Ciência ou Bullshit: Psicoterapia Assistida por Equinos
comentada em 02/03/2025 12:23

Nao tenho a minima ideia

@Paulo ajuda a gente

Eu tenho algumas experiências excelentes com cavalos, mas nenhuma para dar opinião se serve para terapia. Acho que se você tem o dinheiro e ama cavalos, vale a pena a tentativa.

@BrandonLee, incrivelmente, essa é uma pergunta difícil de responder. Senta que lá vem a história

A resposta TL;DR é:

Alegar a cura de algo é extremamente complicado, e se você quer alegar isso, precisa de evidências muito robustas, que não existem para esse modelo de intervenção.

Para o crescimento emocional e bem-estar mental, existem infinitos caminhos possíveis, e eu não tenho nenhuma razão para acreditar que esse caminho é melhor do que outros caminhos possíveis, ou que ele tenha algum tipo de privilégio em comparação com outras intervenções.

- Não há evidências fortes (de alto grau de confiabilidade) para o tratamento de casos complexos.
- Não faz mal, exceto pelos riscos naturais de qualquer coisa, inclusive os riscos de andar a cavalo.
- Pode fazer bem e ser ponderado como uma intervenção coadjuvante.
- Não espere psico-magia.
- Avalie a viabilidade real dessa prática no contexto da sua vida, juntamente com outras possibilidades,
- SEM ESPERAR ALGO PSICO-MÁGICO.

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A resposta longa:

Existem vários tipos e critérios de evidências (verdades/conhecimento) nas várias ciências que existem.

Hoje em dia, estamos em onda estatística, ou seja, a eficácia (se algo produz o resultado desejado) é avaliada em um grupo de pessoas.

Grosso modo, pega-se um grupo com número X de pessoas, divide-se em um grupo de controle (que não recebe tratamento nenhum) e um grupo que recebe a intervenção.

Depois, avaliam se houve diferenças entre o grupo controle e o grupo que recebeu a intervenção.

Alguns estudos mostram que pessoas têm melhoras de algumas características, padrões e qualidade de vida.

Então, mesmo que esses estudos mostrem que existe um efeito positivo da terapia equina, tem que se avaliar se:

- Esse efeito é maior ou melhor que qualquer tipo de intervenção positiva.
- Se esse efeito é especificamente da terapia equina, ou se só o contato com o cavalo já melhora (eu achei pelo menos um artigo discutindo isso).
- Se o efeito é de contato com animais que você possa interagir de forma complexa ou especificamente do cavalo, e, especialmente, do cavalo em um contexto de terapia equina.
- Se a melhora vem simplesmente da super organização e contato positivo que existem nesse tipo de atividade.
- Se a melhora vem da organização do contato parental positivo e do momento com apoio e com menos estresse durante a semana durante a terapia (eu vi uns 4 artigos discutindo isso).
...

E por aí vai.

O que eu sei com certeza é o seguinte:

Qualquer coisa que você faça que te ajude a ter:

- Mais abertura.
- Desenvolvimento de habilidades.
- Contato positivo com o seu ambiente.
- Contato positivo com pessoas do seu círculo primário.
- Contato positivo com outras pessoas.
- Um senso de cuidado positivo com algo além de você.
- Te colocar em contato com experiências minimamente positivas...

vai te fazer bem.

Em muitos posts da bastter.com, enquanto os usuários recomendam que a pessoa busque um psicólogo, eu recomendo que a pessoa busque uma pessoa de confiança com quem ela possa conversar de forma organizada sobre o que ela postou. Pode ser: pai, mãe, padre, pastor, líder comunitário, um mentor, uma pessoa mais velha que ela admire e, também, pode ser um psicólogo se assim ela quiser e achar que precisa de um acompanhamento mais técnico.

Porque só de estar em contato com boas pessoas (atenção à palavra "boas"), já é esperado algum tipo de melhora. Só de saber que há apoio, as pessoas melhoram. Pessoas precisam de bons espaços para viver bem.

Eu sou muito honesto com meus pacientes e vivo dizendo que, apesar de saber que a psicologia funciona, é quase impossível dizer se foi o meu atendimento especificamente que melhorou a vida deles. Eu gosto de achar que sim, e a ciência, de forma geral, mostra que sim. Mas nunca tem como saber; o que a gente sabe é que, no geral da atuação dos bons profissionais de saúde, as coisas tendem a melhorar, mas dizer que aquele ou esse profissional fez a coisa que melhorou é muito, mas muito difícil.

O @Stoic, que é médico, fez esse texto bastante interessante falando sobre isso.

O caminho invisível não existe - #PAS - Bastter.com

Portanto, eu não acho que esse modelo de intervenção tem o nível de evidência necessário para as afirmações que você fez no post.

Pode fazer bem para alguns (mas existem zilhões de coisas que podem fazer bem), pode ser inócuo para outros, pode fazer mal para alguns (porque sempre existe essa possibilidade).

