A escolha do título teve a intenção de gerar um estranhamento com outro post meu recente. Já me explico.
Naquele post, eu mostrei as razões pelas quais eu estou convencido de que não é preciso muito para analisar empresas. Mostrei porque, na minha visão, basta olhar o histórico de lucros da empresa (o quadro de retorno servindo como um bom substituto para períodos maiores) e diversificar bastante. Todo o raciocínio parte da premissa de uma carteira muito bem diversificada, aliás.
Não cheguei a colocar no corpo do tópico, aliás, mas coloquei em outro comentário (já não recordo onde), que a diversificação traz outro benefício significativo, que é a inutilidade de um acompanhamento constante. As premissas para essa conclusão são mais ou menos as seguintes:
1- se a carteira está muito bem diversificada, com reserva de emergência, renda fixa, reserva de valor, ações aqui no Brasil, FIIs, stocks e REITs, além de, eventualmente, imóveis, vão demorar muitos anos até que seja a hora de aportar novamente em um ativo. Por exemplo, se o investidor tem 20 ações, 10 FII, 70 stocks/REITs, já vão 100 ativos. Mais o percentual em RF (digamos, uns 20%) e ele vai demorar cerca de 10 anos, comprando 1 ativo por mês, pra poder "completar" a carteira. Observem que não é uma diversificação absurda - a maioria dos investidores vai ter até mais. Além disso, tô desconsiderando que nesse período o investidor provavelmente vai ter que repor a RE e a reserva de valor algumas vezes. Nesse cenário, toda a carteira do investidor está naturalmente em quarentena;
2- com tanta diversificação, a participação de cada ativo na carteira é muito pequena. No exemplo anterior, cada ativo (tirando a RF) representaria 0,8% da carteira (supondo pesos iguais, claro). Por consequência, o benefício em vender o ativo, mesmo que ele pareça ter piorado, é muito pequeno, quase desprezível;
3- por outro lado, o custo de vender o ativo, caso o investidor erre na avaliação, é elevado. Ele poderia perder uma empresa que se revelaria excepcional no longo prazo;
4- por 2 e 3, vender uma empresa dificilmente é uma decisão com um bom custo X benefício. A escolha por não vender traz também outro benefício, que é evitar interferências emocionais (a nossa sardinhice entranhada) no longo prazo;
5- por 4, se o investidor acompanhar a empresa e vender não for uma opção, restaria a ele apenas colocá-la em quarentena. Mas, por 1, a carteira toda já está numa espécie de quarentena permanente entre um aporte e outro no mesmo ativo. Logo, a conclusão é de que o acompanhamento antes da data de aportar novamente no mesmo ativo é inútil, pois a única decisão possível (por em quarentena) seria inócua.
Só que, uma vez que se chega à conclusão acima (desnecessidade do acompanhamento antes do novo aporte), e tendo em vista o exposto em 1, que demoram vários anos entre um aporte e outro, então o acompanhamento é feito numa frequência tão espaçada que permite uma visão melhor da empresa, com poucas distorções de curto prazo.
Isso, somando com as conclusões do tópico anterior, foi o que me fez chegar ao método que eu uso atualmente:
1- diversificar bastante em empresas com bom histórico de lucro;
2- não vender (a não ser em caso de OPA ou se a ON perder liquidez);
3- acompanhar apenas nos aportes e realizar o acompanhamento usando *apenas* o gráfico histórico de lucro e o quadro de retorno; e
4- se eu achar que a empresa continua com valor, aporto nela. Se achar que perdeu valor, coloco em quarentena.
Vale dizer que ainda não cheguei, na prática, a implementar o 3 e o 4, pois não terminei de "completar" minha carteira. Como falei ali em cima, são 10 anos ou mais até isso acontecer. No meu caso, mais, pois minha carteira é bem mais diversificada que aquilo.
Pois bem, isso foi apenas pra complementar o tópico anterior e concluir meu raciocínio por completo. Entremos no tema do tópico atual.
