Para o povo do filme:
Se você vive em sociedade você é dependente dos outros. Reconhecer essa dependência é importante pois evita que você faça pedidos de ajuda de forma agressiva ou com uma sensação de que os outros são obrigados a atender às SUAS necessidades pessoais. Aprender a lidar com a dependência e a pedir ajuda é essencial para o bem estar psicológico e sONcial. No final tem uma lista que facilita a entender qual ajuda você precisa e como pedir ajuda de forma mais efetiva.
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A autossuficiência é uma ilusão sONcial mantida por sistemas - dinheiro, hierarquia, acordos sONciais, entre outros - e dá uma falsa sensação de independência. Você só consegue ler esse texto porque milhares de pessoas trabalham ativamente. Várias atividades cotidianas como tomar água, ir ao banheiro, ter comida em casa são completamente dependentes de outras pessoas.
De tempos em tempos, algum desses sistemas quebra e a nossa dependência sONcial fica mais explícita, como é a situação da pandemia de covid, e a crise de abastecimento causada pela greve dos caminhoneiros. Quase todas as pessoas foram afetadas fisicamente e psicologicamente pela ruptura desses eventos e precisaram de mais ou menos ajuda para se adaptar à nova estrutura.
A ilusão de autossuficiência não é perigosa por si só, em certo grau é benéfica pois nos permite viver mais tranquilos e focar em coisas que são mais urgentes em nossas vidas.
Entretanto, qualquer um que viva em uma sociedade organizada é dependente da ajuda de outras pessoas. Não há escapatória. Toda e qualquer ação que você execute é direta ou indiretamente dependente de outras pessoas. Você precisa da ajuda das outras pessoas para viver.
Como dito anteriormente, existem sistemas sONciais que são utilizados para facilitar que outras pessoas cooperem com nossos pedidos de ajuda, mas, infelizmente, acabam criando uma falsa sensação de poder ou direito sobre a ação dos outros, ou sobre o mundo.
Ao invés de pedir ajuda, exigimos que o outro faça as nossas vontades. Por exemplo:
(Atenção: Eu não estou questionando a justiça ou legitimidade dessas ações, só estou tentando trazer atenção ao fato de que todas essas coisas são pedidos de ajuda velados)
1.Dinheiro: “Acredita que eu paguei para tal coisa acontecer e não aconteceu como eu queria?”, “Eu pago o condomínio e a assembleia decidiu algo que não era da minha vontade”, “O motorista do uber não quis correr até o aeroporto mesmo pagando, fiz uma reclamação”, “Não quiseram trocar X do prato no restaurante”.
2.Hierarquia: “Minha diarista não limpou as coisas como eu queria, reclamei com ela e ela não gostou, pode isso?”, "Acredita que o porteiro sempre pede a minha identificação mesmo eu indo lá todos os dias?”, “Chamei meus funcionários para um esporro coletivo pq não atingiram a meta”.
3.Acordos sONciais: “A minha esposa não faz as coisas que ela deveria fazer”, “Briguei com meu marido pq ele lavou a louça errado”, “meu pai/minha mãe não faz o que eu quero que eles façam”, “O meu filho não me obedeceu quando eu mandei ele limpar o quarto”, “Me cortaram no trânsito, fui lá correndo atrás dele buzinando para brigar com o motorista”, “Eu pago meus impostos posso gritar o que eu quiser no meio da rua”.
Todas essas frases, e tantas outras, escondem um pedido de ajuda sobre necessidades pessoais das quais você é dependente dos outros. Usar esse tipo de comunicação funciona porque os sistemas que comentei antes são desenhados para que as pessoas cooperem com você, mesmo que você se comporte de uma forma desagradável ou agressiva.
No longo prazo é prejudicial e pode ser causa de afastamento sONcial, dificuldade na resolução de problemas, ou coisas mais sérias como crises de agressividade, ansiedade e depressão entre outros.
Ao perceber que estamos pedindo ajuda, ao invés de mandar para resolver nossos problemas, podemos agir melhor em relação às pessoas que estão tentando nos ajudar, aproximar as relações, aumentar a sensação de pertencimento, segurança e apoio. Fatores bem conhecidos de proteção psicológica e sONcial.
Numa situação em que nenhuma ajuda é possível, ser agressivo dificilmente te fará bem e possivelmente só vai afastar as pessoas que poderiam passar pela sua dificuldade contigo.
