixa carga horária em cada. Boa reserva de emergência. Se lascar uma, abre carga horária livre de eu arrumar outra.

Sair de um trabalho nem doi mais...
Mensagem de Desemprego no Grupo do Zap - Assuntos Gerais - Bastter.com


Ando me recuperando de “estresse pós-traumático” pela guerra do COVID. Percebo que não está sendo fácil. Mas tudo tem jeito.

Também compartilho da idéia do bastter: “Você não precisa fazer a mesma coisa pra sempre. A gente vai modificando de acordo com necessidade financeira, fase da vida e necessidade de #pas.... ou como vai dando e as coisas vão acontecendo...

@Dr.Student. vai tentando reduzir carga horária em um trabalho e ir aumentando outro. Acho que teu esquema não é ruim atualmente. Fazer uma grande paulada do tipo: sair de um emprego (de grande horário) para procurar outra coisa requer mais Reserva de Emergência e é mais arriscado.

As vezes você está estressado como eu e precisa somente de umas férias...



Boa sorte!

Valeu Pessoal !!!! 

Li todas as considerações e foram válidas!!!

Eu já trabalho tb em hospitais privados e consultório particular. Então não será difícil me dedicar mais a medicina privada uma vez que não terei que procurar onde trabalhar. (Sim, eu trabalho muito! E não sou dedicação exclusiva na Universidade.) 

Eu realmente acredito que, de tempos em tempos, precisamos nos colocar sob condições desafiadoras e algo desconfortáveis !!! Isso faz surgir ideias e soluções de onde nem imaginávamos. Claro, sempre de forma minimamente responsável e sem colocar terceiros em risco !!! 

Infelizmente a medicina pública, principalmente a de alta complexidade, está, há muito, aquém do que nós médicos poderíamos oferecer. E como o @Bastter mencionou, as vezes morrem pessoas que não precisavam morrer... Eu definitivamente não lido bem com isso nem com as ingerências e morosidade de quem fica sentado atrás de uma mesa sem se expor ao que realmente acontece dentro do hospital. Alguns chegam a se vangloriar que, após tornarem-se chefes de equipe ou gestores, nunca mais precisaram atender pacientes. Está faltando um pouco de "skin in the game" !!!!

Desculpem o desabafo!!!

Vamos para frente !!!

Abraço a todos. 

Trabalhar como especialista não emergencista em operadora verticalizada é pior que no SUS na minha opinião. Explico o motivo: o plano é ruim, o paciente paga um valor baixo e exige um tratamento que o plano nunca vai oferecer, cobrando e colocando a culpa no médico. No SUS, os pacientes sabem das dificuldades e tem maior tolerancia quando eles percebem que voce esta querendo genuinamente ajuda-los, independente das condições do seu hospital. 

Uma coisa importante é diversificar as fontes pagadoras e os locais de trabalho. Isso é importante também para não ficar emocionalmente fragilizado ou em burnout por causa de um determinado vinculo. Como qualquer medico, eu tambem trabalho em 1 local que é mais pela questão financeira do que pelo prazer da medicina, mas eu entendo que isto faz parte da vida profissional e tenho que lidar com isto, só não faço mais horas por semana do que eu suportaria sem estressar e descontar em quem não tem nada a ver com isso.

Rapaz, um vínculo público já é de pensar, imagine dois. 

Olá @Dr.Student ! Eu acho que você têm a faca e o queijo na mão, porém acredito que você ainda não enxergou isso. Entendo perfeitamente sua angústia e a cobrança que você têm perante ao SUS, porém você tem o DOM de ensinar e não quer abandonar as cirurgias de casos complexos e o ensino dos residentes. MInha dica que eu dou é: faça isso gradualmente, abra seu consultório particular, por você ser professor de faculdade/residência você já tem uma credibilidade perante aos outros médicos, alunos e pacientes, invista no marketing pessoal e profissional, traga informações relevantes aos seus pacientes nas redes sociais, invista em fidelização de pacientes e principalmente traga uma experiência única aos seus pacientes e médicos ao seu redor. No começo consultório particular é complicado, fica vazio, mas com o tempo, investindo em networking profissional, com pacientes, as coisas vão fluindo devagar, com calma e sem pressa. É como eu aprendi aqui no site, quando você compra ações ruins no passado, não se desfazer delas tudo de uma vez, vai com calma, devagar. Só depende de você, invista cada vez mais na sua qualificação e foque no seu consultório no longo prazo. Hoje depois de 4 anos como médico urologista consegui largar os planos de saúde, só atendo consultas e cirurgias particulares e ainda tenho um vínculo no SUS, pois assim como você, gosto de operar casos complexos Hoje tenho tempo e cuido bem melhor da minha saúde ao ponto de começar a encarar o Triatlon...hehehehehehehe. Resumindo: invista em você, na sua saúde e na sua família sem ter a ganância de que tudo vai mudar de uma hora para outra.

Me identifiquei muito com as observações do pessoal. No meu caso, a minha especialidade é radiologia e atuo a, relativamente, pouco tempo (11 anos de formado). Minha experiência pessoal sobres os contras:

SUS: Pela minha especialidade sofro muito com a falta de material/tecnologia disponível para prestar serviços de qualidade à população. Resultado, larguei um serviço do qual era concursado. Não me arrependo.

Privado: @raul01234567 e @laotzu resumiram perfeitamente, todos nós já trabalhamos seriamente doentes por não conseguir substituição ou fomos pressionados a dar resultados sem as condições ideais.

Minha opção: sigo no privado, mas mudei minha visão da vida (a medicina pode ser uma bolha), não quero mais carro alemão ou coisas assim pra mostrar pra pessoas que eu nem conheço e nem tão ligando pra mim (no fim das contas é só ego). Encontrei a Bastter.com que se alinhou com o que eu já pensava, me ajudou a organizar meu pensamento. Ganho menos que antes, mas vivo melhor e com mais tempo pra meus filhos, minha família. Só preciso me dedicar ao esporte, sou magro, mas to preguiçoso. 

as vezes a resposta não é SUS x Privado, as vezes é viver melhor com menos grana x trabalhar mais do que o necessário. Cada vez mais me convenço que dinheiro eh lixo. Não sei se é seu caso, mas tem servido pra mim. Espero que te ajude.