Muitas vezes, durante a vida, principalmente quando surge algum objetivo primordial – aquele pelo qual nos dedicamos intensamente para alcançar – o sentimento de insuficiência se torna constante.
Durante a adolescência, o maior objetivo era passar no vestibular. Para me sentir suficiente, eu precisava conquistar uma vaga. Todo o resto parecia não ter valor: o trabalho conquistado cedo, com um salário muito bom para a idade, os dias em família, os momentos felizes com os amigos. Até alcançar esse objetivo, nada parecia importar. Assim se passaram alguns anos, e o sentimento de plenitude só surgiu com a aprovação.
Logo depois, o objetivo primordial passou a ser concluir a graduação. Durante os seis anos que se seguiram, já nos primeiros meses, a rotina começou a perder o sentido, pois havia um propósito muito claro, e tudo só pareceria completo no dia da formatura. Antes mesmo de concluir esse objetivo, outro já surgia para atormentar: a necessidade de obter uma especialização na área. Até alcançar essa conquista, todo o resto parecia sem sentido. O primeiro ano profissional, os momentos com a família, o relacionamento saudável que estava sendo construído, o desenvolvimento pessoal que despontava, o reconhecimento profissional que foi adquirido – nada era suficiente, pois o objetivo ainda não havia sido concretizado.
Quantos anos foram deixados em
stand by e não foram aproveitados da forma como deveriam, apenas porque havia um dia específico: o dia em que meu nome apareceria em uma lista, o dia em que eu receberia um diploma, o dia em que conquistaria a aprovação na especialização – e, então, tudo se conectaria e me faria sentir suficiente. O problema é que esses dias duram pouco, enquanto todo o resto do percurso dura uma vida inteira. O foco no objetivo final acaba nos adoecendo, impedindo-nos de celebrar as pequenas vitórias do dia a dia e deixando o tempo voar sem que percebamos.
Essa busca incessante por um único dia nos transforma em alguém que nem conseguimos reconhecer, pois, durante todo o período de construção, estivemos focados apenas nesse momento específico.
E, nessa lógica de viver para um único dia, os anos passam. Os momentos em família não voltam, os amigos não voltam, o relacionamento não volta e, por fim, o nosso tempo não volta.
Sempre que surgir um objetivo primordial, aproveite o caminho até chegar lá. E, quando alcançar, aproveite o momento.
Hoje, tive uma pequena conquista. Mesmo sem conquistar a vaga na especialização, me senti muito feliz. Sei que meu objetivo profissional é conquistar essa vaga, mas também consegui entender que há uma vida inteira além desse foco. Quantas pequenas conquistas deixei de comemorar porque não me sentia capaz, porque o sentimento de insuficiência me impedia?
Decidi compartilhar esse pensamento porque sei que muitos enfrentam esse dilema. Foi ao ver uma reflexão como essa que me dei conta do tempo de vida que estava deixando escapar.
A vida é um sopro, e não podemos vivê-la à espera de um único dia.