Era uma resposta para o posto do @kiwiCria, mas eu acabei falando tanta coisa que achei melhor abrir um post novo:
Post original:
O ego e a paz - #PAS - Bastter.com"-Lembra Kiwi, como você está se esforçando pra melhorar sua autoestima? Com todo aquele esforço pra se autoafirmar e aceitar a si mesmo você vai deixar isso passar? Você é o cliente pagando por um serviço e deixará ser ignorado?"
Essa frase é uma boa alegoria para a treta toda.
É uma pergunta bastante ruim, do tipo: Qual o cheiro da cor? Só o Charlito ou o dogôncio responderiam uma pergunta dessas.
A questão da AUTOestima conceitualmente é bastante complexa e, felizmente, não precisa dela para responder essa questão.
Auto é: A si próprio.
Uma vez que a sua "autoestima" está sendo determinada pelo motorista do ônibus, acabou o auto. Virou "motoristadoônibusestima".
Pessoas pagam meus serviços para "autoconhecimento", eu explico que só posso fazer terapeutaconhecimento. Se faço parte do processo, não é mais auto.
"Mas o certo não é viver além disso? dos outros, das coisas, do que fazem?"
Bom, se você vai vestir o manto de zen, subir na montanha e meditar apoiado no dedão do pé pode até ser, mas a vida não é exatamente assim.
Você precisa de facas. É isso, a gente precisa disso. Facas são das ferramentas mais antigas que foram produzidas pela humanidade.
De certa forma, você é dependente de facas.
Você usa faca para cortar coisas, isso facilita sua vida e permite que você se preocupe com coisas mais interessantes.
"O meu ego não me deixa ser dependente, eu preciso ser especial além de tudo e de todos."
Aí só restam duas alternativas:
1. Ou você vai ficar maluco com isso e sai cortando e despedaçando coisas com a mão só para provar que não precisa de facas.
2. Ou ficar maluco andando com facas para cima ou para baixo só para provar que é você quem manda na faca (e, não o oposto).
Em qualquer uma das duas você já ficou maluco.
A pergunta "como eu evito que a faca abale meu senso de independência" é um paradoxo, quanto mais você agir para "quebrar" essa dependência, mais você vai agir na direção da faca desnecessariamente, mais ela vai fazer parte da sua vida, mais você vai viver em função da faca.
Você tem uma relação de dependência com o motorista do ônibus. Você precisa dele, ele precisa de você.
Coisas ruins vão acontecer. Vocês vão fazer mal um ao outro eventualmente - por mais que o nosso senso de certeza diga que nunca fazemos mal a ninguém - mas as ações de vocês estão limitadas em um campo tão estrito que não precisam nem dar bom dia um para o outro. Podem se ver diariamente por anos sem saberem o nome um do outro.
A pergunta do ego "Com todo aquele esforço pra se autoafirmar e aceitar a si mesmo você vai deixar isso passar? Você é o cliente pagando por um serviço e deixará ser ignorado?" que diz que sua AUTOestima é agir na direção do motorista gera o paradoxo da faca.
Acabou, a autoestima assim é impossível.
Se você foi lá e brigou com ele, especialmente por uma coisa boba dessas, você acabou de dizer para você que a SUA estima é determinada por ele.
E sempre foi, mas ela acabou de passar de uma relação trivial para determinar TODA a sua estima.
Virou motoristadoônibusestima.
Por isso que afetados não evoluem. Ficar brigando o tempo inteiro, se defendendo e discutindo essas picuinhas gasta energia e não permite que a pessoa faça batalhas realmente importantes. Nunca vai fazer nada de significativo para si nem para os outros, e nunca vai ter uma boa estima de si.
Quem vive com medo de ser um boboca pq "comigo não" já determinou o destino maluco de passar o dia brigando com tudo que desagrade.
Vai passar o dia carregando um trambolho de facas para cima e para baixo só para mostrar que pode. Para mostrar que é ele quem manda na faca. Complicando a própria vida ficando mais estressado e com menos energia para lidar com as coisas importantes.
Vai passar o dia em função dos outros, achando que tudo que acontece no mundo é uma ofensa a própria estima, quando na verdade, é um ego vazio.
Um ego que está desesperadamente buscando qualquer estima de qualquer um, mesmo que ruim, para poder existir. É uma pessoa que tem um senso tão vazio de autoestima não consegue lidar com trivialidades do mundo como: sol, chuva, trânsito, semáforo, barulho e opiniões alheias, problemas corriqueiros no trabalho etc.
Falta tanta estima própria que qualquer "desvalor" consome a raspa do tacho.
A autoestima é você ter percepções próprias de si mesmo (as ruins inclusas) e lidar com isso.
Uma pergunta um pouco mais apropriada nesse contexto seria:
- Porra, fiquei EU chateado, o que EU quero fazer com a minha chateação, como EU trabalho isso para EU seguir em frente com as MINHAS necessidades.
- Eu não gosto de como agi, o que posso fazer para reparar a merda que fiz ou mudar para não fazer no futuro?
Não tem Auto sem "eu". Quando coloca "ele" na frase acabou o auto, virou "alter" (o oposto de ego) virou sobre o outro, e deixou de ser sobre si.
E sim, todos temos uma DEPENDENTEDOOUTROestima, mas isso é assunto para outro texto.