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Tem saído uma enxurrada de matérias de jornal, publicações de influencers e tudo mais sobre os milagres da creatina, não apenas ela, mas sempre tem uma intervenção mágica e maravilhosa da moda.
Me preocupa que, cada vez mais, essas informações sobre uma intervenção (mudança no curso das coisas) tem sido vendidas como "ciência". Cada vez mais tem se falado dessas coisas como se a ciência tivesse determinado o uso delas.
A verdade é:
Existe um abismo entre a ciência e a prática dela no mundo. Existem várias evidência sobre os benefícios da creatina em contextos específicos, em especial para atletas de alto rendimento em esportes que demandam massa muscular, idosos, lesões graves e afins.
Nos mesmo papers, na maioria dos casos ela é intervenção adjunta. Ela mostra uma melhora de resultados quando outras intervenções são feitas.
Isso é a ciência.
Aplicar ciências da saúde, ou seja, Práticas Baseadas em Evidências [PBE] em saúde é outra coisa. Exercer saúde em um contexto de ciências é entender o que e como as informações fazem sentido dentro do contexto de vida dos pacientes.
Considerando outras evidências que temos:
Estamos em um país com ~50% do adultos e ~84% dos jovens sedentários.
~67% da população brasileira com sintomas de estresse.
Com o maior número de afastamento por adoecimento mental no trabalho em qualquer momento.
Aumento geral de transtornos mentais.
Epidemia de remédios para dormir.
Entre 30% e 40% fazem uso de bebidas alcóolicas (que age diretamente contra os efeitos da creatina)
Surgimento de transtornos relacionados a "obsessões" em saúde como vigorexia e ortorexia. Que tem tornado ainda mais comum queixas relacionadas overtraining, para os que treinam.
Que estamos em um processo de medicalização da vida.
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Que boa parte da população, como sempre é, se beneficiaria de mudanças básicas de vida com impacto muito positivo como:
Alimentação, sono, iniciar qualquer atividade física regular, qualidade de vida e manejo de estresse, diminuição do uso e álcool e drogas, melhora das relações interpessoais etc...
Que mesmo os que praticam exercícios, não fazem em uma intensidade moderada/alta. Até poderia ter um efeito imediato positivo do uso para quem está começando exercícios, mas com efeito negligente no longo prazo (pela falta de intensidade na atividade), ou seja, não justifica o uso contínuo.
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Baseado em tudo isso, e na minha expertise...
As grandessíssima maioria das pessoas teria os benefícios de um jeito ou de outro devido aos efeitos das intervenções primarias, e não da intervenção coadjuvante, pq a grande maioria das pessoas, pelo dado geral da população não faz o mínimo para que o efeito seja o esperado pelas pesquisas, pelo contrário, tem hábitos que agem no sentido contrário das intervenções.
O uso de suplementação, devido a medicalização, tem tido seu papel invertido de coadjuvante para intervenção primária. Sendo que ela não tem efeitos como intervenção primária.
Não apenas isso, o uso da suplementação tem tido efeito iatrogênico pq as pessoas usam a suplementação para "pagar a conta" dos hábitos ruins, ou seja, elas se "convencem" ou "acreditam" que pq tomam suplementação estão fazendo o que podem, e não dão atenção a intervenções primárias como: alimentação, sono, redução de estresse, atividades físicas com intensidade adequada e redução do uso de álcool e drogas.
Por isso, o uso dessas suplementações não só não tem efeito, como tem efeito negativo e prejudicial para as pessoas.
Só o fato de ter uma discussão comparando os efeitos de atividades físicas com o de suplementação alimentar já mostra o tamanho da maluquice, e que essa é uma discussão que permeou para um caminho que não faz o menor sentido.