Como pedir ajuda de uma forma mais efetiva:
1.Reconheça a SUA necessidade/dificuldade
A sua necessidade é sua. Telepatia não é uma habilidade humana, se você não tem clareza do que quer vai ser muito difícil para o outro agir de acordo.
Exemplos de necessidade: Fome, carinho, sexo, companhia, ter a casa limpa, tempo para cuidar de si, ajuda com um trabalho, atenção, escuta, resolução de problemas, que hajam com paciência, desconto, agilidade em algo, entre outros.
Quanto mais específico você for naquilo que você precisa, maior a chance de ser atendido.
2.Faça uma lista das pessoas que podem te ajudar, e que tenham disponibilidade para tal.
Ao reconhecer que você está pedindo ajuda, é importante perceber que o outro está disponibilizando o tempo dele para ajudá-lo. Nem sempre as pessoas sabem como fazer o que você precisa, ou tem a disponibilidade.
Ninguém vai no encanador pedindo ajuda para pintar a parede.
3.Implique-se na SUA necessidade
A necessidade é sua e de mais ninguém. Não existe necessidade universal. VOCÊ quer alguma coisa. É comum que usem o coletivo para esconder uma necessidade individual. Talvez seja até verdade, mas isso dificulta muito a comunicação, levando a confusões e discussões desnecessárias.
Em relacionamentos amorosos é super comum a exigência de telepatia e o uso do acordo sONcial para esconder, e é uma das maiores causas de discussões e brigas que conheço.
Use o “EU quero”, “EU gostaria”, “EU preciso”, “EU estou com dificuldades em X”.
Evite o “Todo mundo faz”, “Maridos/esposas deveriam fazem”, “Os funcionários têm que”.
Também evite o “você TEM/DEVERIA/PRECISA” A necessidade é sua, os outros não têm, devem, precisam ou são obrigados a fazer nada.
4.Esteja aberto a negociar com o outro sobre como ele pode te ajudar e tenha respeito pelas limitações do outro.
As pessoas tem seu próprio jeito de viver no mundo e fazer as coisas, se você está pedindo ajuda é importante permitir ao outro que o faça de uma forma que também seja conveniente para ele.
Ouça e negocie com o outro uma ajuda que seja boa para ele.
Por exemplo, um pedido de carona pode ser resolvido chamando um uber. Um pedido de companhia nem sempre vai acontecer na hora, talvez possa acontecer mais tarde. O/a marido/esposa pode estar cansado de um dia de trabalho e não te dar atenção, mas vocês podem negociar um dia calmo no futuro próximo.
5.Se você está pedindo ajuda, você pode ser negado ou apenas atendido parcialmente.
Muitas vezes nossos pedidos de ajuda serão negados, esteja pronto para agradecer mesmo que a pessoa não possa te ajudar, ou não possa atender você da forma que você julga ideal.
Por isso é importante ter uma lista de pessoas, estar sozinho e sem alternativas é uma grande causa da agressividade, como aconteceu na greve dos caminhoneiros.
Agir com agressividade porque foi negado provavelmente vai afastar as pessoas e dificultar que você seja ajudado em uma situação futura.
Um pedido de ajuda tem mais ou menos esta forma:
“Eu estou com dificuldade X, e gostaria que você me ajudasse de forma Y, pq me permitiria Z”
“Oi, marido. Eu estou atolada com as tarefas domésticas e não estou conseguindo cuidar de mim direito, estou precisando dividir um pouco essa carga para poder fazer algumas coisas para mim.”
“Cara, amanhã de manhã eu tenho uma coisa super chata para fazer (exame, fila de cartório, banco), você pode ir comigo? Ter alguém lá comigo seria ótimo e a gente pode aproveitar e botar o papo em dia”
“Amor, amanhã eu to super atolada/o de trabalho, será que você pode cuidar das coisas XYZ pq não vai dar, se deixar acumular para o fim de semana a gente não vai conseguir curtir junto.”
“Esse negócio de organizar viagem/festa/jantar me deixa muito ansioso e controlador, to ficando estressado com isso, será que você pode assumir coisas XYZ”.
“Oi, o prato do meu filho veio errado, ele tem dificuldade para comer e está com muita fome, tem alguma coisa rápida que vocês possam fazer enquanto fazem o outro prato?”
Abraços,
Anxty