Pessoal, olá.
Não sei se é o local mais adequado, mas como aqui se fala, e com bastante qualidade, de tudo, resolvi tentar.
Sou médico, oncologista, com cerca de dez anos de especialização concluída. Assim que terminei minha especialização, fui trabalhar no interior do estado do Rio de Janeiro, com SUS. Não sou funcionário público, trabalho em 02 empresas privadas que prestam serviço pelo SUS. E tudo funciona direito: não faltam medicações, tenho suporte administrativo legal, um bom ambiente trabalho, ganho relativamente bem... Só tenho uma quantidade de trabalho muito grande, mas isto é tema para um outro tópico...
Acho que faço um bom trabalho. Sou bem visto e elogiado pelos pacientes, tenho uma agenda sempre cheia, e sou também bem visto pelos gestores. Mas sempre tem um "mas"... A questão é que, quando se trabalha no Sus, você faz uma medicina defasada. E, em oncologia, isso é ainda mais discrepante. E isso me incomoda, duplamente: por mim e pelos pacientes. Em relação aos pacientes, muitas vezes sinto falta de fazer medicações mais modernas, que possam alcançar melhores desfechos e menor toxicidade. Em muitas situações tenho bons resultados, por vezes surpreendentes até. Noutras, sinto que poderia estar fazendo mais, e por não ter acesso a determinadas terapias, não tenho como fazer. Procuro sempre repetir para mim mesmo, sobre isso, que é melhor ter algum tratamento do que não ter tratamento nenhum. Mas fica a frustração. Em relação a mim, muitas vezes me sinto um médico ultrapassado, que só prescreve "remédio velho". Tenho estudado, busco me atualizar, ir a congressos, mas uma coisa é ter coonhecimento teórico de uma medicação. Outra é o connhecimento prático. Às vezes acho que é tudo Lego, de querer dizer: "sabe aquela medicação nova? Tenho dois pacientes utilizando e estão indo muito bem."
Tenho pouco contato com os médicos que fizeram residência comigo e ficaram na capital. Geralmente nos congressos, e só. E sempre pergunto como estão as coisas, mas sempre reclamam de tudo. De forma geral, estão trabalhando com um dos muitos assistentes de algum oncologista mais destacado, ou em clínicas/hospitais de ponta mas sempre reclamando da remuneração ou inseguros acerca da continuidade no emprego em razão de metas de atendimento e/ou volume de pacientes novos. E isso falando de profissionais com 10 anos de experiência após especialização, o que no caso da oncologia corresponde a 5 anos de formação após a graduação em medicina. E a oncologia é uma especialidade que demanda uma estrutura dispendiosa... não é viável simplesmente abrir um consultório e pronto. É preciso estar inserido em uma estrutura hospitalar ou clínica de quimioterapia.
Enfim, fico muito na dúvida, e por vezes com vontade de mudar, de tentar me colocar na capital, em um bom serviço privado. Não sei também se eu conseguiria, tenho uma boa formação, mas obviamente estaria em grande desvantagem quando me perguntassem o que andei fazendo nos últimos 10 anos... Outras vezes, penso que deveria parar de pensar nisso, agradecer pelos empregos, pelo salário que tenho, por estar bem nos meus empregos, por ter saúde (física pelo menos), por ter uma famíia, por não ter dívidas e estar aos poucos contruíndo meu patrimônio - que ainda está muito aquém do que eu gostaria.
Estou fazendo terapia há cerca de 01 mês. Ainda não vi resultado. Sei que está muito recente.
Enfim, não sei se tem algum oncologista por aqui, de repente até do RJ, que esteja disposto a compartilhar sua percepção... Ou pessoas de outras áreas que, guardadas as devidas proporções, passaram por situações semelhantes e possam compartilhar sua vivência, Mas, como a comunidade é sempre muito proativa, e estou acordado desde às 02h da madrugada, resolvi partilhar essa minha angústia.
Abraços!