-------------------------------------------
A grande questão é que, em um tópico aqui, o Eduardo me chamou a atenção pra alguns aspectos, algumas interpretações que poderiam estar sendo feitas sobre o que eu falei. Diante disso, achei por bem explicar o que eu NÃO quis dizer:
1- Eu NÃO disse que fazer análises detalhadas é inútil para todas as pessoas.
Todo o tópico defendeu que análises detalhadas não são absolutamente necessárias para investimento em valor diversificado. Ou seja, um investidor amador PODE, se quiser, investir fazendo uma análise muito simples, na verdade, tão simples quanto olhar o gráfico histórico de lucros (além de outras questões pressupostas, como se a empresa tem ON com liquidez). Fazer isso traz certas vantagens específicas, sobre as quais já falei no outro tópico.
Ocorre que algumas pessoas poderiam interpretar, a partir disso, que eu defendi que fazer análises detalhadas é errado. Eu NÃO disse isso. Na verdade, em comentários naquele tópico eu falei justamente o oposto.
Investir não é apenas investir. Investir é *aguentar* continuar investido ao longo de décadas. Ou seja, investimento é, mais do que racional, psicológico. A tranquilidade é pressuposto para conseguir fazer B&H.
Só que o grande ponto da tranquilidade é que ela é subjetiva. Vai ter gente que não vai aguentar investir sem analisar vários indicadores (quantos e quais será, igualmente, subjetivo). Vai ter gente que não vai investir em estatal, que não vai investir em empresas desse ou daquele segmento, que não vai investir em empresa endividada, assim por diante. Há todo um espectro de critérios inteiramente subjetivos. Aliás, a própria necessidade de que a ação seja ON é subjetivo - tem gente aqui que investe em UNIT, por exemplo.
Nada disso é errado. Errado é querer seguir o meu método, o método de sei lá quem, e não conseguir porque não tem autoconhecimento suficiente e começa a ficar com pânico.
O meu ponto não foi o de querer dizer a sei lá quem o que fazer. Meu ponto foi de mostrar à comunidade a minha perspectiva, com o intuito de contribuir com a reflexão. Algumas pessoas vão se identificar mais com o meu pensamento, outras vão se identificar menos. Isso é natural e inteiramente pessoal.
O meu ponto principal foi o de mostrar que a análise detalhada não é o único caminho e que escolher fazer análises mais simples ou mais detalhadas é, no fundo, uma opção *psicológica*. Analisar case, vantagem competitiva, esse ou aquele indicador, etc não é *objetivamente* necessário. Será, no máximo, *subjetivamente* necessário, na medida em que contribui para a tranquilidade desse ou daquele investidor. E que a opção por análises mais detalhadas deve ser feita de maneira informada, para que o investidor se policie para evitar os riscos específicos dessa abordagem, sobre os quais falei no outro tópico.
2- Eu NÃO disse que é errado fazer discussões detalhadas aqui nesse site (ou em qualquer canto).
Como consequência do 1 logo acima, é óbvio que discussões mais detalhadas poderão ser importantes pra outras pessoas, que têm tanto direito quanto eu de participar dessa comunidade.
Eu espero que isto fique claro: quando eu comento que não precisa fazer análises detalhadas, minha intenção JAMAIS será silenciar o debate ou seja lá quem for. Nada é mais contrário ao meu feitio e aos meus princípios. Um comentário como esse deve ser interpretado como a MINHA análise, que é pela não-análise. A intenção é oferecer minha visão, para que quem leia tenha uma perspectiva diferente e possa chegar às próprias conclusões. A ideia é contribuir, SOMAR, nunca subtrair.
Se alguém, em algum momento, interpretou diferentemente, peço minhas mais sinceras desculpas pela falha de comunicação.
-----------------------------------------
Enfim, era isso. Dessa vez ficou um textão especialmente gigantesco, espero que tenha cumprido a finalidade.
Abraços e, se foi o caso, perdão novamente.