Eu falei sobre a iatrogenia neste post:

Teste de DNA: o horóscopo dos tempos atuais? - Saúde & Esportes - Bastter.com

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"Mas, Paulo, se pode fazer bem, qual o problema?"

O mercado de saúde no Brasil tem se tornado uma coisa meio maluca, com cada vez mais pessoas promovendo este ou aquele tratamento como a única saída para algo, ou efeitos psico-mágicos de intervenções.

Apesar do mundo ser bem abundante hoje em dia, quando falamos de problemas complexos, como a miríade de adoecimentos que você citou, precisamos pensar em uma lógica de escassez (ou pelo menos entender que não há tempo nem dinheiro para tudo).

Então, mesmo que exista algum tipo de eficácia, é importante avaliar a eficiência e comparar a eficiência desse tipo de intervenção com outras intervenções para os objetivos propostos.

Eficácia é conseguir o objetivo; eficiência é conseguir o objetivo com menos recursos, mais tempo, e precisão.

No que eu conheço da literatura sobre o assunto, é uma coisa que pode ajudar, mas não é a intervenção primária para nenhum dos tipos de adoecimento que você citou, e, de forma geral, é usada como tratamento coadjuvante.

Ou seja, vamos aceitar por um instante que ela é eficaz - sem julgamentos sobre essa afirmação - eu conheço dezenas de outros tratamentos que viriam antes desse.

Eu conheço dezenas de formas mais eficientes de atacar os adoecimentos/transtornos que você descreveu, sem precisar do tipo de organização complexa, custo, estrutura, etc. que esse tipo de tratamento exige.

Induzir pessoas a buscar intervenções que não entregam o que prometem, ou que poderia ser obtido de outras formas sem uma avaliação do caso faz mal. Vender bala de prata em saúde faz mal.

Gastar o tempo e os recursos das pessoas prometendo psico-magia e curas faz mal.

Se existe uma pessoa em sofrimento, ela não precisa de uma intervenção mágica, ela precisa passar por um profissional que avalie a condição dela, avalie os contextos dela, e dentro do melhor conhecimento possível, faça propostas que sejam sensíveis tanto as necessidades quanto as possibilidades da pessoa de executar e receber a intervenção.

O profissional de saúde clínico é a ponte entre o conhecimento e a vida das pessoas. Se o profissional recomendar esse tipo de intervenção para o caso, que foi avaliado, e por motivos específicos da pessoas decidiu-se por esse caminho, pode ser um caminho de bem estar, em que deve-se avaliar se os efeitos esperados estão acontecendo no decorrer do tratamento, e não como uma promessa mágica de resolução de todos os males do mundo.

A sua primeira afirmação foi:

"A Psicoterapia Assistida por Equinos é uma forma de terapia que envolve interações entre clientes e cavalos para promover o crescimento emocional, a cura e o bem-estar mental."

A minha conclusão é:

Alegar a cura de algo é extremamente complicado, e se você quer alegar isso, precisa de evidências muito robustas que não existem para esse modelo de intervenção.

Para o crescimento emocional e bem-estar mental, existem infinitos caminhos possíveis, e eu não tenho nenhuma razão para acreditar que esse caminho é melhor do que outros caminhos possíveis, ou que ele tenha algum tipo de privilégio em comparação com outras intervenções.

Na verdade, pelos custos e necessidades específicas, acho que ele é um caminho coadjuvante possível para um número bem reduzido de pessoas, pelo menos em ambientes urbanos. Em um ambiente rural, talvez até pudesse ser uma prática comum da cidade, como é correr e academia para as pessoas urbanas.

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Eu estou pensando nesse bode há algumas semanas. É provável que seu post seja o que faltava para eu organizar o que eu estava pensando para fazê-lo. Obrigado.

@Paulo obrigado
suas respostas sao espetaculares

@Bastter Obrigado.

@Paulo, excelente resposta, muito obrigado!
As colocações que usei no post foram tiradas de sites sobre o assunto, mas realmente a afirmação de cura de algo tão complicado como um transtorno mental é extremamente complicado.
Para contextualizar, a ideia do post veio de um vídeo sobre o assunto que achei bem  BUCHETTI. Uma das alegações do vídeo é de que a energia de um cavalo (500hz) pode transmitir bem-estar para o ser humano.

@BrandonLee se assim fosse, não era mais fácil expor a pessoa a frequências de 500hz?

É desse tipo de maluquice que começa a aparecer ideia de cura quântica.

O que fica descreve é BUCHETTI pesado.

A verdade é isso aqui: 

Qualquer coisa que você faça que te ajude a ter:

- Mais abertura.
- Desenvolvimento de habilidades.
- Contato positivo com o seu ambiente.
- Contato positivo com pessoas do seu círculo primário.
- Contato positivo com outras pessoas.
- Um senso de cuidado positivo com algo além de você.
- Te colocar em contato com experiências minimamente positivas...

vai te fazer bem.

Mas isso não basta, as pessoas querem o caminho do escolhido, do alecrim dourado, das pessoas especiais. Aí caem nesse BUCHETTI todo.